Uma vitória para os socialistas, mas que podem não conseguir ter maioria para governar. São estes os resultados das eleições regionais da Catalunha, que tiveram lugar este domingo, e que podem levar a um impasse político.

“Ao fim de 45 anos, pela primeira vez o PSC venceu as eleições para o Parlamento da Catalunha em votos e mandatos”, afirmou o líder dos socialistas catalães, Salvador Illa, no discurso — onde destacou “as políticas do governo de Espanha e do seu presidente, Pedro Sánchez” como um dos fatores que terá levado à vitória. Sobre a política de alianças para formar governo, nem uma palavra. Até porque tudo continua em terreno incerto depois desta noite.

O líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Pere Aragonès, anunciou na noite eleitoral que o seu partido se colocará “na oposição”, deixando a possibilidade de alcançar uma maioria governativa apenas nas mãos do Partido Socialista da Catalunha (PSC) e do Junts de Carles Puigdemont. Já este desafiou a ERC a juntar-se assim para alienar os socialistas e formar um governo de “obediência claramente catalã”.

O independentista catalão Carles Puigdemont confirmou esta segunda-feira, o dia seguinte às eleições, que vai avançar com uma candidatura a presidente do governo regional da Catalunha no parlamento para tentar liderar um executivo minoritário, na sequência das eleições autonómicas de domingo por acreditar que tem condições de reunir mais apoios no parlamento do que o candidato do Partido Socialista (PSC).

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Contados os votos, o líder do PSC, Salvador Illa, é formalmente o vencedor desta eleições, depois de ter conseguido que o partido elegesse 42 deputados no Parlamento regional, ficando aquém dos 68 necessários para ter uma maioria absoluta. Conseguiria contornar esse problema se fizesse uma aliança com a ERC e o Comuns — mas os independentistas anunciaram esta noite que, para já, se demarcam dessa solução.

O Junts de Carles Puigdemont surge logo a seguir aos socialistas, atingindo 35 mandatos. A ERC, que nas últimas eleições foi o partido independentista mais votado, foi claramente ultrapassada pelo Junts, ao conseguir apenas 20 deputados.

À direita, o Partido Popular (PP) conseguiu manter a vantagem sobre o Voxe assumir-se como maior partido da direita: conta agora com 15 deputados, face aos 11 do partido da extrema-direita.

O Comuns Sumar (representação catalã do Sumar de Yolanda Diaz) alcançou 6 deputados, enquanto a CUP (extrema-esquerda independentista) segurou quatro deputados. A extrema-direita independentista, Aliança Catalana, entrou pela primeira vez no Parlamento catalão, onde contará com 2 deputados. Quem ficou de fora foi o Ciudadanos, pela primeira vez desde 2006.

Aliança PSC e Junts, novas eleições ou um governo de independentistas?

Aritmeticamente, tendo em conta os resultados finais, os socialistas têm números suficientes para formar uma coligação para governar que corresponda à “maioria de esquerda” que Illa tem defendido na campanha: uma aliança entre PSC, ERC e Sumar.

A Esquerda Republicana, parceiro favorito dos socialistas, já estava mergulhada num debate interno sobre se deve manter o rumo de colaboração com os socialistas em troca de vantagens autonómicas, que tem tomado a nível nacional, ou se, por outro lado, deverá aliar-se a Puigdemont e potencialmente radicalizar a questão da independência na região. Esta noite, para já, o atual líder optou por saltar fora e deixar a responsabilidade de formar governo na mão dos dois partidos mais votados.

Pere Aragonès usou o discurso na noite eleitoral para rejeitar ambas as hipóteses, dizendo que o partido se colocará “na oposição”: “A ERC assumirá a vontade da cidadania e trabalharemos para continuar. Fá-lo-emos a partir da oposição”, disse, deixando nas mãos de “PSC e Junts” uma solução de governo.

Aragonès justificou a decisão de não formar uma aliança com os socialistas por considerar que “a via da negociação”, que tem sido aplicada com o PSOE a nível nacional, “não tem sido avaliada suficientemente bem pela cidadania” na Catalunha. “É a vez de outro liderar uma nova etapa”, declarou.

Em negociações muito pode acontecer e o discurso do líder da ERC parece apontar mais para a radicalização do que a conciliação com o PSOE de Sánchez. Aritmeticamente, é possível formar uma maioria independentista que exclua o PSC, com Junts, ERC e CUP, reeditando assim a formação de governo que existia aquando do referendo à independência de 2017. Foi a isso mesmo que apelou na noite eleitoral o líder do Junts, Carles Puigdemont, desafiando a ERC a descartar uma aliança com os socialistas e optando antes por “construir um governo sólido de obediência claramente catalã”.

Sánchez promete “nova era na Catalunha”

Quem reagiu rapidamente aos resultados foi o líder do PSOE e presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, que aplaudiu o “resultado histórico” dos socialistas nas eleições regionais da Catalunha, que venceram, mas longe da maioria absoluta, considerando que abre “uma nova etapa” para “melhorar a vida dos cidadãos” na região.

Numa mensagem publicada na rede X, o presidente do Governo espanhol felicitou o líder do Partido Socialista da Catalunha (PSC), Salvador Illa, por “este histórico resultado conseguido na Catalunha”.

“Os socialistas voltam a ser a primeira força. A partir de hoje, começa uma nova era na Catalunha para melhorar a vida dos cidadãos, alargar os direitos e reforçar a convivência”, declarou Sánchez.

O líder socialista escreveu ainda, em catalão: “A Catalunha está preparada para concretizar um novo futuro e para viver um tempo de esperança”.