A população de Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, relatou esta sexta-feira horas de pânico na localidade devido aos receios provocados pela circulação de alegados grupos de terroristas na zona, disseram fontes da comunidade.

De acordo com os relatos, tudo aconteceu por volta das 19h (18h em Lisboa) de quinta-feira, quando os camponeses de Nambine e Namigure, distrito de Macomia, constataram a aproximação destes grupos às respetivas machambas (campos agrícolas), tendo de imediato alertado os parentes na sede distrital.

Ouvimos barulho a menos de cinco quilómetros daqui, de Namigure e Nambine, logo saímos das nossas machambas para as matas, com medo a um possível ataque“, relatou à Lusa uma fonte no local.

Acrescentou que o “pânico” agravou-se com a passagem de militares, em direção a Macomia.

“Na mesma hora, militares estavam a passar. Aí ficamos inseguros, com medo, se os próprios defensores estavam a fugir, só podes imaginar a população”, disse.

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Na sede de Macomia —  palco a 10 e 11 de maio de um grande ataque por parte destes grupos — , o relato gerou receio, com populares a procurarem refúgio nas mas matas ao redor da vila.

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“Levei os meus filhos e fomos dormir na machamba do meu irmão”, disse outra fonte, a partir de Macomia.

Outras fontes locais disseram que, desde a noite de quinta-feira, grupos de militares foram vistos a circular em quase toda a vila de Macomia, bem como em direção ao posto administrativo de Mucojo, a 40 quilómetros.

O ataque de grupos insurgentes à vila de Macomia, um dos maiores dos últimos meses, provocou de 10 a 14 de maio, quase 1.500 deslocados, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório daquela agência do sistema das Nações Unidas, que a Lusa noticiou anteriormente, os “ataques e receios de ataques” por parte destes grupos armados levaram à fuga de mais de 530 famílias de Macomia, totalizando 1.461 pessoas registadas pela OIM nos locais de destino, sendo mais de metade (57%) crianças.

O Ministério da Defesa Nacional confirmou, em 10 de maio, este “ataque terrorista”, garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro morto.

Posteriormente, fontes locais ouvidas pela Lusa confirmaram que pelo menos cinco corpos foram encontrados no regresso da população à vila de Macomia, após a saída dos grupos insurgentes da localidade —  segundo alguns relatos, com cerca de 100 homens — , mais de 24 horas depois.

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Os ataques levaram ainda à pilhagem das lojas da vila, tendo os insurgentes levado igualmente viaturas e motorizadas.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã do dia 10 de maio, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.

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É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (…). Como estão de saída, espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso“, reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.

Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

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