Primeiro teste, cumprido. Teve nota artística, a melhor nota que saiu foi o resultado, no final não sobraram dúvidas de que foi superior à Croácia. Segundo teste, cumprido. Teve resultado, a melhor nota que saiu foi mesmo a artísticas, no final não sobraram dúvidas de que foi superior à Itália. Entre algumas dúvidas sobre o que poderia ser esta nova Espanha depois da era Luis Enrique, que teve um início de qualificação titubeante antes de chamar para si o apuramento com o primeiro lugar de grupos, aquilo que se viu foi a melhor versão de uma equipa que fez um upgrade ao modelo do tiki taka sem perder qualidade na posse e circulação mas a ganhar outra verticalidade e largura. Como prémio, ganhou um bilhete de passagem aos oitavos sem ter de parar na casa de partida – que é como quem diz, um jogo para o “programa novas oportunidades”.

Dia 11 do Europeu. Itália empata aos 90+8′ e deixa Croácia quase de fora, Espanha vence Albânia e faz o pleno

Um dos segredos para o sucesso da Roja passou pela consolidação de uma identidade 2.0 e a colocação dos melhores intérpretes dessa mesma ideia em campo, não sendo por acaso que houve apenas uma alteração de um encontro para o outro e por motivos físicos, com o recuperado Laporte a fazer dupla com Le Normand em vez de Nacho no eixo recuado. Agora, com a qualificação e o primeiro lugar garantidos, Luis de la Fuente tinha espaço para poder rodar a equipa com a particularidade de ter jogadores de clubes espanhóis que não costumam estar na luta pelo título mas que fizeram grandes épocas e viram esse caminho “premiado” com as chamadas de nomes como Zubimendi, Mikel Merino, Ayoze Pérez, Oyarzabal ou Álex Baena, além do mais conhecido Alejandro Grimaldo que fez com Xabi Alonso no Bayer Lervkusen a melhor temporada.

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“A segunda equipa da Espanha pode jogar a final do Europeu e ser favorita”, comentava a esse propósito o selecionador da Albânia, Sylvinho. Num encontro em que permitiu a reviravolta frente à Croácia mas foi a tempo do empate a dois nos descontos, o outsider do grupo B chegava à última jornada com a possibilidade de apuramento e a depender apenas de si, podendo até no limite ficar na segunda posição. No entanto, entre essa caminhada que teve logo no arranque o golo mais rápido de sempre em fases finais, o conjunto albanês teria de vencer aquela que foi a melhor equipa até ao momento da competição. Sobrava o orgulho da caminhada, o espírito de resiliência para superar as adversidades e levar a partida em aberto até aos últimos minutos e essa certeza de que jogar com a segunda linha da Roja não iria facilitar em nada o processo tendo em conta a vontade de jogadores menos utilizados se mostrarem para ganharem mais minutos. “Estamos contentes, pode ser que dê. Vamos tentar”, diziam com mais esperança do que realismo.

A emoção do técnico, de. lágrimas nos olhos enquanto era cantado o hino, teve prolongamento logo no início, com a dose extra de coração da Albânia a tentar anular a lei do mais forte. Durante dez minutos, a nota que saía era essa: as Águias conseguiam equilibrar o encontro, sem problemas em baixar as linhas sem bola mas tentando sempre que possível explorar as laterais para sair em transição. Depois, finito: Mikel Merino deixou a primeira ameaça para defesa de Strakosha (12′), Joselu desviou na área de cabeça ao lado (12′) e Ferran Torres inaugurou o marcador após uma assistência fantástica de Dani Olmo (13′). Não se podia resumir a partida a uma espécie de treino conjunto pela competitividade que os albaneses nunca perderam mas era evidente a superioridade da Roja, tendo Olmo como principal maestro da orquestra da bola pelo chão e Ferran Torres como o elemento de ala com maior predominância na área em comparação com Oyarzabal. Ainda assim, o intervalo chegou com Asllani a rematar forte de meia distância para defesa de Raya (45′).

O segundo tempo manteve as mesmas características, com Joselu a deixar mais uma ameaça logo a abrir de novo após cruzamento de Grimaldo (47′), mas o jogo foi depois perdendo tantos motivos de interesse com os espanhóis a baixarem a intensidade da partida e a Albânia a começar outra vez a acreditar depois de um tiro de Broja na sequência de um livre que David Raya defendeu com bons reflexos (65′). No entanto, apesar de uma vontade inesgotável de uma equipa que tem muito para crescer mas que montou uma boa rampa de lançamento para começar a ser maior e melhor, a vantagem mínima não foi alterada até ao final do jogo, que teve uma Espanha em claro défice físico apesar das alterações feitas por Luis de la Fuente.

A pérola

  • Luis de la Fuente trocou praticamente toda a equipa à exceção de Laporte (que foi substituído logo ao intervalo, para rodar o mais possível tendo em conta os pequenos problemas físicos de Nacho) mas a ideia de jogo manteve-se por completo, a identidade não foi em nada beliscada e o bom futebol surgiu de forma natural. Grimaldo mostrou que é uma alternativa válida a Cucurella, Mikel Merino também soube aproveitar a oportunidade mas Dani Olmo foi aquele artista entre todos os artistas a fazer mais vezes a diferença. Esse é o maior elogio que se pode fazer à Roja: quando tem um tridente de meio-campo com tanta qualidade que o médio do RB Leipzig começa no banco, está tudo dito. E se dúvidas existissem, aquele passe para Ferran Torres inaugurar o marcador só está ao alcance dos verdadeiros craques…

O joker

  • Ferran Torres teve uma boa entrada na equipa com a marcação de um golo de belo efeito pelo arco do remate sendo feito de pé esquerdo por um destro mas houve um outro destaque mais improvável que quase não tocou na bola mas o que fez, cumpriu: David Raya teve uma intervenção decisiva em cima do intervalo a remate de Asllani que conservou o 1-0 e voltou depois a brilhar na baliza num lance em que a equipa “adormeceu” e deixou Broja sozinho na área na sequência de um livre para nova defesa.

A sentença

  • Com este resultado, confirmou-se com algumas nuances aquilo que na teoria era projetado antes do início da fase final do Europeu: a Espanha confirmou o primeiro lugar do grupo B só com vitórias, a Albânia acabou na última posição com esse “feito” de ter conseguido um ponto diante da Croácia (e com a Itália teve esse “mérito” de manter a partida em aberto até aos últimos minutos depois de ter marcado o golo mais rápido de sempre em Europeus com apenas 23 segundos jogados contra os transalpinos).

A mentira

  • Havia mais uma vez muitas dúvidas sobre os proveitos desportivos de ter um Europeu a 24 e não 16 equipas, algo que foi “inaugurado” em 2016 e manteve-se até hoje (com a provável possibilidade de um dia ser de novo aumentado), e a Albânia surgia um pouco como exemplo paradigmático disso mesmo, sendo a seleção mais frágil do grupo em comparação com Espanha, Itália e Croácia. Em bom português, havia o risco de três “atropelamentos” numa formação com pouquíssima experiência em fases finais. Não foi isso que aconteceu, pelo contrário. E até mesmo com a Roja, a melhor equipa deste grupo B, o conjunto de Sylvinho foi inferior mas não deixou de ser competitivo e mostrar o seu futebol.