A perceção dos utentes sobre a qualidade dos serviços prestados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) piorou em 2023 na maioria dos indicadores, com os tempos de espera a agravarem-se, mas a facilidade de marcação e admissão a melhorar.

Segundo o índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela NOVA Information Management School (NOVA IMS), que serão esta terça-feira apresentados, a perceção da qualidade dos serviços e dos tempos de espera em unidades de saúde continua a ser o principal ponto fraco (caiu para 64,5 pontos) do SNS.

Outro ponto fraco, embora tendo registado melhoria, foi a facilidade de acesso aos cuidados de saúde.

Os profissionais de saúde e a qualidade da informação fornecida por estes profissionais são os principais pontos fortes do SNS na ótica dos utentes.

O índice indica ainda que as áreas prioritárias de ação no SNS devem ser a facilidade de acesso aos cuidados e os tempos de espera.

Segundo o índice, a maioria dos portugueses (74,1%) considera o seu estado de saúde atual “bom” ou “muito bom”, uma percentagem superior à registada em 2022.

Quase metade (49%) diz que o seu estado de saúde afeta negativamente a sua qualidade de vida e 41% consideram que dificulta a realização de tarefas diárias (pessoais e/ou profissionais). Um em cada três diz que o seu estado de saúde dificulta a mobilidade e 38% que lhes provoca ansiedade ou depressão / dor ou mal-estar.

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Globalmente, numa escala de 0 a 100, os inquiridos avaliam o seu atual estado de saúde com uma nota de 75,3. Se a este valor fosse retirado o contributo do SNS, o indicador ficaria apenas pelos 65,9 pontos.

Globalmente, os utentes continuam a considerar o preço do SNS adequado, assim como o valor que pagam pelos medicamentos.

Os dados indicam ainda que 15% dizem que o valor das taxas moderadoras é inadequado, mas revelam que os utentes continuam a ter uma perceção do valor das taxas moderadores superior ao real.

Segundo os dados recolhidos, muitos utentes ainda pensam que se paga nas consultas com médico de família nos centros de saúde, assim como nas consultas externas de especialidade nos hospitais públicos e nos internamentos, quando na realidade esses serviços são gratuitos.

Quase todos os inquiridos (82%) tomaram em 2023 um medicamento prescrito pelo médico. Destes, 72% fazem terapia regular ou prolongada e 10% optaram por não comprar medicamentos prescritos devido ao custo, um valor inferior em 0,3 pontos percentuais ao ano anterior.

Maioria dos portugueses já ouviu falar de ensaios clínicos, 28% participavam sem hesitar

A maioria dos portugueses (79%) admite já ter ouvido falar de ensaios clínicos, dois em cada três têm opinião positiva sobre eles, mas apenas 28% participariam sem hesitação.

O Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (Nova IMS), recolheu este ano pela primeira vez a opinião dos portugueses sobre os ensaios clínicos, nos quais 28% dizem que participariam sem hesitar e metade respondeu que “talvez” participasse.

“Isso também resulta do facto de só 36% das pessoas é que dizem que têm um bom conhecimento sobre o que são os ensaios clínicos. Naturalmente, essa falta de conhecimento também induz a alguma incerteza”, explicou à Lusa Pedro Simões Coelho, coordenador do estudo.

O especialista ressalva que Portugal “não é um país que tenha tido historicamente um grande desempenho em termos de ensaios clínicos” e, por isso, “há um certo défice de conhecimento”.

“O que nós vemos é uma predisposição positiva da população, porque, de facto, quase 80% [50,5% responderam talvez], em princípio, estaria disponível para participar e os 28% que dizem que sim, sem hesitação, estarão muito próximos dos que dizem também ter um bom conhecimento sobre ensaios clínicos”, explicou o responsável.

Os dados recolhidos indicam que o estado de saúde é o fator que mais influenciaria esta decisão.

Os inquiridos disseram ainda que a Internet (60,3%) seria a primeira fonte de informação a que recorreriam para saber mais sobre ensaios clínicos.

A decisão de participar ou não está principalmente relacionada com o estado de saúde (68,6%), com os riscos associados ao ensaio (56,5%) ou com uma eventual recomendação do médico assistente (47,1%).

Os riscos e benefícios e os potenciais efeitos secundários são considerados pelos inquiridos como as informações mais relevantes a que gostariam de ter acesso antes de decidir participar num ensaio clínico.

Quase um em cada quatro (23%) consideram que os riscos são maiores do que os benefícios e um em cada três (33%) dizem que são idênticos.

Sobre as medidas para aumentar a confiança nos ensaios clínicos, apontam a divulgação de resultados de ensaios anteriores, as garantias de segurança e ética, o apoio pós-ensaio, a formação aos profissionais de saúde e a sensibilização pública.

“De facto, há uma perceção muito positiva da sociedade sobre a importância dos ensaios clínicos, sobre os seus benefícios e é um tema que deve interessar muito o país. (…) Há aqui uma grande oportunidade para um país da dimensão do nosso que importaria aproveitar”, considerou o coordenador do estudo.

A maioria dos portugueses revela confiança nas informações disponibilizadas pelos investigadores que conduzem os ensaios clínicos e no processo de regulação que os supervisiona.

De acordo com um inquérito realizado pela APIFARMA — Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica às empresas suas associadas, os ensaios clínicos trouxeram para Portugal um investimento direto de 231,6 milhões de euros entre 2019 e 2022.

Os dados deste inquérito indicam ainda que se estima que nos últimos quatro anos as empresas tenham deixado de realizar 210 ensaios clínicos em Portugal, o que representa uma perda direta para o país estimada em 33 milhões de euros.

O índice de Saúde Sustentável, que quantifica a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, é desenvolvido pela NOVA IMS, em parceria com a biofarmacêutica AbbVie e os últimos resultados deste trabalho serão apresentados esta terça-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Procura igualmente compreender os contributos económicos e não económicos do SNS, conhecer o impacto dos custos de utilização do sistema no seu nível de utilização e identificar pontos fortes e fracos, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação.