Para Mats Wilander, não existem grandes dúvidas na hora de apontar um favorito para conquistar Roland Garros: Alexander Zverev, que vem de uma importante vitória no Open de Roma, surge entre as lesões de Jannik Sinner e Carlos Alcaraz e a falta de ritmo de Novak Djokovic (que caiu agora nas meias do ATP de Genebra) e Rafael Nadal e impõe-se como o grande candidato a celebrar na terra batida de Paris.
Em entrevista ao Observador, o antigo tenista e atual comentador da Eurosport fez a antevisão ao Grand Slam francês, que arranca já na segunda-feira, e sublinhou o favoritismo do alemão. “Não vejo um jogador, para lá de Novak, Rafa, Jannik e Carlitos, que seja mais consistente. O nível baixo dele é o nível médio da maioria. Não existe outro jogador para quem seja indiferente estarem 16 graus com um bocadinho de chuva, com bolas grandes e pesadas, ou 30 graus com sol e bolas a voar pelo ar. Não sei quais são as condições indicadas para ele e acho que ele nem sequer se importa. Ganhou torneios importantes suficientes e claro, acabou de ganhar em Roma”, começou por dizer Mats Wilander, recordando depois aquele que considera ter sido o “jogo mais importante da carreira” de Zverev.
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— Roland-Garros (@rolandgarros) May 22, 2024
“Foi a derrota contra o Nadal, quando tem a lesão grave no tornozelo [meia-final de Roland Garros, em 2022]. Esse foi o dia em que ele tocou as estrelas em Roland Garros. Estava a jogar inacreditavelmente bem. A confiança que conquistou aí levou-o a acreditar que podia lá chegar um dia. Coloco-o como favorito à entrada para o torneio, tenho dificuldades em acrescentar mais alguém a esse patamar. Mas claro, há Tsitsipas, há Novak se ganhar uns jogos e ganhar confiança, há Sinner se estiver a 100%”, completou.
Em condições normais, tendo em conta a história recente, os principais favoritos seriam os jovens Jannik Sinner e Carlos Alcaraz: um, por ter conquistado o Open da Austrália no início do ano, o outro, por ser o maior talento em terra batida da atualidade. Contudo, ambos afetados por lesões nas últimas semanas e sem terem conseguido disputar as recentes finais de Roma ou Madrid, nem o italiano nem o espanhol parecem estar nas condições ideais para lutar por Roland Garros. Algo que Mats Wilander, apesar do favoritismo de Zverev, diz significar pouco.
“A diferença entre Sinner ou Alcaraz ou Djokovic e os outros é que esses tipos são enormes campeões. O Sinner vai ganhar mais seis ou sete Grand Slam, o Alcaraz a mesma coisa. E eles não se tornam enormes campeões quando conquistam esses seis ou sete Grand Slam, eles são sempre enormes campeões de ontem, de hoje e de amanhã. E o Sinner provou, no Open da Austrália, que já é ou que está prestes a tornar-se um enorme campeão. Tem a ver com a força mental, com a confiança neles próprios, com o conhecimento do próprio jogo, das circunstâncias. Têm noção de que não têm jogado tanto, daquilo que têm de fazer para ganhar ritmo, do adversário que vão enfrentar. Conhecem o próprio jogo melhor do que ninguém e nunca podem ser descartados, porque têm vontade e têm sempre uma possibilidade”, explicou o sueco.
Dentro dos dois nomes que sobram dos Big Three, Novak Djokovic ainda não venceu qualquer torneio em 2024 e Rafa Nadal voltou recentemente de uma lesão que o afastou dos courts durante mais de um ano — deixando subentendido, mais do que uma vez, que a atual temporada será a última da carreira. Ainda assim, não deixa de ser Nadal e Roland Garros, uma história de amor que conta com 14 triunfos do espanhol em Paris e que permite acreditar que, a qualquer momento, pode acontecer magia.
Para Mats Wilander, o destino de Nadal no Grand Slam francês vai depender muito do sorteio. “Ele não quer apanhar o Zverev ou o Tsitsipas ou alguém do género na primeira ou na segunda ronda. Se conseguir um sorteio bom, algo que será crucial, consigo imaginar que vai jogar muito bem, chegar aos quartos de final e não conseguir continuar a partir daí. Isto é uma maratona para ele e ele não vai conseguir completar a maratona, pela forma como joga, por tudo o que lhe aconteceu. Não é fácil manter a energia dentro dele e ganhar jogos”, sublinhou, recordando que o estilo de jogo do espanhol torna ainda mais difícil a consistência a um nível tão exigente.
“Era mais fácil para o Roger Federer, pelo serviço, mas o Nadal tem de lutar, lutar, lutar. Consigo imaginar que tem mais 15 horas de ótimo ténis em terra batida dentro dele e depois a fadiga vai aparecer. Vai ser muito bom no início, até tecnicamente, vai ganhar confiança, mas a cabeça e o coração dele têm mais vontade do que o corpo”, acrescentou o antigo tenista.
No quadro feminino, Iga Swiatek procura a terceira vitória consecutiva em Roland Garros depois de não ter ido além da terceira ronda no Open da Austrália. A número 1 mundial tem sido dominadora na terra batida francesa e acabou de ganhar em Roma e Madrid, partindo para o segundo Grand Slam do ano como derradeira favorita. Para Mats Wilander, a tenista polaca só terá de se preocupar com ela mesma na corrida até à final.
“A única tenista que pode parar a Iga Swiatek é a Iga Swiatek. Existe a Iga que ninguém consegue travar, que até pode não jogar muito mais do que tu, mas não comete erros, não permite que chegues perto. É demasiado rápida, tem aquela direita com muito spin que te mantém afastado, como o Muhammad Ali fazia no boxe. Essa Iga é imbatível. Depois existe a outra Iga, a Iga gémea, que coloca demasiada pressão nela própria, que quer ser perfeita, que começa a pensar que não está a jogar o suficiente. A única tenista que pode parar a Iga Swiatek é a Iga Swiatek a querer perfeição desde o início do torneio. Acredito que pode jogar a 80% e continuar a ser a grande favorita”, explicou.
Por fim, Mats Wilander deixou algumas palavras sobre João Sousa, tenista português que considera “uma lenda” e que terminou a carreira já este ano, no Estoril Open. “Sempre jogou com muita energia, com muita atitude, mesmo sem ser um tipo grande com uma pancada muito forte ou um serviço incrível. Tinha de lutar, lutar e lutar. E era difícil para ele vencer os melhores tenistas do mundo, mas normalmente ganhava todos os jogos contra adversários que estavam atrás dele no ranking. É um enorme exemplo de alguém que levou a paixão o mais longe possível com muito trabalho, com uma grande atitude e com vontade de aprender e ser cada vez melhor. Nunca fez maus jogos. Nunca foi imbatível, mas nunca fez maus jogos. E o mais importante: no ténis, podes ser de qualquer tamanho, grande, pequeno, alto, baixo, e ele é um grande exemplo de alguém que era um ser humano de estatura normal que jogava bem em qualquer superfície”, terminou.
O último capítulo de João Sousa, o melhor de sempre que podia ter sido tudo e escolheu ser tenista