O Ministério das Finanças confirmou o parecer negativo da Parpública a uma injeção de emergência de 12 milhões de euros na Inapa, a empresa de distribuição de papel que anunciou este domingo o processo de insolvência.

Em esclarecimentos ao Observador, fonte oficial do Ministério das Finanças adianta que, na sequência do pedido de injeção imediata de fundos por parte da Parpública, foram solicitados pareceres à própria holding do Estado, à Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) e à Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial (UTAM). As três entidades concluíram que “a proposta não reunia condições sólidas, nem demonstrava a viabilidade económica e financeira que garantisse o ressarcimento do Estado”.

A Parpública é a principal acionista da Inapa com cerca de 45% do capital e 33,3% dos direitos de voto. Os outros acionistas são a empresa de meios Nova Expressão, com 10,85%, e o Novo Banco com 6,55%.

O Ministério das Finanças diz ainda que este pedido de 12 milhões de euros tinha como objetivo responder às necessidades de tesouraria da participada alemã da Inapa, acrescentando que estava já em análise um outro pedido de 15 milhões de euros de fundos para reestruturar a empresa.

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Além dos pareceres negativos a este financiamento, a empresa “não apresentou qualquer estratégia de recuperação”. A Parpública, acrescenta, não é acionista maioritária e a Inapa “é uma empresa privada, não tendo uma atividade considerada como estratégica para a economia portuguesa”. Daí que o Ministério das Finanças tenha confirmado “o parecer da Parpública de não avançar com as operações de financiamento solicitada”.

Apesar de ter sede em Portugal, os principais mercados da Inapa são a Alemanha — responsável por mais de metade das receitas — e a França, num total de 10 países. No final do ano passado, o grupo tinha quase 1.500 trabalhadores, dos quais menos de 200 estavam em Portugal. Para além da distribuição de papel, a Inapa tem operações de embalagem e comunicação visual.

A Inapa anunciou no domingo que iria pedir a insolvência da subsidiária alemã, que é a sua principal unidade, o que teve também como consequência a insolvência do própria holding com sede em Portugal. Devido a esse anúncio, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deu ordem de suspensão da negociação das ações na bolsa de Lisboa. O presidente e vários membros da administração apresentaram a demissão.

Inapa pede insolvência “nos próximos dias” e ações suspensas na bolsa. Presidente e vários vogais demitem-se

“O Governo irá acompanhar o processo de insolvência“, afirma o Ministério das Finanças, garantindo que só recentemente teve conhecimento das dificuldades graves da empresa.

“O Governo tomou conhecimento da situação crítica em que se encontrava a Inapa, na sequência da decisão da CMVM de suspender as ações da empresa, no passado dia 11 de julho”. Nesse dia, as ações da Inapa foram suspensas, tendo a empresa indicado ao mercado que não teria condições de fazer um reembolso de obrigações, sinalizando o adiamento do prazo por 10 dias úteis.

Foi só “após a divulgação dessas notícias” que, “por sua iniciativa, o Governo convocou a Parpública, responsável pela gestão da posição acionista do Estado na Inapa, para uma reunião, onde lhe foi transmitido que a Inapa havia solicitado uma injeção de 12 milhões de euros no imediato”.

“É importante assegurar o cuidado e a proteção do dinheiro dos contribuintes”

O ministro da Economia, Pedro Reis, defendeu nesta segunda-feira que “é importante assegurar o cuidado e a proteção” do dinheiro dos contribuintes na tomada de decisões sobre reestruturação de empresas, após ser questionado sobre o pedido de insolvência da Inapa.

“Eu diria só, única e exclusivamente, uma coisa: é muito importante assegurar o cuidado e a proteção do dinheiro dos contribuintes cada vez que se tomam decisões em relação à reestruturação de empresas, em relação a apoios a empresas”, afirmou Pedro Reis, à margem da reunião de arranque do Grupo de Trabalho para o Regulamento Europeu das Matérias-Primas Críticas, em Lisboa.

“Muitas vezes é mais fácil clamar por apoios públicos, mas muitas vezes é preciso ver o interesse público, avaliar bem onde é que ele está”, sublinhou, rejeitando fazer mais comentários sobre o tema.

A Inapa é uma empresa histórica do setor do papel em Portugal, tendo sido fundada pela família Pessanha e outros empresários em 1965.