O presidente do conselho de administração da RTP diz que a estação televisiva não tem provas que apontem para “boicote” da participação portuguesa na final da Eurovisão com a publicação tardia do vídeo da atuação de Iolanda no YouTube. Nicolau Santos adianta, porém, que a RTP vai “tentar perceber” o que aconteceu e se detetar “discriminação” avançará com um “protesto formal”.

Na final de sábado, Iolanda Costa, a representante de Portugal, atuou com as unhas pintadas com as cores da bandeira palestiniana — já antes, no desfile das bandeiras, tinha voltado a usar um vestido de uma marca palestiniana — e, no final da atuação, fez um apelo à paz, ao dizer que “a paz vai prevalecer”. Nicolau Santos indicou à Rádio Observador que não tem indicação de que esses elementos — bem como a maquilhagem de Iolanda que, segundo admite, pode remeter para as mulheres palestinianas — possam ter levado a um atraso deliberado da publicação da atuação da artista no YouTube.

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Como o Observador escreveu, o vídeo foi colocado no YouTube mais de uma hora depois da atuação. A publicação não é imediata, costuma demorar alguns minutos após as performances, mas no caso de Iolanda o atraso foi maior em relação aos restantes concorrentes.

Portugal cantou depois da Finlândia, mas 25 minutos após ter sido divulgado o vídeo finlandês, a atuação de Iolanda ainda não tinha sido publicada. Pouco depois foi publicado o vídeo da Arménia, que cantou a seguir a Portugal. A atuação portuguesa só viria a ser colocada no YouTube depois de terem sido divulgados os vídeos das sete atuações que sucederam à performance de Portugal.

Nicolau Santos adianta que a RTP — que faz parte da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla original), que organiza o festival — está a “tentar perceber o que é que aconteceu, se [o atraso] foi por razões técnicas ou qualquer outra razão”.

“Não tenho neste momento informações que me permitam dizer se houve alguma ação deliberada para isso acontecer ou não”, afirmou, acrescentando que se detetar provas de discriminação, “claro que apresentaremos um protesto formal“.

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O presidente do conselho de administração da RTP não considera que esse atraso na divulgação do vídeo tenha prejudicado a votação em Iolanda, salientando que a artista recebeu a pontuação máxima do júri de países vistos como uma referência musical, como o Reino Unido ou França (além da Croácia).

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A informação não foi confirmada oficialmente pela EBU e, por isso, Nicolau Santos diz que já questionou a Eurovisão sobre o rumor que dá conta de que a organização usou um “sistema antiapupos”, ao adicionar à transmissão televisiva aplausos falsos para abafar os apupos que se ouviram na Malmo Arena durante e após a performance da representante israelita.

“Para uma organização como a EBU, e para uma organização como a RTP e o serviço público de media da Europa que tem como bandeira o combate às fake news, à desinformação, à manipulação de informação, é inaceitável que seja possível” a “utilização de um método que altera a realidade“, critica.

Nicolau Santos defende uma discussão sobre o “peso da votação do público” — porque “não há controlo” sobre a possibilidade de saber se uma pessoa votou mais do que uma vez; porque as chamadas, sendo pagas, “beneficiam quem tem mais dinheiro”; e porque Israel ‘saltou’ para o topo com os votos do público, uma vez que não ficou bem classificada com os votos do júri. “O voto foi político e não teve em conta a qualidade da canção” de Israel, considera, pedindo uma reflexão sobre o assunto pela comissão executiva do festival.