O ex-Presidente socialista François Hollande, candidato às eleições legislativas pela coligação de esquerda Nova Frente Popular, proclamou neste sábado que o “Macronismo acabou” e que não tem “contas a ajustar” com o seu antigo ministro.
“O macronismo acabou. Se é que alguma vez existiu, mas acabou (…). O que ele conseguiu, a certa altura, representar, acabou”, disse à AFP o ex-Presidente (2012-2017), candidato em Corrèze, departamento do centro-oeste de França onde foi deputado.
Afirmando que não tem nenhuma vingança a fazer, Hollande, de 69 anos, disse não ter nenhuma “hostilidade particular” contra o seu antigo conselheiro no Palácio do Eliseu e ministro da Economia (2014-2016).
“Não tenho contas a ajustar. Nada. Isso faz parte do passado”, garantiu.
Constatando a “disfunção” do sistema político, determinado a abalar a tradicional divisão direita-esquerda e sem nenhum partido estruturado a apoiá-lo, Emmanuel Macron deixou o governo em 2016 para se candidatar à Presidência no ano seguinte, que venceu contra a candidata de extrema-direita Marine Le Pen.
Por seu lado, François Hollande, que era extremamente impopular, decidiu não se recandidatar em 2017, com alguns comentadores a descrevê-lo como vítima de “parricídio” por parte do jovem Emmanuel Macron — eleito com 39 anos — e das suas ambições presidenciais.
Hollande explicou que decidiu voltar à arena eleitoral depois de Macron ter anunciado a dissolução surpresa da Assembleia Nacional, na sequência do sucesso da União Nacional (RN, na sigla em francês), de extrema-direita, nas eleições europeias.
O ex-Presidente da República disse ter-se perguntado: “O que devo fazer nestas circunstâncias em que a extrema-direita pode chegar ao poder amanhã, ou muito perto do poder, a acreditar nas estimativas, e com outro risco que é o da instabilidade, ou seja, que não surja uma maioria no dia seguinte às eleições?”
Atualmente a quarta figura política mais votada em França, Hollande diz que não tem “nenhuma” outra ambição.
“Já fui Presidente, porquê voltar a ser deputado? Não há eleições presidenciais. Qual seria o objetivo? Se eu tivesse, digamos, fixado o meu objetivo para 2027, poderia muito bem ter dito a mim próprio: ‘Vou esperar (…) para assistir ao caos e poder, eventualmente, ser um recurso’. Mas isso já não funciona”, explicou.
No entanto, Hollande acredita que não será “mais um deputado”: “(…) seja qual for o resultado das eleições, tendo em conta a minha posição e a minha experiência, serei um deputado vigilante e empenhado em encontrar soluções”.