Em maio de 2021, quando o Sporting encerrou um jejum de 19 anos sem conquistar o Campeonato (o maior de sempre do clube), a marca indelével de Pedro Gonçalves no sucesso da equipa de Rúben Amorim prendia-se essencialmente com os golos. O avançado marcou 23 vezes na Liga, recebeu o prémio de melhor marcador da competição e era o goleador de serviço em Alvalade. Em maio de 2024, a história é diferente.

Com a contratação de Paulinho ainda em janeiro de 2021 e a óbvia chegada de Gyökeres no verão passado, Pedro Gonçalves teve de assumir um papel diferente nos leões. Integrado quase sempre no trio ofensivo, a par do próprio Gyökeres e de Francisco Trincão, o jogador português não deixou de ser a solução para complementar o meio-campo quando era preciso encontrar alternativas táticas: para Paulinho entrar, Pedro Gonçalves não tinha de sair, limitava-se a recuar no terreno.

O jogador de 25 anos acabou por cumprir a temporada mais completa desde que chegou a Alvalade. Com 18 golos marcados, continua a ter uma influência óbvia na capacidade goleadora da equipa de Rúben Amorim. Com 15 assistências, o número mais elevado desde que está no Sporting, deixa claro que é o principal criador das oportunidades leoninas. Com o entendimento acima da média com Gyökeres e Trincão, ajudou o treinador a evoluir na continuidade e a melhorar dinâmicas que são executadas há já quatro anos. Com bola ou sem bola, Pedro Gonçalves é o elemento mais identificado com as ideias de Amorim e uma espécie de musa inspiradora do mestre.

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“O Pote tem características diferentes das do Morita e do Daniel Bragança e temos de usar essas características. A capacidade física de ele conseguir ir à frente e atrás é bastante potente e depois joga praticamente como um ala, um médio centro que também é ala. E cria dificuldades, principalmente em blocos baixos. Não tem nada de mais. É simplesmente olhar para o jogador que temos, as características que queremos e lançá-lo num lado ou no outro para criar essa superioridade, para tornar difícil a marcação de todos os jogadores”, explicou o treinador leonino em janeiro, depois da vitória em Chaves, num jogo onde Pedro Gonçalves foi titular no meio-campo e até marcou um golo.

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O momento mais complicado da temporada apareceu em março, quando se lesionou no lance em que marcou um golo à Atalanta e esteve de fora praticamente um mês – período que fez com que também não fosse à Seleção Nacional, já que iria ser convocado por Roberto Martínez para os particulares contra a Suécia e a Eslovénia. O jogador deixou o relvado em lágrimas no momento em que se lesionou e foi percetível que entendeu ali que o sonho que alimentava de regressar à Seleção seria novamente adiado.

Pote foi o 50.º estreante pela mão de Fernando Santos. “Jogo serviu para o que queria”, disse o selecionador

“Tenho sempre a esperança de chegar à Seleção, mas não penso muito nisso. Penso em ajudar o Sporting e aí talvez tenha uma oportunidade”, tinha dito em novembro. Pedro Gonçalves esteve no Euro 2020 ainda com Fernando Santos, apesar de não ter cumprido qualquer minuto, e não é convocado desde agosto de 2021, altura em que também acabou por falhar a chamada por lesão. Depois de uma época muito positiva, que vai terminar num claro bom momento de forma a nível desportivo e psicológico, o jogador leonino volta a alimentar o sonho: e estar no Euro 2024 é um objetivo claro.

Com o alargamento das convocatórias para o Campeonato da Europa, que vão contar com 26 elementos, Pedro Gonçalves está incluído num lote de jogadores menos regulares no grupo de Roberto Martínez que podem acabar por ser chamados – em conjunto com Francisco Trincão, Francisco Conceição ou até Jota Silva, que esteve na última lista. Certo é que, com a temporada mais consistente e global desde que chegou ao Sporting, Pote pode voltar a sonhar.