De um lado, os campeões europeus em título que têm semeado mais dúvidas do que certezas. Do outro, a seleção que parece superar-se em Mundiais e tombar em Europeus. Itália e Croácia defrontavam-se em Leipzig na última jornada do Grupo B e com um olho em Düsseldorf, onde a Albânia procurava causar uma surpresa perante a já apurada Espanha.

As situações dos italianos e dos croatas, apesar de diferente, tinha pontos de contacto. Ambas as seleções estão abaixo do nível expectável, ambas as seleções estão a tentar reencontrar-se entre o fim de uma geração e o início de outra e ambas as seleções lutam contra o favoritismo de Espanha, Alemanha ou França na hora de se autodenominarem candidatas a uma presença na final.

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No que toca a contas, depois da vitória contra a Albânia e da derrota com Espanha, Itália só precisava de um empate para assegurar o segundo lugar do Grupo B e o apuramento direto para os oitavos de final. Já a Croácia precisava de vencer para assegurar o mesmo segundo lugar do Grupo B, sendo que ainda tinha de esperar que a Albânia não fosse capaz de uma surpresa contra Espanha.

“A análise que fazemos não é só ao jogo anterior, é a todo o processo. Tivemos altos e baixos, os rapazes têm cumprido o seu dever até agora. Quando cheguei aqui, ainda tínhamos de passar pela qualificação e muitos tinham receio de que nem conseguíssemos qualificar-nos. Estamos num grupo a que chamaram Grupo da Morte e temos o nosso destino nas nossas próprias mãos contra a Croácia. É um daqueles jogos em que seremos protagonistas da nossa própria história ou personagens secundárias. Vamos ver qual seremos”, disse Luciano Spalletti, que apostava numa linha defensiva de cinco e renovava o ataque com a dupla formada por Retegui e Raspadori.

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“Não começámos bem a competição, não temos estado ao nosso nível. Estamos a conceder golos de forma demasiado fácil. No Mundial do Qatar, sofremos um golo na fase de grupos, agora já sofremos cinco em dois jogos. Não temos o Ivan Perisic na forma em que estava no Qatar… Alguns jogadores estão dois anos mais velhos e estamos a defrontar adversários difíceis. Mas acho que a grande questão é que estamos a sofrer golos muito facilmente”, explicou Zlatko Dalić, que surpreendia com Mario Pasalic no ataque e deixava Budimir no banco.

Numa primeira parte que terminou sem golos, a Croácia teve quase sempre mais bola e beneficiou da primeira oportunidade do jogo, com Donnarumma a parar um remate forte de Sucic (6′). Itália tinha alguma dificuldade para assentar no meio-campo adversário, até porque a pressão alta croata era muito eficaz, mas só precisou de uma aproximação para ameaçar o golo, com Retegui a cabecear ao lado na sequência de um cruzamento de Calafiori (22′).

O jogo acalmou a partir da meia-hora e, apesar de a Croácia liderar sempre no que toca à posse de bola, Itália era a equipa constantemente mais perigosa, com Darmian (28′) e Pellegrini (37′) a obrigarem Livakovic a intervenções atentas. Ao intervalo, estava tudo empatado: e as contas provisórias do Grupo B, com Espanha a vencer a Albânia em simultâneo, colocavam Itália nos oitavos de final e a Croácia em risco de eliminação.

Luciano Spalletti trocou Pellegrini por Frattesi ao intervalo, enquanto que Zlatko Dalić tirou Pasalic para colocar Budimir. E o estádio inteiro percebeu que esperava por um minuto específico. Ainda antes da hora de jogo, Danny Makkelie foi ao VAR e assinalou mão na bola de Frattesi na área italiana e a consequente grande penalidade: Modric falhou, permitindo a defesa de Donnarumma, mas abriu o marcador no lance seguinte (55′), finalizando uma recarga após uma intervenção brilhante do guarda-redes a um desvio de Budimir.

Spalletti reagiu com a entrada de Chiesa e a Croácia, até de forma exagerada, recuou e juntou setores para resguardar a vantagem, enquanto que Itália começava a construir já dentro do meio-campo adversário. Ainda assim, e mesmo com a entrada de Gianluca Scamacca, os italianos nunca chegaram a sufocar os croatas — mas, tal como se tinha visto no início da segunda parte, o Red Bull Arena só precisava de esperar por um minuto em específico.

Ao oitavo e último minuto de descontos, Calafiori fez mais uma das dezenas de arrancadas pelo corredor central e soltou Mattia Zaccagni na esquerda, com o avançado da Lazio a atirar em jeito e a derramar um verdadeiro balde de água fria em cima dos croatas (90+8′). No fim, Itália e Croácia empataram em Leipzig e os italianos estão nos oitavos de final do Euro 2024, no segundo lugar do Grupo B e em conjunto com Espanha, enquanto que os croatas ficaram no terceiro lugar com apenas dois pontos e dificilmente conseguirão o apuramento.

O joker

  • Mattia Zaccagni. Entrou aos 81′, marcou o primeiro golo por Itália aos 90+8′ e colocou um país inteiro nos oitavos de final do Campeonato da Europa. O avançado da Lazio tem apenas sete internacionalizações, está a estrear-se em fases finais de grandes competições internacionais, mas já ficou na história. Formado no Hellas Verona, chegou à Lazio em 2021 e desde então é figura central e principal dos onzes do clube de Roma, tendo marcado sete golos na época que está a terminar.

A pérola

  • Como não? Luka Modric pensa o jogo antes de todos os outros e soube, naquele minuto 55, que tinha de estar naquele sítio para desviar a bola para a baliza e colocar a Croácia nos oitavos de final do Euro 2024. O médio do Real Madrid até falhou uma grande penalidade, já não aguenta 90 minutos ao mais alto nível e pode ter-se despedido das fases finais da pior maneira — mas continua a ser um dos melhores jogadores do mundo. Pelo meio, com 38 anos, tornou-se o mais velho de sempre a marcar em Europeus.

A sentença

  • Com este resultado e a vitória de Espanha perante a Albânia, Itália juntou-se aos espanhóis e está apurada para os oitavos de final do Euro 2024, onde vai encontrar a Suíça. A Croácia termina o Grupo B no terceiro lugar e com apenas dois pontos, o que significa que tem poucas possibilidades de seguir em frente e ser um dos melhores terceiros classificados, num cenário que até poderia colocar os croatas na rota de Portugal na próxima fase. Por fim, com apenas um ponto, a Albânia já está eliminada do Europeu.

A mentira

  • Não, esta Croácia nunca poderia ter sido dada como morta. Apesar de dois jogos difíceis, entre o total amasso contra Espanha e ao apagão contra a Albânia, os croatas mostraram contra Itália que eram capazes de se superar no momento em que a vida dependia disso. Esta segunda-feira, em Leipzig, a Croácia jogava uma final. E acabou com um final cruel, mas sem nunca ter desistido.