Uma estátua de cera de Abraham Lincoln, o 16º Presidente dos EUA, derreteu este fim de semana, em Washington D.C., quando as temperaturas atingiram os 37,7 ºC.

Primeiro derreteu a cabeça, que foi logo retirada na terça-feira para ser restaurada, mas depois seguiram-se a perna esquerda e um pé. Por fim, a cadeira começou a afundar-se.

As imagens capturadas por quem lá passava rapidamente chegaram às redes sociais, com vários internautas, uns mais ousados do que outros, a mostrarem a sua criatividade fazendo paralelismos com o atual cenário político norte-americano, menções a filmes como o “Flashdance” (1983), e comparações com tarefas do quotidiano relacionados com trabalho ou família. “Ele [Lincoln] está farto com o que está a acontecer neste país”, “Abraham Lincoln decidiu viver o seu sonho de ser ator de ‘Flashdance'”, “Eu, quando recebo um e-mail”, ou “POV: eu no meu sofá todas as noites entre a hora de dormir dos miúdos e a minha”, pode ler-se.

O autor da escultura, Sandy Williams IV, disse que a estátua deveria suportar temperaturas até aos 60ºC, mas o calor abrasador trocou-lhe as voltas, como revela o jornal The New York Times. “Sempre brinquei com o facto de que quando chegássemos ao ponto em que as temperaturas exteriores derretessem as esculturas, que o trabalho exposto se tornaria também em arte ambiental”, acreditando que, desta forma, as pessoas reflitam sobre a problemática das alterações climáticas.

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Williams também vê com bons olhos a divulgação de fotografias na internet da escultura derretida. “Quando mostro trabalhos em galerias, a população com quem estou a interagir é mais específica”, mas a “arte pública é para toda a gente” referiu, esperando que, assim, “qualquer segmento da população que o veja tenha um momento para passar mais tempo” com esse trabalho e “conhecer estas histórias mais profundas que está a tentar envolver”.

Esta é a terceira instalação pública da série “40 ACRES Archive de Williams” em que Williams cria réplicas de cera à imagem de monumentos públicos populares e símbolos culturais da era da Reconstrução dos Estados Unidos.

Esta estátua interativa, que permite a quem por lá passa iluminá-la, já tinha derretido em setembro de 2023, quando um transeunte acendeu velas que cobriam mais de metade da escultura. Por isso, a estátua voltou a ser colocada no jardim da escola básica Garrison cinco meses depois, mas desta vez com apenas 10 velas (em vez das iniciais 100) que só podem ser acendidas durante um minuto.

A localização não é ao acaso: era no jardim de Garrison que, durante a Guerra Civil, se situava o Camp Barker, um refúgio para quem fugia da escravatura no Sul do país e procurava liberdade. Lincoln terá visitado o local em várias ocasiões, recorda o The Washington Post. Para a organização sem fins lucrativos que encomendou a obra, a Cultural DC, a estátua restaurada poderá voltar ao local, embora a última palavra seja da escola e da comunidade envolvente. Na esperança de que à terceira não seja de vez e as altas temperaturas respeitem esta homenagem aos histórico estadista.