Violência, solidão, destruição de cânones e migração forçada estão no centro das criações dos primeiros nomes de artistas agora anunciados: Francisco Thiago Cavalcanti, Mamela Nyamza e Basel Zaraa, os quatro primeiros destaques do festival, com Carolina Bianchi.

O Alkantara regressará a diversos palcos e espaços de Lisboa, cruzando diferentes práticas das artes performativas — dança, teatro e performance — com outras áreas artísticas e de conhecimento, segundo a organização.

Este ano haverá também encontros entre públicos, profissionais e artistas, numa edição que terá o Teatro Nacional D. Maria II, embora ainda fora de portas, como coprodutor e coapresentador.

A Biblioteca Palácio Galveias, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), a Culturgest e a Casa da América Latina são alguns dos espaços onde serão apresentados espetáculos.

A abertura do Alkantara, A Noiva e o Boa Noite Cinderela — que no ano passado esteve na 77.ª edição do Festival de Avignon, em França — Carolina Bianchi toma como ponto de partida histórias de violência contra mulheres e histórias de feminicídio.

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Com o seu coletivo, Cara de Cavalo, criou “uma jornada para um abismo, um buraco no meio do deserto, um mergulho num copo de bebida de violação — uma descida ao inferno”, segundo a sinopse da obra.

Naquela que é uma produção Alkantara, com estreia no Teatro do Bairro Alto — depois de uma antestreia no Festival Santarcangelo, em Itália — Francisco Thiago Cavalcanti, artista brasileiro da dança, do teatro e da performance, que se apresenta como “‘queer’, neurodiverso, não-branco”, incorpora uma baleia solitária em 52blue.

“As baleias cantam em conjunto para sobreviver, para acasalar, para viajar, para passar o tempo e também sem motivo algum. A 52 Blue canta sozinha, emitindo sons na frequência de 52 hertz quando outras baleias de migração semelhante emitem entre 10 a 39 Hz e 20Hz, sendo por isso descrita como a baleia mais só do mundo”, indica a sinopse da peça que coloca Francisco Thiago Cavalcanti no lugar deste ser solitário.

Mamela Nyamza, coreógrafa sul-africana, apresenta-se pela primeira vez em Portugal, no São Luiz Teatro Municipal, com Hatched Ensemble, um trabalho que revisita o seu solo autobiográfico Hatched (2007), para abraçar e expor as complexidades da construção de identidades a partir da dança.

Nesta nova versão, junta dez intérpretes de diferentes origens e com formação em ballet, uma cantora de ópera e um instrumentista de música tradicional africana, para transformar o palco “numa caixinha de música composta por figuras que à partida não compreendemos serem aves ou humanas, femininas ou masculinas”, descreve a produção.

O artista palestiniano Basel Zaraa, radicado no Reino Unido, criou Querida Laila, que recorre à exploração dos sentidos para aproximar públicos das experiências de exílio e de guerra, como forma de enfrentar, expressar e compreender o trauma do povo palestiniano.

“Querida Laila, tens agora 5 anos e começaste a perguntar-me onde cresci, e porque é que não podemos ir lá”, uma frase que responde às perguntas da filha sobre a situação do seu povo, a partir da qual regressa à casa onde cresceu, no campo de refugiados palestinianos de Yarmouk, na Síria.

O trabalho, que percorre as memórias da sua infância e da luta do povo palestiniano, é uma instalação-performance que o Alkantara Festival apresenta em conjunto com o Teatro Nacional D. Maria II, na Biblioteca Palácio Galveias.

O Alkantara Festival é financiado pela Direção-Geral das Artes e pela Câmara Municipal de Lisboa, coproduzido por Centro Cultural de Belém, Centro de Arte Moderna — Gulbenkian, Culturgest, Lisboa Cultura, São Luiz Teatro Municipal, Teatro do Bairro Alto e Teatro Nacional D. Maria II.