A história foi a mesma, as linhas em que foi escrita tiveram as suas nuances. O Grande Prémio de Espanha terminou com a sétima vitória em dez corridas para Max Verstappen mas, no final, todos admitiram que algo mudara em relação ao que tem sido a “normalidade” na Fórmula 1 e no autêntico passeio do neerlandês até ao mais do que provável tetracampeonato: além de sair da pole position, Lando Norris e a McLaren tinham condições para ficar à frente da Red Bull. Falharam pequenos pontos, como a perda de dois lugares logo no arranque do britânico ou as próprias estratégias de corrida que mantiveram o piloto demasiado tempo na pista quando todos os outros já tinham trocado de pneus, mas essa foi uma das principais notas que saíram da Catalunha. Poderia ser assim novamente na Áustria, com Verstappen a correr quase “em casa”?

A velha tradição ainda supera uma nova rivalidade: Lando Norris tenta de tudo mas Max Verstappen volta a vencer Grande Prémio de Espanha

Resposta rápida: não. E o neerlandês não demorou a tomar conta do fim de semana a todos os níveis, desde a qualificação para a sprint e para a corrida, até aos resultados da terceira sprint da época. Como? Ficou na frente em tudo. Foi mais rápido do que Oscar Piastri e os Ferrari nos treinos livres, foi mais rápido do que Lando Norris, Piastri e Gerorge Russell na qualificação para a sprint, foi mais rápido na sprint do que o mesmo trio com a diferença de Piastri ter ficado à frente de Norris, foi mais rápido na qualificação do que Norris, Russell e Carlos Sainz, que fechou a segunda linha (de Sergio Pérez, nem aparições no top 6). A não ser que algo de estranho se passasse em corrida, Max tinha o caminho aberto para o oitavo triunfo em 11.

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Em paralelo, e para não houvesse dúvidas também nesse particular, o piloto neerlandês comentou também mais uma semana em que se falou sobre a possibilidade de trocar a Red Bull pela Mercedes, que se mostrou apostada em resgatar o piloto numa fase de mudança em que Lewis Hamilton irá rumar à Ferrari em 2025. “Sempre disse que queria ficar. Estamos a trabalhar no carro do próximo ano e se estás concentrado nisso é porque vais correr na equipa. As pessoas falam mas o mais importante para mim é ter um carro que possa ser competitivo no futuro, queremos continuar a ser competitivos. Tenho um contrato a longo prazo com a Red Bull e estou feliz”, apontou Max Verstappen, deitando por terra eventuais cenários de mudança.

Nem tudo tem sido fácil esta temporada na Red Bull, da polémica com Chris Horner logo a abrir a época aos choques do pai do piloto, Jos Verstappen, com o chefe da equipa. No entanto, e na hora da verdade, os carros vão para a pista e a tal “normalidade” regressa de forma natural. A Ferrari teve os seus (poucos) momentos, a Mercedes dá sinais de melhorias, a McLaren surge nesta altura como principal adversária da marca austríaca mas nada alterava o rumo do Mundial de 2024 e era isso que estava de novo preparado para confirmação no Red Bull Ring, em Spielberg, onde Verstappen ganhara quatro vezes nas últimas seis edições. No entanto, e quando tudo parecia apontado a um vencedor quase “natural”, tudo mudou nas derradeiras voltas.

Se dúvidas ainda existissem, o arranque de Verstappen dissipou qualquer dúvida que ainda pudesse existir, com Norris e Russell na luta pelo segundo lugar que se manteve no McLaren e Hamilton a conseguir ainda andar à frente de Carlos Sainz antes de reassumir o quarto posto. Ainda assim, e mais uma vez, não era uma corrida para recordar para a Ferrari com Sainz a ser investigado perante a possibilidade de saída de pista na luta com o britânico e com Leclerc a descer até ao 19.º lugar depois de sofrer um toque de Piastri, que por sua vez se ficou a queixar do monegasco. Lá na frente, os três primeiros estabilizavam as suas posições.

A corrida tinha algumas incidências “normais”, como um toque desnecessário numa travagem muito tardia de Fernando Alonso que atirou Guanyu Zhou para ficar de pista ou a indicação de Piastri para que a entrada de Lewis Hamilton nas boxes fosse verificada por ter pisado a linha branca (que aconteceu, com penalização de cinco segundos), mas os lugares da frente continuavam sem mexidas apesar de uma vantagem estabilizada nos sete segundos de Verstappen após ter disparado nas voltas iniciais. O Grande Prémio dos Países Baixos era escrito sobretudo à base das pequenas histórias, seguindo-se a luta pelos companheiros Pierre Gasly e Sebastian Ocon pelo 12.º com tudo o que isso podia trazer depois do que se passou nas últimas semanas.

Chegava a altura das segundas paragens para troca de pneus entre as 71 voltas do Red Bull Ring, com essa possibilidade de haver algumas mexidas na qualificação mediante a estratégia de entrada e a colocação dos carros no regresso à pista. A corrida tinha mesmo mudado, tendo em conta que Lando Norris voava desde que saiu das boxes e os Mercedes estavam também muito rápidos. Era hora de o britânico apertar com Max Verstappen mas acabou por arriscar em demasia mais uma vez, saindo por fora dos limites da pista para conseguir a ultrapassagem que devolveu de seguida. Estava tudo em aberto a dez voltas do fim, sendo que o piloto da McLaren corria o risco de ser penalizado com cinco segundos por aquilo que se tinha passado.

O golpe que ninguém estava à espera chegaria pouco depois, a sete voltas do final: Lando Norris voltou a arriscar, houve mais um toque que desta vez furou o pneu a Max Verstappen, o próprio McLaren ficou de tal forma com danos que o britânico teve mesmo de desistir e foi George Russell que beneficiou de todo o caos, passando para a liderança da corrida à frente de Oscar Piastri e de Carlos Sainz depois de uma ultrapassagem fantástica ao espanhol para ficar com a segunda posição. Toto Wolff voltava a sorrir com a primeira vitória da Mercedes em 2024 que caiu praticamente do céu perante a insistência dos dois primeiros pela liderança.