O antigo Presidente do Uruguai José Mujica, conhecido como “Pepe” Mujica, de 88 anos, anunciou esta segunda-feira que foi diagnosticado com um tumor no esófago.
Numa conferência de imprensa convocada especialmente para o anúncio, Mujica, figura histórica da resistência à ditadura militar no Uruguai e líder do Movimento de Participação Popular, explicou que a doença é “duplamente complexa” devido a uma doença do sistema imunitário de que sofre há 20 anos e que pode limitar as opções de tratamento.
“Quero transmitir-vos que, durante a minha vida, o ceifador andou mais do que uma vez a rondar a minha cama”, disse, referindo-se à figura da morte.
“Mas ele continuou a pastorear-me todos estes anos. Certamente, por razões óbvias, desta vez parece-me que venho com a foice em punho. Vamos ver o que o que aconteceu”, acrescentou, durante a conferência de imprensa, citado pelo El País.
Àquele jornal espanhol, a médica pessoal de Mujica, Raquel Pannone, explicou que o diagnóstico é recente e que só agora começaram os estudos clínicos. “Mas é ele o paciente e decidiu comunicá-lo. Vamos ter mais dados nos próximos dias, quando tivermos os resultados dos estudos que estamos a fazer”, disse.
A responsável clínica disse ainda que Mujica “está bem, com ânimo, com vontade, a fazer as suas coisas, sem dores” — e acrescentou que um eventual tratamento como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia dependerá sempre da circunstância específica de cada paciente.
“Pepe” Mujica foi Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Nascido em 20 de maio de 1935, teve um papel fundamental na resistência à ditadura militar argentina (que terminou em 1985), o que o levaria a passar mais de uma década na prisão.
Depois da queda da ditadura, Mujica ocupou vários cargos políticos, incluindo deputado e senador, logo a partir da década de 1980. Foi ministro da Agricultura (2005-2008) e chegou à presidência do país em 2010. Já depois do mandato presidencial, foi senador até 2020.
Uma das figuras de referência da esquerda latino-americana, Mujica nunca deixou de ser também agricultor — e continua, até hoje, a trabalhar no campo. Garante que irá continuar a fazê-lo “enquanto aguentar”.
Durante a conferência de imprensa desta segunda-feira, Mujica adotou um tom mais emotivo e pessoal para deixar uma mensagem às novas gerações de uruguaios.
“Lutem pelo amor, não se deixem enganar pelo ódio. Se forem apanhados pelas drogas, não fiquem sozinhos, ninguém se salva sozinho. Peçam ajuda, lutem. A única liberdade está na cabeça e chama-se vontade. Se não a usamos, não somos livres“, disse.
“A vida é bela, mas gasta-se e acaba-se. O ponto essencial para triunfar na vida é recomeçar a cada queda”, disse ainda.