A bala que atingiu de raspão o ex-Presidente norte-americano Donald Trump este sábado foi disparada de uma arma semi-automática AR-15, recuperada pelas autoridades junto ao corpo do atirador, Thomas Crooks. O modelo usado pelo jovem de 20 anos, que foi legalmente adquirida pelo pai, tem sido utilizada em vários tiroteios nos Estados Unidos. Várias organização apelam à sua proibição.

O modelo AR-15 foi desenvolvido na década de 1950 para ser uma arma de uso civil por Eugene Stoner, um ex-marine que trabalhava para uma empresa recém criada californiana chamada ArmaLite. A NBC News explica que a arma se tornou “revolucionária” devido às suas características: é leve, precisa e de fácil manutenção e pode ser alterada com facilidade. Acrescenta que se tornou mainstream nos anos 1960, depois de Colt ter ajudado a desenvolver uma versão automática para as tropas norte-americanas no Vietname, a M16. No entanto, a produção em massa da arma só começou na década seguinte, depois da patente original ter expirado e várias empresas terem começado a produzi-la.

A arma tornou-se “uma das mais populares nos Estados Unidos” desde a proibição federal de armas de assalto”. Desde então, “o país foi inundado com cerca de 25 milhões de armas semi-automáticas estilo AR-15”, denunciava o conselho editorial do jornal The New York Times num artigo publicado em 2022.

“Quando usadas em tiroteios, as AR-15 tornam os atos de violência muito mais mortais. Tem sido a arma de escolha para atentados em massa”, pode ler-se no mesmo artigo, que refere também que se tornaram num “talismã poderoso” para políticos de extrema-direita e muitos dos seus eleitores.

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As AR-15 têm sido usadas numa série de atentados nos Estados Unidos, incluindo em escolas. Foi o caso no tiroteio na Escola Primária Sandy Hook, em 2012, em que morreram 20 crianças e seis adultos, e também num festival de música em Las Vegas, em 2017, que provocou 58 mortos. Mais recentemente foi utilizada por um atirador na escola básica de Robb, em Uvalde, que matou 19 crianças e dois adultos.

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Os disparos destas armas provocam muito mais danos no tecido humano devido à velocidade a que as balas são disparadas. “Se atingem um órgão, é mais provável que alguém sofra ferimentos graves e que morra”, disse à CBS News um cirurgião da Universidade do Texas, ele próprio dono de uma AR-15.

Apesar dos muitos alertas para os perigos das AR-15, estas tornaram-se um “símbolo” entre os que defendem o direito à posse de armas. “Todos conhecem a silhueta daquela imagem. Vimo-la milhões de vezes em todo o lado. Se és a favor, até colocas stickers no carro”, disse ao jornal britânico Guardian o jornalista Cameron McWhirter, co-autor do livro “American Gun: The True Story of the AR-15” [em português, “Arma Americana: A verdadeira história da AR-15”].

Nas mãos de alguns republicanos o modelo AR-15 também tem servido como um símbolo usado contra o Partido Democrata. Em fevereiro do ano passado, por exemplo, o congressista republicano Andrew Clyde, dono de duas lojas de armas, distribuiu pelos membros do partido pins com a forma das AR-15. “Ouvi dizer que este pequeno pin que eu tenho estado a distribuir tem perturbado alguns dos meus colegas Democratas”, provocou num vídeo partilhado na rede social X (antigo Twitter).

“Entrego os pins para recordar às pessoas a segunda emenda da Constituição e o quão importante é preservar as nossas liberdades”, sublinhava o congressista. Na altura, como refere o Washington Post, os EUA recuperavam de uma onda de tiroteios e a publicação coincidiu com uma semana em homenagem aos sobreviventes.

Ao longo dos anos grupos que defendem um maior controlo de armas têm argumentado que as AR-15 não podem estar ao alcance de civis. “É uma arma de guerra que só é apropriada para soldados em zonas de combate”, disse Lindsay Nichols, diretora da organização não governamental Giffords Law Center numa entrevista à NBC no ano passado. “A forma como pode ser usada para matar rapidamente é o motivo pelo qual a queremos banir”, sublinhou.