A coordenadora do BE e o secretário-geral do PCP acusaram esta terça-feira o Governo de não ter “vontade política” de resolver os problemas no SNS e de querer “privatizá-lo aos bocados”, defendendo a valorização das carreiras dos médicos.
Pouco mais de uma dezena de médicos concentraram-se esta terça-feira à frente do Hospital Santa Maria, em Lisboa, no âmbito da greve nacional dos médicos convocada pela FNAM, entoando cânticos como “o povo merece o SNS” ou mostrando cartazes em que se lia “é greve porque é grave, todos pelo SNS” ou “1,5 milhões de utentes sem médico de família”.
Em declarações aos jornalistas nesta concentração, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, considerou que o problema da “falta de médicos e da falta de condições para os médicos trabalharem no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” já se “arrasta há muito tempo”.
“Este Governo não quer negociar tabelas salariais. Temos uma ministra que está a juntar à incompetência e ao autoritarismo, uma enorme falta de vontade política de negociar os salários e as condições para que os médicos possam trabalhar no SNS”, acusou.
A coordenadora do BE defendeu que “a estratégia deste Governo é exatamente igual à do Governo anterior, que é empalear e atrasar as negociações, rejeitando na prática a revisão das tabelas remuneratórias e as condições de trabalho dos médicos e encontrando soluções de recurso”.
“Só há uma diferença: este Governo já assumiu que tem um plano, que é esgotar os recursos do SNS e começar a privatizá-lo aos bocados. Essa é a grande diferença entre este Governo e o anterior”, afirmou, alegando que a própria ministra da saúde já admitiu que o plano de emergência para a saúde serve para ir “entregando ao privado as parcelas do SNS que vão deixando de funcionar por falta de condições”.
“O Bloco está aqui, como tem estado ao longo dos últimos anos, a dizer uma coisa muito simples: há uma proposta que resolve o problema do SNS e que tem a ver com a remuneração e a melhoria das pensões base com que os profissionais, os médicos trabalham, com a criação de regimes de incentivos, mas que valorizam o seu trabalho e reduzem as horas de trabalho”, salientou.
Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que também marcou presença nesta concentração, defendeu que, para resolver o problema do SNS, é preciso “valorizar os seus profissionais, os seus médicos, respeitá-los, dar-lhes condições de trabalho e salariais”.
“O único problema do SNS é a falta de meios humanos, de recursos, de profissionais e não é difícil resolver o problema do SNS. Não há é vontade política para isso, a vontade política é outra: é desmantelar o SNS, criar todas as condições para que os médicos se afastem e vão encher o negócio daqueles que fazem da doença um negócio”, criticou.
Paulo Raimundo considerou que “as opções que já vinham do Governo anterior persistem e acentuam-se neste Governo”, criticando em particular o plano de emergência para a saúde, que considerou ser “um plano de garantia de recursos para aqueles que fazem da doença um negócio”.
Segundo o secretário-geral do PCP, esse caminho “não serve os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde, os utentes e o SNS, mas serve a alguns poucos, que se vão enchendo à custa da desgraça da maioria”.
“Isto não pode continuar assim: falta de respeito, falta de valorização, é tudo um negócio. E nós não estamos aqui a vender batatas nem leite — também podíamos falar muito sobre isso —, estamos a tratar da saúde. E saúde não se brinca e não é um negócio”, considerou.
A FNAM iniciou esta terça-feira uma greve geral de dois dias, bem como uma paralisação ao trabalho suplementar nos cuidados de saúde primários até 31 de agosto, acusando a tutela de “intransigência e inflexibilidade”. Segundo a presidente da FNAM, a adesão à greve ronda os 70%, com cirurgias e consultas canceladas em várias regiões do país.