Quatro sindicatos que representam mais de 14 mil trabalhadores da Disneylândia no sul da Califórnia anunciaram esta sexta-feira que, depois de uma votação, foi autorizada a convocação de uma greve para reivindicar melhores condições de trabalho e de salários. Se acontecer, será a primeira greve em 40 anos na Disney.

Apesar de aprovada, não significa que venha mesmo a acontecer, no entanto, a decisão — votada a favor por 99% dos trabalhadores — “mostra que os membros do elenco [‘cast members’, como são referidos os trabalhadores das lojas e parques temáticos da Disney] estão fartos”, afirmou Aaron Zarate, do comité de negociação dos trabalhadores da Disney, num comunicado citado pela NBC News.

Dentro daqueles 99% estão centenas de trabalhadores que esta semana protestaram à entrada do parque de diversões pelo baixo salário que recebem, que para alguns não é suficiente para alugar um apartamento. É o caso de Cynthia Carranza, uma empregada de limpeza da Disney que, durante quatro meses do ano passado, diz que teve de viver no carro com os seus dois cães porque o seu ordenado, mais os dois que recebia de outros empregos, não chegava.

“É perturbador que os balões que vendemos no parque sejam mais caros do que o que estou a ganhar por hora. Tenho de trabalhar uma hora e meia se quiser comprar um desses balões da Disney”, disse à CNN International. Atualmente, Carranza partilha um pequeno apartamento com o namorado, que também trabalha no parque, mas o seu salário é referido como continuando a ser baixo quando comparado com uma renda no sul da Califórnia: por hora, Carranza ganha 20,65 dólares (cerca de 18,96 euros) enquanto o valor médio de uma renda naquela cidade norte-americana é de 2.000 dólares (cerca de 1.836 euros).

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A partir de 1 de abril deste ano, o salário mínimo da Califórnia para trabalhadores de fast food passou a ser de 20 dólares por hora. Por sua vez, a cidade de Anaheim, no Orange, onde está a Disneylândia, já tinha aprovado que a partir de janeiro os trabalhadores do parque teriam de receber um salário mínimo de 19,90 dólares, por hora, o que, segundo os próprios, não é suficiente.

De acordo com a BBC, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) calculou que uma pessoa solteira e sem filhos teria de receber 30,48 dólares por hora para poder viver perto da Disneylândia, em Orange.

“Sem nós, a Disney seria como qualquer outro sítio”, disse um dos empregados à BBC, que o refere apenas pelo apelido Morgan, que diz ter vivido, durante quatro anos, em motéis nos arredores da Disneylândia com os filhos. E, quando estavam com a mãe, este trabalhador na Disney dormia escondido na rua para evitar a polícia.

“Não são os animatrónicos — somos nós. Pelo menos respeitem-nos o suficiente para nos pagarem um salário decente”, afirmou.

Embora as reivindicações dos trabalhadores sejam de foro económico, a votação sobre a greve foi pedida em resposta a queixas de que os trabalhadores foram repreendidos por usarem crachás sindicais com a imagem do punho do Rato Mickey erguido e distribuírem informação sindical no parque.

Em junho, os sindicatos apresentaram queixa por práticas laborais desleais ao National Labor Relations Board contra a Disney por “disciplina ilegal, intimidação e vigilância de membros do sindicato que exerciam o seu direito de usar crachás do sindicato no trabalho”.

À CNN International, a Disney indicou que o uso de crachás sindicais vai contra a política de uniformes do parque e que apenas “uma mão cheia” de trabalhadores foi repreendida.

Em comunicado, disse também que os parques da Disneylândia se esforçam para oferecer aos visitantes “uma experiência ininterrupta e envolvente” e que “qualquer coisa que distraia do espetáculo ou da história, seja um crachá, um alfinete ou um autocolante não aprovado usado por um membro do elenco seria abordado por um responsável”.

Os sindicatos e a Disney têm mais duas reuniões agendadas para segunda-feira, dia 22 de julho, e terça-feira, 23.