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Pelo menos cinco milhares de manifestantes em protesto contra a guerra na Faixa de Gaza concentraram-se esta quarta-feira junto do Capitólio em Washington, onde o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, discursou perante as duas câmaras do Congresso. Gritando “vocês são uma vergonha”, os manifestantes viraram-se, na descrição da agência EFE, contra os congressistas que deverão assistir ao discurso do primeiro-ministro israelita, a convite dos líderes do Senado, o democrata Chuck Schumer, e da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson.

Manifestantes do chamado Movimento Juvenil Palestiniano alegaram que conseguiram introduzir uma grande quantidade de insetos (vermes e grilos) em corredores e divisões do edifício Watergate, onde Netanyahu e a sua delegação estão hospedados. Além disso, afirmaram que criaram o caos nas instalações ao ativar os alarmes de incêndio, embora o edifício esteja isolado e sob rigorosas medidas de segurança.

Transportando bandeiras e faixas palestinianas, os manifestantes que se juntaram no Capitólio acusaram os Estados Unidos de serem cúmplices da operação israelita na Faixa de Gaza, que segundo as autoridades locais, controladas pelo grupo islamita Hamas, já matou cerca de 40 mil pessoas, na maioria civis, desde 7 de outubro.

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De acordo com a EFE, o Capitólio encontrava-se esta quarta-feira à tarde completamente cercado por polícias e manifestantes, que instalaram um palco a poucos metros do edifício sobre o qual se lia numa faixa “Palestina Livre”. Com gritos de “genocida” e “criminoso de guerra”, os milhares de manifestantes expressaram o seu repúdio contra Netanyahu.

Pouco antes de este começar a falar, a polícia começou a deter manifestantes e a utilizar gás-pimenta contra os mesmos, acusando-os de se terem tornado violentos. “A multidão não obedeceu à ordem da linha policial. Estamos a utilizar gás pimenta contra todos os que ultrapassarem essa linha e quebrarem a lei”, disseram as autoridades num comunicado citado pelo New York Times.

Também dentro da sala do Congresso foram feitas detenções. A polícia do Capitólio relatou que tinha detido cinco pessoas por “interromperem o discurso durante a sessão conjunta“. As pessoas foram detidas por, em silêncio, se terem levantado e mostrado camisolas que diziam “assinem o acordo, agora”, numa referência às negociações de cessar-fogo em curso.

Já nas bancadas, o protesto ficou a cargo da democrata Rashida Tlaib. A deputada, de ascendência palestiniana, compareceu à sessão, mas permaneceu sentada e sem aplaudir, ao contrário dos seus pares republicanos. A representante do Michigan envergou um keffiyeh (o lenço tradicional palestiniano), um pin com a bandeira da Palestina e um pequeno cartaz em que se podia ler “culpado de genocídio” de um lado e “criminoso de guerra do outro”.

“O governo do apartheid de Israel está a cometer um genocídio contra os palestinianos. Os palestinianos não serão apagados. Solidariedade com todos aqueles que, fora destes muros, estão nas ruas a protestar e a exercer o seu direito à dissidência”, reafirmou Tlaib nas suas redes sociais.

Apesar de Tlaib ter marcado presença, foram cerca de 70 os congressistas democratas que boicotaram a sessão, um protesto que foi visível pelas cadeiras vazias na sala. Entre os democratas que não compareceram esteve Nancy Pelosi, a antiga líder democrata na Câmara dos Representantes.

O boicote estendeu-se dos deputados aos funcionários do Congresso. Mais de uma centena de estagiários invocaram motivos de doença para se recusarem a comparecer ao trabalho esta terça-feira, “um ato de protesto em total solidariedade com as vítimas das ações de Netanyahu”.

“Como espinha dorsal das instituições democráticas da nação, foi-nos confiada a missão de amplificar as vozes dos eleitores. A exigência esmagadora é clara: o primeiro-ministro Netanyahu deve ser responsabilizado pelos seus crimes contra a humanidade. É nossa obrigação moral garantir que estas vozes não sejam silenciadas”, declararam, num comunicado citado pelo New York Times.

Benjamin Netanyahu chegou à capital norte-americana na segunda-feira e que, na quinta, pretende reunir-se com o líder da Casa Branca, Joe Biden, e com a sua vice-Presidente, Kamala Harris. A política democrata assumiu no domingo a candidatura às presidenciais de 5 de novembro contra o republicano Donald Trump, com o qual também é aguardado um encontro com Netanyahu na Florida.

Kamala Harris ultrapassa apoio necessário para garantir nomeação. Campanha arrecadou 100 milhões de dólares num dia

“Ele vem obter a aprovação dos Estados Unidos para a sua guerra”, acusou um dos organizadores do protesto no palco, acompanhado por pessoas de outros estados, que viajaram para Washington em autocarros.

Os manifestantes acusaram ainda o Presidente norte-americano de genocídio, e exigiram que os Estados Unidos deixem de ser cúmplices do massacre contra o povo palestiniano. Na terça-feira, a Polícia do Capitólio deteve cerca de 200 pessoas que protestavam junto do Congresso.

Estas concentrações por ocasião da visita de Netanyahu acontecem pouco mais de dois meses após vagas de grandes protestos em universidades dos Estados Unidos, que se estenderam depois à Europa, contra a ofensiva israelita na Faixa de Gaza.

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O atual conflito foi provocado por um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, em 07 de outubro, que provocou quase 1.200 mortos e acima de 200 pessoas levadas na condição de reféns.

Em retaliação, Israel lançou desde então uma operação militar aérea e terrestre em grande escala na Faixa de Gaza, deixando o enclave palestiniano destruído e, segundo a ONU, mergulhado num desastre humanitário.

Notícia atualizada às 00h42 do dia 25, com a fotogaleria dos protestos