O Espaço Humanus, um projeto da Cáritas Diocesana de Vila Real, abre-se todas as semanas para os reclusos do estabelecimento prisional local realizarem trabalhos manuais e terem apoio psicossocial, promovendo a reinserção social.

O encontro acontece uma vez por semana naquela cadeia, mas esta quinta-feira o dia foi especial. Houve eucaristia presidida pelo bispo de Vila Real, António Azevedo, que foi acompanhada por reclusos e um grupo de visitantes da Comunidade de Prática (CdP) Prison Justice da Cáritas Europa.

Albertino, de 42 anos, foi um dos reclusos que participou no coro que cantou nesta celebração religiosa. “Preparámo-nos durante três semanas”, contou à agência Lusa.

Em prisão preventiva há 20 meses e a aguardar o desfecho do julgamento num caso de tráfico de droga, encontrou no Espaço Humanus uma lufada de ar fresco.

“Primeiro ficava muito na cela, isolava-me muito e foi uma iniciativa que me levantou a moral”, garantiu.

Ali, referiu, falam sobre empregabilidade e fazem trabalhos manuais, exemplificando com as cruzes feitas no ateliê e oferecidas aos visitantes.

Artur tem 36 anos, está há um ano e meio na cadeia também por causa de um caso de droga e disse que as colaboradoras da Cáritas o ajudam a sentir-se “mesmo bem”.

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“O meu tempo aqui tornou-se menos pesado pela presença delas”, afirmou.

Dentro do Espaço fala-se sobre currículos, sobre comunicação, que comportamento adotar ou roupa vestir na hora de procurar emprego, trabalha-se a capacidade de encontrar um posto de trabalho, mas também de se manter nele e aprende-se a gerir emoções.

É um projeto que visa a reinserção de pessoas com problemas ligados ao consumo de álcool ou drogas.

Desde 2016 que Dália Carriço ali trabalha competências de empregabilidade e Mónica Cruz dinamiza um ateliê onde se fazem trabalhos manuais ou jogos.

“Oferecemos sempre um espaço de liberdade onde eles também possam trazer as suas preocupações, inquietações, as suas angústias e, muitas vezes, as suas revoltas (…) Estamos cá com o objetivo primordial e que, no meu entender, tem de ser a base de toda a reinserção que é humanizar”, referiu.

Também se descobrem talentos e olha-se para além das grades, fornecendo ferramentas úteis que possam ser utilizadas lá fora.

“Neste ateliê damos espaço a cada pessoa para que explore os seus talentos. Nós trazemos um bocadinho de humanismo e dignidade à pessoa, independentemente do seu percurso”, salientou Mónica Cruz.

O projeto é da Cáritas, instituição ligada à Igreja Católica, mas é aberto a todos e o apoio pode estender-se para lá das portas da cadeia.

O grupo de visitantes percorreu os espaços do estabelecimento, entre celas, recreio ao ar livre, biblioteca, refeitório e ginásio, e assistiu à eucaristia.

“Para os que estão cá é um momento para sentirem que também são igreja, não estão esquecidos, e, por outro lado, para nós sentirmos que a sua situação não nos pode ser indiferente. Nós temos a missão de acompanhar, de ajudar, sobretudo, porque são situações difíceis, mas que permitem à pessoa repensar o seu futuro e esse processo tem que ser acompanhado”, referiu, no final, o bispo António Azevedo.

A CdP Prison Justice da Cáritas Europa realiza, entre quarta e sexta-feira, o seu encontro anual em Vila Real para, precisamente, conhecer o Espaço Humanus e o estabelecimento prisional.

“Este projeto é importante por causa da proximidade e da abertura da prisão em nos receber e do acompanhamento que é feito aos reclusos”, destacou Henrique Oliveira, da Cáritas Diocesana de Vila Real, que realçou que o “ser preso não é uma identidade”, mas um “momento no seu percurso”.

O responsável referiu ainda que os colegas europeus ficaram admirados pela forma como a direção do estabelecimento abriu as portas aos visitantes, o que disse que não acontece em outros países. Neste encontro estão representantes da C da França, Alemanha, Espanha, Moldávia, Lituânia, Portugal e Bélgica.

A CdP fomenta o conhecimento sobre os direitos e as condições de vida das pessoas em privação de liberdade e quer contribuir para a elaboração de políticas destinadas a melhor proteger a dignidade das pessoas detidas, os seus direitos sociais durante e após a prisão e a sua reintegração na sociedade.