O Grupo Ativistas em Tratamento (GAT) defendeu, esta segunda-feira, que os cuidados de saúde primários devem disponibilizar testes às hepatites, à semelhança do que já acontece para doenças sexualmente transmissíveis como a clamídia e a gonorreia.
“Se calhar pressionados pelas notícias muito alarmistas das infeções sexualmente transmissíveis, e a hepatite B é uma infeção sexualmente transmissível, pela primeira vez os rastreios da clamídia e da gonorreia podem ser feitos nos cuidados primários de saúde. (…). É óbvio que a mesma coisa deve acontecer com a hepatite B e com hepatite C”, afirmou Luis Mendão, do GAT.
Sublinhando a urgência de ter estes testes nos cuidados de saúde primários, o responsável lembrou que Portugal é um país de imigração e que muitos imigrantes vêm de zonas onde a hepatite B é endémica e deveriam ser acompanhados de perto nos cuidados de saúde primários.
“Temos de assegurar que rastreamos e diagnosticamos as pessoas nascidas fora de Portugal que têm hepatite B, que as tratamos e aquelas que não estão infetadas que sejam vacinadas, mesmo já em adultos”, disse o responsável, considerando que a este nível há “um enorme atraso”.
Apontou a falta de “uma política consistente de rastreio e vacinação dos adultos em risco”, frisando que esta questão deve ser “uma prioridade” para que se consiga atingir os objetivos fixados na área da hepatite B.
Os responsáveis do Programa Nacional para as Hepatites Virais, da Direção-Geral da Saúde, já tinham chamado a atenção para este problema, com o relatório divulgado no ano passado a apontar para um ligeiro aumento de internamentos por hepatite B crónica, justificando com o aumento da migração forçada associada a conflitos armados e insistem no rastreio.
Segundo o relatório, divulgado em julho, os internamentos por hepatite B crónica passaram de 17 em 2021 para 21 em 2022. Os autores alertam que tal pode ser explicado com o “aumento significativo” da migração associada a guerras em países onde a prevalência de hepatites virais B e C é muito elevada.
Na altura, o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, apelou aos médicos de medicina geral e familiar que seguem esta população para pedirem o teste da hepatite B, C e HIV.
Esta segunda-feira, em declarações à Lusa, voltou a insistir na necessidade de incluir nas análises de rotina uma análise ao fígado: “Hoje em dia quase toda a gente que vai ao médico faz análises, por uma razão ou por outra, portanto, é incluir. Pensar que existem pelo 100.000 portugueses que podem ter estas três doenças”, afirmou.
Por seu lado, Luis Mendão destacou o importante papel que as organizações de base comunitária com estas populações.
“As organizações que trabalham com estas populações têm um papel fundamental de criar confiança e de promover junto dos líderes daquela comunidade a oferta de rastreio”, disse o responsável, acrescentando: “o envolvimento de organizações de base comunitária, enquadradas pelas universidades e pelos especialistas em saúde pública, é determinante para resolver o problema, mas estas não podem substituir a ausência de uma política nacional”.