Acontece sempre, por mais que ninguém goste que aconteça. Quando começam a chegar as fases finais das grandes provas, muitas das histórias passam por aquilo que devia ser e aquilo que na verdade é. O exemplo da Dinamarca em 1992 será sempre paradigmático disso mesmo, com a equipa a treinar na sombra (reza o mito que estava tudo de férias mas o tempo mostrou que não era bem assim…) à espera de uma decisão sobre a Jugoslávia e a sair da Suécia como campeã europeia. No último Europeu, Diogo Dalot, que tinha estado na fase final do Europeu Sub-21 perdido na decisão com a Alemanha, passou da Suécia para o Dubai de férias com o amigo e companheiro Diogo Leite mas foi chamado à pressa para o Europeu A depois de João Cancelo ter contraído Covid-19. Não era suposto, acontece. E a Alemanha não fugiu também isso.

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Na antecâmara do início do Europeu, Julian Nagelsmann teve de tomar uma decisão mais de risco e cortou da lista de convocados Aleksandar Pavlovic, jovem médio de 20 anos do Bayern que já tinha ficado de fora em março nos particulares com os Países Baixos e a França devido a uma amigdalite e que voltava a padecer do mesmo problema que o colocava de fora do jogo de estreia com a Escócia. O selecionador até podia manter tudo na mesma mas não quis abdicar de ter um ‘6’ apto e acabou por chamar à pressa Emre Can aos convocados, depois da desilusão do médio em ficar de fora dos 26. A opção foi mesmo correta.

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Aos 30 anos, o experiente internacional provavelmente só queria descanso depois de mais uma desilusão. O rendimento individual está sempre presente, as conquistas coletivas nem por isso. Em 2022/23 foi a tristeza de perder uma Bundesliga em casa na última jornada a depender apenas de si, esta temporada a resignação de ir à final da Liga dos Campeões e perder diante do Real Madrid. Até em termos mentais, após ficar de fora da lista inicial de Nagelsmann, Emre Can só queria parar mas a vida deu mais uma volta quando estava numa praia no sul da Albânia com o companheiro de equipa Adeyemi (que também ficara de fora).

“Precisámos de outro ‘6’ na nossa equipa, um jogador que tivesse experiência e saiba afrontar a pressão. Foi por isso que decidimos chamar o Emre Can, cumpre na perfeição o perfil que necessitávamos”, explicara na véspera da estreia Julian Nagelsmann. Mas o melhor estava ainda para vir: chamado de recurso, o médio teve oportunidade de entrar na parte final do encontro da Alemanha frente à Escócia e fechar mesmo a goleada em período de descontos, com um remate à entrada da área que culminou um esquema tático bem trabalhado a partir de um canto na esquerda. Estava dado o mote para a melhor “integração”.

“A minha carreira na seleção nacional está muito longe de terminar. Foi uma história louca, há dois dias estava sossegado de férias… Na quarta-feira recebi uma chamada, vim logo, fiz um treino, entrei, joguei… e marquei. Estou muito feliz e agradecido ao Julian e ao staff pela oportunidade”, destacou o médio alemão de 30 anos, que já tinha estado nos Europeus de 2016 e 2020 e na Taça das Confederações de 2017, entre passagens por clubes como Bayern, Bayer Leverkusen, Liverpool e Juventus até ao B. Dortmund.