Em França, a tradição ‘manda’ que o deputado mais jovem fique junto à urna durante a votação para a presidência da Assembleia Nacional. Este ano, na primeira volta, essa função ficou a cargo de Flavien Termet, de 22 anos. O jovem da União Nacional, partido de extrema-direita de Marine Le Pen, tentou cumprimentar os restantes deputados, mas vários parlamentares de esquerda recusaram-se a apertar-lhe a mão — houve quem chegasse a recorrer ao “pedra, papel ou tesoura” para evitar cumprimentar o adversário político.

O momento foi protagonizado por François Piquemal, deputado do França Insubmissa, que partilhou as imagens nas redes sociais na passada quinta-feira, dia 18 de julho. “Nas urnas, como no pedra, papel ou tesoura, no final é a NFP [Nova Frente Popular] que vence”, escreveu na legenda da publicação, fazendo alusão à vitória da aliança de esquerda — que é composta pelo Partido Comunista, pelo França Insubmissa, pelos Verdes e pelo Partido Socialista — nas eleições francesas.

Em declarações ao jornal Ouest France, François Piquemal disse que o momento foi espontâneo e que “não tinha preparado nada”. Foi perante a “muita insistência” de Flavien Termet que teve “esta ideia instintiva”, confidenciou.

O mesmo jornal francês indica que todos os deputados do França Insubmissa se recusaram a cumprimentar o ‘benjamin’ da Assembleia Nacional, bem como alguns dos Verdes e dos Socialistas, como, por exemplo, Sandrine Rousseau ou Olivier Faure.

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Nas redes sociais, alguns deputados justificaram a sua atitude. Foi o caso de Louis Boyard, do França Insubmissa, que deixou claro que não pretende cumprimentar os representantes da extrema-direita: “Não apertamos a mão da extrema-direita. Nunca.”

A recusa em cumprimentar Flavien Terment gerou polémica, principalmente depois de o jovem ter acusado o deputado Sébastien Delogu, do França Insubmissa, de “intimidação física” e de lhe ter dirigido insultos ao atirar, segundo o Le Journal du Dimanche, a seguinte frase: “És louco, és maluco ou quê?”. Na rede social X, Terment, disse que se tratavam dos “métodos Estalinistas” e que a “intimidação” é “indigna da Assembleia Nacional”.

Também Jordan Bardella, líder da União Nacional, reagiu ao que descreveu como o “tom ameaçador de Delogu contra o mais jovem membro da Assembleia Nacional”. “O sectarismo dos eleitos da NFP que se recusam a ser educados: a esquerda está a importar para o hemiciclo uma cultura de escória que prejudica as nossas instituições”, acusou.

Este sábado, em entrevista ao jornal La Provence (declarações que são citadas pelo Le Journal du Dimanche), Sébastien Delogu negou ter ameaçado o jovem da União Nacional. “Perguntei-lhe simplesmente se estava a falar a sério, se achava que eu ia apertar a mão a um racista”, começou por explicar. “Ele disse: ‘É o costume’. Eu respondi: ‘Tu és doido da cabeça, isso nunca vai acontecer’. Não o ameacei, não fui violento”, acrescentou.

De acordo com o Le Figaro, na segunda volta de votações, Flavien Termet deu lugar a Hanane Mansouri, da união da extrema-direita que junta os Republicanos e a União Nacional. Alguns deputados mantiveram a atitude e também se recusaram a cumprimentar a jovem de 23 anos.