Os militantes da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) decidem esta sexta-feira se o partido viabiliza um novo governo na região liderado pelos socialistas, na sequência das eleições autonómicas de 12 de maio.
A direção da ERC anunciou na segunda-feira um pré-acordo com o Partido Socialista da Catalunha (PSC), o mais votado nas eleições, para viabilizar um novo governo catalão (também conhecido como Generalitat) liderado pelo socialista Salvador Illa, mas decidiu submeter o entendimento à votação dos militantes, numa “consulta vinculativa” que decorre hoje, até às 19h00 locais (18h00 em Lisboa).
Se o acordo for ratificado pelos militantes da ERC, fica aberto o caminho para a investidura de Illa como presidente da Generalitat e o regresso ao poder dos socialistas na Catalunha, após 14 anos consecutivos de executivos separatistas na região, que ficaram marcados por uma tentativa de autodeterminação que culminou com uma declaração unilateral de independência em 2017.
No entanto, a viabilização de um novo governo do PSC (a estrutura regional do Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE) tem dividido a ERC, pressionada publicamente, sobretudo, pelo também independentista Juntos pela Catalunha (JxCat, conservador).
O JxCat, do antigo presidente regional CarlesPuigdemont, aposta na repetição das eleições e condenou que os republicanos estejam dispostos a dar o poder a “um espanholista” e acabem com a frente separatista que nos últimos 14 anos uniu os partidos de esquerda e direita que querem a independência.
Se os militantes da ERC chumbarem hoje o pré-acordo com os socialistas a repetição das eleições na Catalunha é praticamente inevitável, por não haver, à partida, outras alianças que garantam a maioria necessária no parlamento regional para a investidura de um presidente da Generalitat.
Isto porque nas eleições de 12 maio, os partidos independentistas perderam a maioria absoluta que assegurou governos separatistas durante os últimos 14 anos na Catalunha.
Segundo a ERC, o pré-acordo com os socialistas abrange áreas como o financiamento autonómico ou a utilização da língua catalã, com o objetivo de “avançar na soberania”, com ênfase para “a soberania fiscal”, tendo sempre em mente “o objetivo da independência” e de construir uma região “mais bem preparada e mais forte com vista ao objetivo final, que é a independência da Catalunha”.
A ERC, que está atualmente à frente da Generalitat, mas ficou em terceiro nas eleições regionais de maio, negociou já com os socialistas do primeiro-ministro Pedro Sánchez, na última legislatura, indultos e uma amnistia para separatistas da Catalunha envolvidos na tentativa de autodeterminação da região.
Como os indultos e a amnistia, a questão da “soberania fiscal” para a Catalunha, semelhante à que já existe para o País Basco e Navarra, está a gerar nova polémica em Espanha, incluindo entre dirigentes do PSOE.
O caso basco e navarro reconhece especificidades históricas e é uma exceção dentro das 17 regiões autónomas, sendo considerado pouco ou nada solidário com o resto do país.
Por este motivo, inclusivamente dirigentes do PSOE, como a “número dois” de Sánchez no partido e no Governo, a ministra das Finanças, Maria Jesús Montero, rejeitavam até há pouco tempo a possibilidade de ser replicado na Catalunha, para atender a reivindicações das forças independentistas.
Se o acordo entre PSC e ERC for ratificado hoje pelos militantes da Esquerda Republicana, Salvador Illa terá de ser investido presidente da Generalitat numa votação no parlamento catalão até 26 de agosto, para evitar a repetição das eleições.