“Aprendi a esconder a ansiedade no prazer do sucesso”, disse Giorgio Armani com a sabedoria de quem tem os 90 anos ao virar da esquina. Dedicou uma carreira a conseguir um compromisso entre elegância e conforto, tanto na roupa do dia a dia como nos looks formais de homens e mulheres. Estudou medicina, esteve no exército e começou a sua própria marca de moda depois dos 40 anos, mas rapidamente a tornou num império à escala mundial.

Armani é um dos maiores embaixadores da moda italiana e completa 90 anos a 11 de julho, mas, embora já tenha preparado o futuro da marca depois de si, ainda não está pronto para se retirar. Reunimos 35 looks femininos de passadeira vermelha que impactaram no seu tempo. Mas nesta marca a moda masculina é igualmente importante e a pegada do designer no cinema tem décadas, por isso  acrescentamos também um vídeo que mostra figurinos de filmes com assinatura do italiano.

Com 90 anos de vida, Armani confessa que teve de “aprender a jogar o jogo do tempo” e talvez uma hepatite que teve recentemente tenha contribuído para se mentalizar da idade que alcançou. Numa entrevista à Vanity Fair Itália da qual foi capa em janeiro deste ano, diz que continua a levantar-se às 6h30 da manhã para fazer exercício, uma das duas vezes obrigatórias por dia. “A decadência física faz parte de nós. Temos de a aceitar.”

Giorgio Armani nasceu a 11 de julho de 1934 em Piacenza, uma cidade no norte de Itália. Tem um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Diz que herdou da mãe o rigor e o gosto pelo essencial. “Estas são duas coisas que andavam de mãos dadas na situação económica da minha família na altura. Nós não tínhamos dinheiro, por isso a necessidade tornou-se uma atitude.” Estudou Medicina durante três anos na Universidade de Milão, depois esteve dois anos no exército e foi colocado no Hospital Militar de Verona. Ainda foi vitrinista, vendedor e designer de roupa masculina e trabalhou para Nino Cerruti durante uns anos.

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A marca Giorgio Armani nasceu em 1975 e o primeiro desfile, nesse mesmo ano, aconteceu  no Palace Hotel em Milão. “Lembro-me que pusemos os padrões nos tecidos com marcadores. As coisas não foram espetaculares, para ser sincero”, confessou o designer recentemente. Mas com uma mudança de banda sonora e lenços na cabeça diz que acabou por ser “um lindo final que salvou a situação”. A sugestão musical foi de Sergio Galeotti, parceiro na vida e no trabalho e o motor da marca no que toca à expansão. Viria a morrer em 1985 vítima de sida, deixando um vazio tão grande como o desgosto.

[O vídeo em baixo chama-se “Giorgio Armani and the Tale of Haute Couture” celebra 15 do designer na Alta Costura e foi apresentado em julho de 2020 na semana da moda de Paris. É possível ver na passerelle alguns dos vestidos na galeria no topo deste artigo:]

Uma vez que passou os primeiros anos da marca a viver quase só para o trabalho, o designer mal se apercebeu da importância que teve para o nome o facto de em 1978 Diane Keaton ter recebido o único Óscar da carreira, por Annie Hall (1977), vestida de Armani. O designer confessa, no entanto, que o ponto de viragem aconteceu quando foi capa da revista Time, em abril de 1982. Na imagem pode ver-se Armani e atrás dele uma mulher vestida de forma prática e elegante, com uma espécie de gabardina e uma blusa. O título resumia: “Giorgio’s Gorgeous Style”.

A moda de Armani destacou-se por aliviar os fatos masculinos da sua estrutura e proporcionar o mesmo às mulheres. “Elegância intemporal”, descreve Martin Scorsese numa expressão que resume quase 50 anos da marca Giorgio Armani. “Não importa quem as usa, ele faz-nos todos ficar bem. Parte disso é porque nos sentimos bem a usar as roupas dele”, escreveu o realizador numa “carta de amor” dedicada ao seu “velho amigo Giorgio Armani” publicada na Vanity Fair, em 2015, quando a  marca deste fez 40 anos. “Como todos os grandes designers, o Giorgio não está apenas a pensar na aparência exterior numa passadeira vermelha, mas também no conforto da vida do dia-a-dia.” Scorsese recorda “décadas a trabalharem juntos”, primeiro em anúncios, depois num filme sobre Armani, num documentário sobre cinema italiano até ao filme “O Lobo de Wall Street” (2013) no qual o designer fez alguns fatos para Leonardo DiCaprio enquanto personagem principal.

“É óbvio pelos seus designs que o Giorgio adora cinema”, conclui Scorsese. E, de facto, Armani tem uma pegada no cinema que já vai longa. Desde que vestiu Richard Gere no filme que lançou a sua carreira, American Gigolo (1980), as roupas do designer italiano continuaram a ser estrelas do ecrã seja criando um guarda-roupa inteiro, como por exemplo para Os Intocáveis (1987), ou vestindo apenas uma determinada personagem. Ficam registados em filme os looks de Kevin Costner em O Guarda-costas (1992), Brad Pitt e George Clooney em Ocean’s 13 (2007) ou Christian Bale em O Cavaleiro das Trevas Renasce (2012), entre muitos outros exemplos que a própria marca resumiu neste vídeo:

Mas Armani é também um nome sonante das passadeiras vermelhas, em eventos sociais e até em palcos de estrelas da música. O designer acredita que as roupas podem ajudar a exprimir a identidade de uma pessoa e ajudá-la a ser mais sincera consigo mesma. Duas semanas depois de Giorgio Armani celebrar o seu 90,º aniversário, a equipa olímpica de Itália vai defender as cores do país nos Jogos Olímpicos de Paris com equipamentos Emporio Armani. Já fez fatos para equipas de diferentes modalidades desportivas e é presidente de uma equipa de basquetebol.

Giorgio Armani tem um percurso muito pessoal na moda. Criou um império que vai muito além da moda. Armani é nome de hotel, de museu (ArmaniSillos, no vídeo em baixo é possível os bastidores e a abertura do museu), de várias linhas de vestuário, de produto de beleza e uma série de outros produtos. O império Armani permanece nas mãos do fundador e é um dos raros exemplos de marcas de moda bem sucedidas que não pertencem a grupos de luxo. Giorgio Armani já decidiu que depois dele a empresa vai pertencer a uma fundação e também uma parte para a família e para algumas pessoas externas.

Em dezembro de 2019, o British Fashion Council deu-lhe um prémio  de carreira. Aos 85 anos, Armani disse a Suzy Menkes que era o último a receber este prémio e não iria perdoar os ingleses por isso. “Talvez seja porque eu não faço moda excêntrica, os ingleses só agora perceberam a minha evolução.” Para os fãs convertidos ou para aqueles que ainda não se renderam à excelência do trabalho de Mr. Armani, como é tratado nos seus domínios, as várias  coleções continuam a cumprir os apertados calendários da moda.

O desfile mais recente foi o de Alta Costura, a linha Armani Privé, no final do mês de junho. A coleção foi fiel ao estilo da marca e o designer foi fiel a si próprio, vestido de preto apareceu no final para cumprimentar o público. “Quando saio para o palco e vejo as pessoas de pé a aplaudirem, sinto-me feliz.”