O poeta e ficcionista português Casimiro de Brito morreu esta quinta-feira, aos 86 anos, de causas naturais, em Braga, onde residia desde 2020, disse à Lusa a filha do escritor, Silvia Brito.

O seu corpo vai estar em câmara ardente do Tanatório de Braga, no Cemitério de Monte d’Arcos em Braga, entre as 09h30 e as 11h30 de sábado. Poeta, romancista, contista e ensaísta, Casimiro de Brito tem mais de 50 obras publicadas, tendo sido distinguido com vários prémios ao longo da sua carreira literária.

Exerceu funções como vice-presidente da Associação Portuguesa de Escritores e presidente do P.E.N. Clube Português assim como da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie, e desenvolveu, durante boa parte da vida, uma intensa atividade como divulgador da poesia.

Imitação do prazer e Pátria sensível, na ficção, e Negação da Morte, Corpo Sitiado e Subitamente o Silêncio, na poesia, são algumas das suas obras.

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Nascido em Loulé, em 1938, Casimiro de Brito passou a infância no Algarve, onde estudou na Escola Industrial e Comercial de Faro. Começou a publicar em 1955 reunindo uma vasta obra de poesia, romance, ensaio e fragmentos, editada em português e em trinta outras línguas, estando incluído em mais de 200 antologias em Portugal e no estrangeiro.

Em 1956, criou no jornal A Voz de Loulé uma página literária designada Prisma de Cristal, na qual colaboraram nomes como António Ramos Rosa, Gastão Cruz e Maria Rosa Colaço. Dirigiu, ainda em Faro, a coleção de poesia A Palavra, bem como diversas revistas literárias, entre as quais os Cadernos do Meio-Dia, com Antonio Ramos Rosa.

Nesta publicação, revelaram-se os poetas do movimento literário “Poesia 61”, do qual Casimiro de Brito fez parte, ao lado de Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta.

Depois disso, emigrou para a Alemanha, em finais de 1960, e estabeleceu-se em Lisboa, a partir de 1971, onde trabalhou no setor bancário.

Ganhou vários prémios, nacionais e internacionais, entre o quais o Prémio Léopold Sédar Senghor da Academia Martin Luther King e o Prémio Mundial de Haikus da World Haiku Association, assim como o Prémio Internacional de Poesia Léopold Senghor, o Prémio de Poesia Aleramo-Luzi, para o Melhor Livro de Poesia Estrangeiro, com Livro das Quedas (2004), e ainda o Prémio de Melhor Poeta do Festival Internacional Poeteka, na Albânia (2008).

Foi nomeado Embaixador Mundial da Paz (Zurique) e, em 2008, foi agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique da República Portuguesa. Em 2016, foi homenageado em Querenca pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro.

Em 2020, a sua poesia completa (até 2000) foi editada pela Glaciar. Entre 2020 e 2023 publicou, em Braga, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, oito obras inéditas (“Razões Poéticas”).

Políticos reagem à morte do poeta

O Presidente da República recordou o escritor como um militante de causas “afável, generoso e entusiasta, que encarnou uma certa ideia de poesia e de poetização de vida.”

Para Marcelo Rebelo de Sousa, a memória imediata do autor de Labyrinthus centra-se na publicação coletiva “Poesia 61”, colocando-o no “conjunto de poetas que, quase ao jeito de um manifesto, se afastavam de modos de escrever narrativos, confessionais ou sentimentais e introduziam uma renovada exigência sintática e lexical”, naquele ano de 1961.

Numa nota de pesar publicada na página da Presidência da República na internet, Marcelo Rebelo de Sousa recorda que, no início da década de 1960, “Casimiro de Brito já tinha feito jornalismo literário na imprensa algarvia, fundado uma coleção de poesia, publicado três livros e codirigido, com [o poeta] António Ramos Rosa, os ‘Cadernos do Meio-Dia'”, deixando antever a sua ação, por mais de 60 anos, em defesa das letras e em particular da poesia e dos seus autores.

O Presidente da República recorda ainda que a “obra abundante” de Casimiro de Brito, recolhida em livros como Ode & Ceia, “seguiu por caminhos diversos”, destacando “a lírica amorosa e o diálogo com as poéticas orientais”, sem esquecer os seus livros de ensaio, de aforismos e de ficção.

Militante de causas, e da sua classe […], era um homem afável, generoso e entusiasta, que encarnou uma certa ideia de poesia e de poetização de vida”, conclui Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o detentor das insígnias da Ordem do Infante D. Henrique.

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, expressou igualmente “profundo pesar” pela morte de Casimiro de Brito, lembrando o seu percurso e os diversos prémios com que a obra do escritor foi distinguida. No rol de distinções contam-se ainda o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Labyrinthus(1981), o Prémio Versilia, de Viareggio, para a Melhor Obra Completa Estrangeira, por Ode & Ceia (1985), o Prémio de Poesia do P.E.N. Clube, pelo livro Opus Affettuoso seguido de Última Núpcia (1997).