Para perceber a animosidade da Ferrari em relação aos produtos contrafeitos que são anualmente comercializados aos milhões um pouco por todo o mundo, com o seu emblema ou a sua marca, é necessário ter presente que o construtor italiano factura anualmente 4 a 5 mil milhões. Mas cerca de 2 mil milhões provêm da venda de merchandising — a que se pode juntar um pouco menos de 1000 milhões dos parques temáticos em Abu Dhabi e Barcelona —, daí a importância desta área do negócio para a marca do Cavallino Rampante.
A Ferrari anunciou que, em 2023, destruiu mais de 400.000 peças contrafeitas, devidamente embelezadas com o emblema da marca, entre as quais figuravam três veículos que estavam à venda como sendo Ferrari. Porém, sob a carroçaria estavam um chassi e uma mecânica de outro construtor. Tudo foi destruído, com os três veículos a terem um encontro marcado com uma prensa como a que existe nos sucateiros, de onde saem como um cubo de metal amassado com cerca de 1 metro de lado.
De acordo com a informação facultada pela marca, entre os mais de 400.000 objectos com emblema da marca destruídos, 100.351 foram t-shirts e outras peças de vestuário, 91.229 óculos, 60.903 relógios, 57.503 carteiras, 30.161 frascos de perfumes, 17.438 pares de sapatos, 17.231 malas e sacos, 13.415 cintos, 1092 bolas, 872 modelos à escala e 800 trotinetas sem motor. Isto, claro está, além dos três falsos Ferrari.
A facilidade com que o construtor italiano consegue reunir um tão generoso número de bens contrafeitos deve-se à estratégia com que persegue os que visam aproveitar-se ilegalmente da imagem da marca criada em 1933 por Enzo Ferrari. O construtor transalpino estabeleceu um sistema de recompensas a quem detectar produtos contrafeitos, não na posse de indivíduos, mas sim de estabelecimentos comerciais, informando a Ferrari sobre o tipo de peças e a quantidade, com fotos que suportem a informação.
Mas nem sempre os advogados da Ferrari conseguem defender os interesses da marca, vindo de Espanha um dos exemplos mais recentes. Um stand espanhol de veículos usados, na Corunha, foi “apanhado” com uma réplica de um Ferrari F430 construída sobre um Ford Cougar. Trata-se de um verdadeiro sacrilégio para os amantes de supercarros, uma espécie de Frankenstein sem qualquer valor comercial. O processo nasceu em 2018, com os advogados da Ferrari a atacarem em força, exigindo uma compensação de 2,1 milhões de euros, a apreensão do carro e um ano de prisão para o dono do estabelecimento. Contudo, o juiz do tribunal espanhol determinou que a penalização solicitada era excessiva, uma vez que o carro não estava à venda, já tinha sido adquirido (poucas semanas antes de ser apreendido), transformado pelo dono do estabelecimento e até o emblema tinha por base a bandeira chilena e não a italiana.