O Presidente de Moçambique disse esta quarta-feira, no parlamento, que o país registou 22 crimes de rapto desde janeiro de 2023, lamentando, no seu último discurso sobre o estado da nação, deixar o problema por resolver totalmente.

“Convém aqui dizer: resolvemos os problemas de raptos? Não. Mas estamos a combater os raptos dentro das nossas capacidades”, disse o chefe de Estado, ao apresentar, ao longo de mais de três horas e meia a informação anual sobre a Situação Geral da Nação.

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“Numa das minhas deslocações um jornalista perguntou-me o que é que fez durante o seu mandato [sobre o crime de raptos]? Eu disse-lhe: Fiz tudo o que eu não fiz”, afirmou ainda Nyusi, ao apresentar pela última vez o balanço anual — habitualmente feito no final do ano — face à realização de eleições gerais em outubro, às quais não concorre.

“Discutiram muito. Então é só ver aquilo que não está feito. Então o resto foi feito”, disse igualmente, aludindo às críticas da sociedade à continuidade destes crimes, insistindo: “É um dos problemas que faz parte do que não foi feito na totalidade, porque é um crime”.

Na mesma intervenção avançou que só no período de janeiro de 2023 a agosto de 2024 registaram-se 22 crimes de raptos no país, essencialmente em Maputo, dos quais oito foram frustrados, por intervenção da polícia e da população, e 11 foram esclarecidos, com a libertação das vítimas, incluindo oito em operações da polícia.

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Acrescentou que foram detidos, também desde janeiro do ano passado, 53 cidadãos ligados a este tipo de crime e desmantelados quatro cativeiros e revelou que três indivíduos foram detidos nas últimas duas semanas, estando a “colaborar” com as autoridades.

“Deram o nome de uma pessoa que lhes mandou. Também é empresário. E as forças de segurança estão no encalce, não está em Moçambique a pessoa. Acionámos a Interpol para nos ajudar“, disse.

Na mesma intervenção, reconheceu que desde 2011 que “o país vem sendo assolado pelo fenómeno de raptos de cidadãos moçambicanos, maioritariamente empresários”, que “de forma violenta são retirados do convívio social e extorquidos valores monetários em troca de liberdade”, um crime que “tem estado a gerar um sentimento de insegurança no seio da sociedade”.

“Portanto, caros compatriotas, este é um problema. […] Precisamos de sentar e refletir o que é isso? O que acontece”, questionou ainda o Presidente, no cargo desde 2015, a cumprir o segundo e último mandato.

Lamentou, contudo, que as vítimas destes crimes, depois de resgatadas, “não falam”, dificultando as investigações.

“O Governo tem tomado medidas energéticas para a sua prevenção e combate. Mas continua a ser um problema”, disse, assumindo que foram feitos investimentos em meios e na formação de equipas especializadas dentro da polícia, contando também com o apoio internacional.

“É um problema que está muito longe de ser ultrapassado e que muito temos que fazer, todos, para ver se conseguimos estabilizar e há a necessidade de a sociedade colaborar”, apelou.

O Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) confirmou em 6 de agosto à Lusa que há três mandados internacionais de captura para cidadãos que estão identificados e se encontram na África do Sul, tidos como “potenciais” mandantes de raptos, estando a trabalhar em coordenação com a Interpol para a sua detenção.

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Mais um empresário foi raptado esta segunda-feira, junto a uma unidade hoteleira da cidade de Maputo, segundo a mesma fonte.

Cerca de 150 empresários foram raptados em Moçambique nos últimos 12 anos e uma centena deixaram o país por receio, segundo números divulgados na semana passada pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que defende que é tempo de o Governo dizer “basta”.

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A polícia moçambicana registou, até março, um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, anunciou anteriormente o ministro do Interior.