O último combate da italiana Angela Carini, derrotada em 46 segundos pela argelina Imane Khelif, foi um dos momentos mais falados dos Jogos Olímpicos de Paris. Esta sexta-feira, a pugilista admitiu que a “controvérsia a deixa triste e se sente mal pela oponente” e que vai dizer “adeus ao boxe”.
O combate gerou diálogo, primeiro, pela desistência em menos de um minuto de Carini. Mas a controvérsia começou quando se apontou que Khelif tinha sido impedida de competir nos torneios supervisionados pela Associação Internacional de Boxe (IBA), por ter falhado “testes de género”, que nunca foram especificados.
Os críticos acusaram falsamente Khelif de ser transgénero ou intersexual, o que consideraram injusto por competir contra mulheres cisgénero. O Comité Olímpico Internacional foi rápido a apontar “a informação enganosa” sobre a identidade de Khelif, a esclarecer que a atleta passou todos os testes médicos e que as decisões da IBA não se aplicam nos Jogos Olímpicos.
Gerada a confusão, Carini pediu desculpa pelo ódio a que a oponente foi sujeita. “Não foi intencional, mas peço desculpa. Eu estava zangada, porque os meus Jogos arderam. Não tenho nada contra a Khelif e pelo contrário, se a encontrasse outra vez, dar-lhe-ia um abraço“, declarou a italiana numa entrevista à Gazetta dello Sport.
Angela Carini esclareceu que a sua atitude no final da prova — recusou-se a cumprimentar a atleta argelina — se devia à sua desilusão e nunca ao facto de se tratar de Khelif. Ainda assim, recusou comentar o facto de haver pessoas que estão a usar a sua reação como justificação para discutir temas da identidade de género.
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“Essa é uma questão que não quero responder. Imagino que muitas pessoas me apoiaram porque acreditaram no meu sonho Olímpico, no meu desejo de ganhar uma medalha pelo meu pai, que já não está connosco”, argumentou.
Carini explorou estes mesmos sentimentos numa outra entrevista ao jornal La Stampa. Voltou a contar que o objetivo era ganhar uma medalha olímpica pelo pai e que desistiu do combate tão cedo porque estava com dores insuportáveis no nariz. Defende que não foi derrotada, mas que se “rendeu com maturidade” e que “respeita todos os adversários”.
“Cometi um erro, deixei o ringue por raiva, mas não pela minha adversária“, reconheceu, reafirmando que não se interessa e quer ficar longe das polémicas à volta do seu combate. A sua visão sobre Khleif era igual a todos os outros combates, garante. “Se esta rapariga está aqui, deve haver um motivo. Lutei, como deveria ter feito”, defendeu, assegurando que “não houve irregularidades”.
Questionada de forma insistente sobre o que pensa de Imane Khelif, respondeu com uma nova pergunta. “Quem somos nós para julgar? Para dizer o que é certo e o que é errado? Somos atletas, não somos juízes”, sublinhou.
No fim, depois do sangue, das lágrimas e do sonho Olímpico por cumprir, Angela Carini anunciou que o seu caminho é “dizer adeus ao boxe”. O de Imane Khelif será um novo combate em Paris, no sábado à tarde.