46 segundos. Foi esta a curta duração do combate de boxe de -66kg, entre a italiana Angela Carini e a argelina Imane Khelif. Percebeu-se rapidamente que o duelo ia ser de sentido único, com grande vantagem para a atleta da Argélia. O combate já estava, no entanto, envolto em polémica antes de começar: Khelif chumbou nos testes de género no passado, mas o Comité Olímpico Internacional (COI) autorizou-a a estar nos Jogos Olímpicos.
Apesar da polémica motivada pelo incidente, a italiana garantiu que a sua desistência não esteve relacionada com a adversária. “Entrei no ringue e tentei lutar. Queria vencer. Sofri dois golpes no nariz e não conseguia respirar, estava a doer muito”, explicou Carini, citada pelo Telegraph. Perante os golpes da adversária, a pugilista italiana ficou com o queixo ligeiramente fora do sítio, ficando depois a sangrar. Especula-se ainda que Carini tenha partido o nariz.
Angela Carini abandons her fight against Imane Khelif, a biological male, just a few minutes into the match.
Ban men from competing in women's sports! pic.twitter.com/GLVBgJycvF
— Clown World ™ ???? (@ClownWorld_) August 1, 2024
“Hoje não perdi, apenas fiz o meu trabalho como lutadora. Entrei no ringue, lutei e não consegui. Saio de cabeça erguida e com o coração partido. Sempre fui muito instintiva. Quando sinto que algo não está certo, não é desistir, é ter a maturidade de parar”, acrescentou. Já Khelif, que foi expulsa do Mundial do ano passado por ter falhado os “critérios de elegibilidade” em testes a que foi submetida (e que teriam, alegadamente, revelado níveis de testosterona não permitidos pelos regulamentos da Associação Internacional de Boxe), garantiu apenas que vai “lutar pelo ouro”. “Lutarei com qualquer uma”, sublinhou.
[Já saiu o primeiro episódio de “Um rei na boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor.]
O episódio motivou várias reações e uma das mais sonantes partiu da escritora J.K. Rowling — que partilhou informações falsas sobre Khelif ao comentar o combate entre a argelina e a italiana. “Vejam isto e depois expliquem porque é que não se importam que um homem bata numa mulher em público para vosso entretenimento. Isto não é desporto. Desde o traidor de vermelho até aos organizadores que permitiram que isto acontecesse, isto são homens a deleitarem-se com o seu poder sobre as mulheres”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).
Watch this (whole thread), then explain why you’re OK with a man beating a woman in public for your entertainment. This isn’t sport. From the bullying cheat in red all the way up to the organisers who allowed this to happen, this is men revelling in their power over women. https://t.co/u32FcDTy9p
— J.K. Rowling (@jk_rowling) August 1, 2024
Rowling propaga informações falsas quando diz — ou sugere, para dizer o mínimo — que Imane Khelif é uma atleta trans. Não é. A questão para a decisão da Associação Internacional de Boxe terá estado relacionada com os níveis de testosterona presentes no seu organismo, mas que não estão relacionados com qualquer intervenção para mudança de sexo.
Esta quarta-feira, o Comité Olímpico da Argélia divilgou uma nota pública de condenação pelas informações que têm sido propagadas a respeito de Khelif. O organismo criticou os “ataques sem ético e malignos” dirigidos à lutadora, e a “propaganda infundada de certos meios de comunicação estrangeiros”.
O que é certo é que Imane Khelif venceu o combate dos oitavos de final e vai agora defrontar a húngara Anna Luca Hamori nos quartos de final. O embate está marcado para as 16h22 de sábado.