O sítio histórico da Cidade Velha, em Cabo Verde, passou a receber anualmente dez vezes mais visitantes (de 6.000 para 60.000), desde que foi declarado Património Mundial da UNESCO, há 15 anos, efeméride que se assinala quarta-feira.
O “aumento exponencial” foi destacado pela presidente do Instituto do Património (IPC), Ana Samira Baessa, em entrevista à agência Lusa, de balanço do percurso como património classificado a nível internacional.
O número incluiu turistas estrangeiros, valor considerado “significativo” e que representa uma mais-valia, sem exercer pressão para o sítio histórico, disse.
Segundo Ana Baessa, os visitantes são distribuídos ao longo do ano e o grande desafio, agora, é fazer com que deixem “maior benefício” para a comunidade local.
A Cidade Velha, primeira capital cabo-verdiana, fica a 12 quilómetros da cidade da Praia e vive “um momento de viragem”, em que os investimentos vão dirigir-se mais para a requalificação urbana, depois da recuperação do património e de habitações.
O Governo cabo-verdiano, em parceria com a autarquia da Ribeira Grande de Santiago, tem em curso oito projetos, financiados pelo Banco Mundial em mais de 1,5 milhões de dólares (1,4 milhões de euros).
São projetos de melhoria de acessibilidades, criação de pontos de atração turística e cultural e promoção do empreendedorismo, apontou.
“De uma forma abrangente, vão melhorar todo o entorno da Cidade Velha para visitantes e para a própria comunidade residente”, declarou a presidente do IPC.
Todos os projetos estão alinhados com o reforço dos instrumentos de gestão e com um “plano de salvaguarda”, que será apresentado na quarta-feira, e que vai olhar para o património a preservar “em todas as suas dimensões – material, imaterial e arqueológico”.
Ana Samira Baessa considerou que outro dos ganhos nos últimos 15 anos foi a “maior apropriação” da comunidade do seu património, estando “mais consciente” do valor histórico da Cidade Velha e das oportunidades que oferece, em vários domínios.
Prova disso é que foram os próprios moradores a eleger os líderes comunitários, tornado a Ribeira Grande de Santiago o único sítio no país com representantes para cada um dos bairros.
Uma gestão mais próxima da comunidade local e que envolva outros atores, sobretudo os operadores económicos, é outro dos desafios para a Cidade Velha nos próximos anos, apontou a presidente do IPC.
A autarquia local alertou há 10 anos para o risco da perda do título de património mundial devido a construções clandestinas, mas a presidente do IPC disse à Lusa que essa possibilidade não se coloca hoje, porque as casas são feitas com base em planos.
“Estamos longe deste risco de a Cidade Velha perder o título de património mundial”, garantiu, notando que os “pequenos conflitos” com a comunidade têm sido geridos de forma “criteriosa”.
Descoberta pelo navegador português Diogo Gomes em 1460, foi António da Noli, italiano, então ao serviço da coroa portuguesa, que deu início ao povoamento da localidade, dois anos mais tarde.
Primeira capital do arquipélago de Cabo Verde, até 1770, a Ribeira Grande de Santiago, a 12 quilómetros da cidade da Praia, foi elevada a cidade em 1533, altura em que contava com cerca de 500 habitantes, um quarto dos atuais.