A série “Drive to Survive” tem-se centrado sobretudo naquilo que se passa em pista na Fórmula 1. Os pilotos, os resultados das provas, a forma como todos os dados são dissecados, as conversas mais próximas ou azedas não só durante as corridas mas também em torno do paddock. No entanto, este ano de 2024 está a abrir um novo filão que pode ou não ser explorado mas que existe e acaba por ter peso naquilo que é a vida de todas as equipas: as histórias fora das competições, a projetar o futuro ou a analisar o presente tendo como base o que se vai passar a partir de 2024. E esta voltou a ser uma semana pródiga nesse particular, com mais “novelas” para adensar aquilo que poderiam ser as principais conclusões no final do Grande Prémio de Espanha.

O azar de Sargeant foi a sorte do general Max: Verstappen bate Norris e regressa aos triunfos no Canadá

A primeira foi apenas mais um capítulo de uma novela que promete dar muito que falar. Adrian Newey, o guru que tem desenhado os melhores carros com que a Red Bull tem dominado os últimos anos, está de saída da equipa e, quando todos apontavam como uma certeza a passagem para a Ferrari (com todo o impacto que isso pode ter depois na equipa), voltaram a surgir rumores de que a Aston Martin continua a dar tudo para desviar o engenheiro na sequência de uma visita feita pelo próprio a Silverstone. A outra teve a ver com um email que começou a circular nos bastidores da Fórmula 1 de alguém que deixa no ar a possibilidade de ser um funcionário da Mercedes – embora a equipa considere que é um fã – e que advoga que a equipa tem “sabotado” o carro de Lewis Hamilton, que vai sair para a Ferrari, em detrimento de George Russell.

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Verdade ou não, e a polícia estará agora encarregue de perceber o IP de onde foi enviado para perceber se o que foi escrito faz sentido mediante também a sua origem, o britânico teve um rendimento acima do que tem sido comum na primeira sessão de treinos livres, conseguindo mesmo o melhor tempo. Depois, na fase da qualificação, as coisas foram ligeiramente diferentes, embora Hamilton tenha garantido a terceira posição na grelha de partida à frente do companheiro George Russell. Mais à frente, a dupla da moda. E uma dupla que consegue mexer com aquilo que tem sido a Fórmula 1 nos últimos tempos, com Lando Norris a aproveitar a última volta da Q3 para superar por uma margem de apenas 0,020 Max Verstappen.

Para se ter noção da importância e do peso dessa conquista, esta foi apenas a segunda pole position do piloto da McLaren na Fórmula 1 depois do Grande Prémio da Rússia em 2021. Mais: olhando para as derradeiras quatro provas (Miami, Emília-Romanha, Mónaco e Canadá), o neerlandês fez 74 pontos contra 73 de Lando Norris. Quando todos apontavam para Mercedes ou Ferrari como potenciais adversários da Red Bull, foi a McLaren que conseguiu colocar o britânico a voar. E era nisso que se voltavam a focar este domingo, com a importância de um bom arranque a ser fundamental para tentar descolar (ou não) e ficar menos expostos a outros momentos da corrida como as pit stops ou as entradas em pista do safety car.

No entanto, havia um nome pronto para brilhar. Brilhar e de que maneira: quando Lando Norris e Max Verstappen lutavam pela primeira posição com o neerlandês a arriscar mesmo passar pela zona suja da pista, George Russell teve uma leitura incrível, optou pela trajetória por fora e conseguiu assumir a liderança da corrida, à frente do neerlandês e de Lando, que caiu para a terceira posição. Já Hamilton, que tinha feito a melhor qualificação, desceu a quarto, à frente dos Ferrari de Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr.. Ainda assim, não seria por muito tempo: logo na primeira curva, Verstappen conseguiu passar por fora Russell e assumiu a liderança na terceira volta, num momento que poderia ser determinante para o resto da corrida tendo em conta que Lando Norris teria de passar também o piloto da Mercedes para impedir que o campeão fugisse.

A corrida entrava depois numa fase de “estabilização”, com essa curiosidade de se perceber que papel podiam ter Oscar Piastri (oitavo) e Sergio Pérez (11.º) nas estratégias de Mc Laren e Red Bull. E isso acontecia tendo em conta o que se passava na frente, com Russell a ter dificuldades em aguentar o ritmo mas a funcionar como uma espécie de “tampão” para um Lando Norris que via Verstappen começar a ganhar uma ligeira vantagem. Na Ferrari, discutia-se ainda a manobra de Sainz Jr. para passar Leclerc na terceira volta que promete dar que falar um pouco mais nos próximos dias. Só mesmo a antecipação da primeira ida às boxes dos Mercedes permitiu que Norris chegasse a segundo, já a 4,7 segundos de distância da liderança.

Verstappen foi trocar de pneus na 18.ª volta, quando Lando parecia apostado em tentar encurtar a diferença antes da paragem, e essa passagem supersónica pelas boxes deu ao neerlandês a garantia de que ficaria na frente quando o McLaren fosse também às boxes. Era necessária outra estratégia e a mesma surgiu através das comunicações na 23.ª volta, quando a equipa falou com o britânico para explicar que tinha perdido a posição não só para Verstappen mas também para Russell e Hamilton mas que podia haver ganhos depois na segunda metade. As perdas estavam confirmadas, com Lando Norris a cair mesmo para sexto quando parou atrás de Leclerc (quarto líder da corrida), Verstappen, Russell, Hamilton e Sainz Jr.. Faltava saber o resto.

Em termos de contas, e depois de passar Sainz Jr., Lando Norris iria demorar duas/três voltas até chegar a Hamilton e depois o mesmo para George Russell. À 32.ª volta o britânico já estava em terceiro (sendo que quando abriu o DRS nem houve um esboço de reação por Hamilton na reta da meta), à 35.ª volta subia a segundo com quatro curvas fantásticas em que Russell deu tudo para aguentar mas acabou por descolar. Max Verstappen estava a mais de nove segundos mas Norris iria agora tentar mostrar o que se podia ter ganho com a tal estratégia, numa fase em que Piastri já tinha também passado Gasly e andava em sétimo mas a uma distância grande dos Ferraris. A Mercedes tentava mexer ainda na corrida, com Russell a ir “calçar” os duros, mas era na frente que estavam as atenções com cinco segundos de diferença à 44.ª volta.

Faltavam 22 voltas e a Red Bull avançou no momento das decisões, com Max Verstappen a ser o primeiro a parar para manter o “controlo” da corrida enquanto a McLaren estava num limbo entre parar logo ou deixar Lando Norris sozinho na frente a tentar o melhor possível enquanto Lewis Hamilton voava um pouco mais atrás. A dúvida era entre ganhar ou acabar em terceiro, a estratégia foi pelo seguro e o britânico parou logo nesse momento, saindo também de forma rápida para fazer a melhor volta. Foi isso que a Red Bull “avisou” pela rádio, foi a isso que Verstappen respondeu: ao saber que Lando Norris vinha com tudo, o neerlandês colocou o carro a andar o que tinha de andar, manteve a diferença acima dos quatro segundos até três voltas do fim e segurou mais uma vitória apesar da boa réplica dada pelo piloto da McLaren, a terceira consecutiva no circuito de Barcelona numa tradição que sucedeu ao domínio de Lewis Hamilton.

Com este resultado, Max Verstappen não só reforçou a liderança do Campeonato do Mundo como confirmou as boas memórias em Espanha, onde conseguiu a sua primeira vitória na Fórmula 1. E com uma curiosidade: apesar de estar na segunda posição no Mundial à frente de Charles Leclerc, algo que nunca tinha conseguido, Lando Norris assumiu na comunicação com a equipa após a corrida que tinha feito “asneira”, enquanto o piloto neerlandês deu nota de terem feito a melhor prova apesar de não terem aqui o carro mais rápido. Já Lewis Hamilton conseguiu mesmo o primeiro pódio de 2024, tornando-se o terceiro mais velho de sempre este século a terminar nas três primeiras posições depois de Fernando Alonso e Michael Schumacher.