Em Bruxelas, António Costa foi questionado pelos jornalistas se esperava assumir um cargo com tanta relevância como o de presidente do Conselho Europeu após se demitir em virtude da Operação Influencer. O antigo primeiro-ministro respondeu com ironia e argumentou que, desde novembro, já “muita água correu no Tejo”. O recém-eleito líder do Conselho Europeu citou ainda o antigo Presidente da República Mário Soares, dizendo que “tem de ser o presidente de todos” os que têm assento naquele órgão, perante a divergência de posições políticas que encontrará.
“Se eu fosse crente porventura diria que era um milagre. Mas a vida é feita de mudanças e muita água correu no Tejo desde esse dia [7 de novembro]”, disse António Costa esta sexta-feira num tom irónico. O antigo primeiro-ministro referia-se ao dia em que o Ministério Público ordenou buscas em diversos ministérios e também na sua residência oficial. O então chefe de Estado acabou por apresentar a demissão. “Acho que hoje manifestamente estamos numa situação diferente” face a novembro, rematou António Costa.
Ainda em declarações aos jornalistas, o presidente eleito do Conselho Europeu citou Mário Soares. “É necessário ajudar para que os consensos se formem, seja em maioria qualificada, seja na generalidade das decisões que o Conselho toma. Nós utilizamos em Portugal aquela expressão que Mário Soares criou para os presidentes da República: ‘Serei o Presidente de todos os portugueses’. O presidente do Conselho tem de ser o presidente de todos os aqueles que se sentam no Conselho Europeu”, disse.
Costa: “Construir unidade entre os países será a minha prioridade”
Um dia depois de ser eleito o próximo presidente do Conselho Europeu, António Costa encontrou-se com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a futura alta representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas. Depois de uma breve conversa com o secretário-geral do Partido Socialista Europeu (PES), Giacomo Filibeck, o presidente eleito “disse que vai querer falar com todos os líderes” para perceber como é que pode “melhorar os métodos de trabalho no seio do Conselho, ouvir as ideias de todos”.
“Conheço-os pessoalmente quase todos, só ainda não conheço o primeiro-ministro da Irlanda, entretanto vão também mudar alguns primeiros-ministros, pelo menos o da Holanda irá seguramente mudar, outros também estão na perspetiva de mudar. Tenho bastante para fazer”, completou.
O presidente eleito do Conselho Europeu disse ainda pretender colaborar com “enorme proximidade” com a primeira-ministra de Itália, apesar do voto contra de Giorgia Meloni à sua nomeação, “compreendendo” a sua posição política.
“O Conselho [Europeu] não é propriamente uma agremiação de tecnocratas, mas de políticos, todos têm as suas famílias políticas, orientações e votam também, manifestam-se, de acordo com essas preferências. Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália, com quem conto colaborar com enorme proximidade”, assegurou.