A canoísta internacional portuguesa Francisca Laia insurgiu-se esta terça-feira pelo facto de nenhuma atleta feminina integrar a convocatória para os Europeus da Hungria, de quinta-feira a domingo, em Szeged, falando em desrespeito pela “igualdade de género”.

“Este ano, por razões alheias à minha vontade, não participarei no Campeonato da Europa. O mais preocupante, porém, é o facto de a Federação Portuguesa de Canoagem ter decidido que nenhuma atleta feminina fará parte da competição, enquanto cinco homens representarão o país”, escreveu a desportista na rede social Instagram.

A curta seleção aos Europeus, a menos de dois meses dos jogos Olímpicos Paris2024, conta com Fernando Pimenta, Kevin Santos e as esperanças Pedro Casinha, Gustavo Gonçalves e Iago Bebiano, elementos que têm conseguido medalhas em Europeus ou Mundiais, nos escalões jovens até aos sub-23.

“Como mulher comprometida com a luta pela igualdade de género no desporto, é com profunda deceção e frustração que me confronto com uma completa exclusão de atletas femininas nesta importante prova”, lamentou Francisca Laia.

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A competidora formada em medicina revela que questionou a federação sobre o facto e que a entidade se justificou com “critérios de investimento e futuro“.

Laia entende, assim, que “é forçoso concluir que a equipa feminina não é merecedora do mesmo apoio e recursos”, pelo que diz que “este raciocínio não só é insustentável como também revela um profundo desrespeito pelo potencial e dedicação das atletas femininas”.

“Se a qualificação para o Campeonato da Europa estava condicionada à qualificação para os Jogos Olímpicos, é legítimo questionarmos: por que razão há recursos disponíveis para enviar um K4 masculino, e não para uma única atleta feminina?”, ilustrou a atleta.

Francisca Laia, olímpica no Rio2016 e que não conseguiu um lugar em Paris2024, fala em “retrocesso inadmissível” em termos de igualdade de género, prometendo prosseguir a “batalha” pela mesma, algo que entende ser sua “obrigação” enquanto atleta e mulher.

“A igualdade de género no desporto não pode ser apenas uma aspiração — deve ser uma realidade! Fica a esperança de que num futuro breve esta seja a realidade!”, conclui Laia.

Em declarações à Lusa, o vice-presidente Ricardo Machado, responsável do alto rendimento, tinha indicado que as opções para os Europeus que antecedem o momento alto do ciclo costuma ser restringido aos apurados para os Jogos Olímpicos, bem como eventuais apostas para o ciclo seguinte.

Nesse contexto, a seleção só não conta com presença feminina porque Teresa Portela, apurada para Paris2024, não vai aos Europeus por opção própria, para desenvolver um plano de treino específico, o mesmo que deixa ausentes de Szeged a dupla de campeões do Mundo João Ribeiro e Messias Baptista.