Emiliano Sala morreu há mais de cinco anos, em janeiro de 2019, quando a avioneta em que viajava de Nantes para Cardiff caiu no Canal da Mancha. O avançado de 28 anos tinha acabado de se transferir de França para o País de Gales e ia jogar na Premier League, mas acabou por ser vítima de uma tragédia que já teve disputas judiciais, condenados e discussões prolongadas. E o assunto promete continuar.

Mais de cinco anos depois da morte de Emiliano Sala, o Cardiff está agora a recorrer à Inteligência Artificial para procurar ser recompensado pela contratação que nunca aconteceu. De recordar que o clube galês teve de pagar os 17 milhões de euros da eventual transferência ao Nantes, numa decisão em que a FIFA considerou que os franceses não tinham qualquer responsabilidade em relação ao acidente e já tinham terminado as negociações, pelo que agora pretende amortizar a mesma despesa.

Quase três anos depois, um condenado pelo acidente de avião de Emiliano Sala: organizador do voo com pena de 18 meses de prisão

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De acordo com o jornal L’Équipe, o Cardiff entrou com uma queixa formal no Tribunal Comercial de Nantes e exige 120 milhões de euros como recompensa pelo facto de ter descido de divisão nessa mesma temporada, caindo da Premier League para o Championship no verão de 2019. O clube baseia a argumentação na análise do Analytics FC, uma empresa de Inteligência Artificial que calculou que os eventuais golos do avançado argentino teriam aumentado em 54,2% as chances de o Cardiff evitar a despromoção.

O Nantes, por sua vez, respondeu com uma outra queixa por “danos morais”, exigindo que o Cardiff seja multado. De recordar que, para além da disputa entre os dois clubes, o acidente que vitimou Emiliano Sala já culminou numa condenação: David Henderson, piloto britânico que foi originalmente contratado para pilotar a avioneta que iria levar o jogador para o País de Gales, foi sentenciado a 18 meses de prisão por ter delegado a função a um amigo sem experiência.

Henderson, de 66 anos, declarou-se culpado dois anos após ser inicialmente detido e depois de ter pedido para ser novamente ouvido na véspera do início do julgamento, que decorreu no Cardiff Crown Court, no País de Gales. O inglês, um experiente piloto de York, foi o funcionário originalmente contratado pelo Nantes para pilotar Emiliano Sala de França para o Reino Unido depois de concluída a transferência do avançado para o Cardiff. Depois de a escolha do avião ser desde logo atípica — no futebol, normalmente, os jogadores viajam de jato privado e não em pequenas avionetas como aconteceu neste caso –, David Henderson acabou por delegar a função de pilotar o argentino para um amigo.

David Henderson, piloto britânico que deixou um amigo levar Emiliano Sala para Cardiff, declara-se culpado pela morte do argentino

“Queres um fim de semana em Nantes?”, terá Henderson perguntado a David Ibbotson, o inglês que acabou por se despenhar com Sala no Canal da Mancha e a quem o piloto original pagou estadia na cidade francesa, onde este se encontrou com o jogador. Ora, Ibbotson, cujo corpo nunca foi encontrado, não estava qualificado para realizar um voo daquele calibre, já que havia deixado expirar a licença de voos comerciais dois meses antes.

Segundo o livro “The Killing of Emiliano Sala”, do jornalista Harry Harris, David Ibbotson era um experiente paraquedista, o que abre a porta à possibilidade de o piloto ter saltado do avião antes da queda. David Henderson, esse, chegou a ser dado como morto logo depois do acidente — precisamente porque se achava que era ele que estava a pilotar a avioneta — mas acabou por revelar numa publicação no Facebook que não era ele, mas sim um amigo, que estava com Emiliano Sala.

A pequena e frágil avioneta em que Emiliano Sala viajava de Nantes para Cardiff despenhou-se no Canal da Mancha no dia 21 de janeiro de 2019. O corpo do jogador, assim como alguns vestígios do avião, só foi encontrado a 3 de fevereiro, duas semanas depois e numa altura em que os dois clubes, os antigos e futuros colegas e os antigos e futuros treinadores — lote onde se incluía Sérgio Conceição, que o treinou no Nantes — já tinham prestado as devidas homenagens. Antes ainda de ser encontrado o corpo de Sala, começaram a aparecer na comunicação social indicações de que o próprio jogador estava com receio de voar na pequena avioneta.

“O avião parece que está a cair aos pedaços”. A última mensagem de Emiliano Sala antes de descolar