Mesmo sem a cobertura mediática do vencedor da corrida olímpica de 100 metros, Noah Lyles, o vencedor da prova de 200 metros já deixou a sua pegada na história de um continente inteiro. Letsile Tebogo, atleta de 21 anos do Botswana, tornou-se no primeiro africano a receber a medalha de ouro nesta corrida. Adicionalmente, tornou-se no primeiro campeão olímpico do seu país, nuns Jogos Olímpicos que têm sido repletos de histórias de sucesso para países outrora infortúnios nas suas jornadas olímpicas.

Apesar de se ter falado muito em Lyles, que revelou ter feito a prova infetado com Covid-19, o campeão do mundo da modalidade terminou a prova com a medalha de bronze, com o seu co-patriota Kenny Bednarek a receber a prata. Na conferência de imprensa que procedeu a prova, o medalha de ouro não escondeu o seu orgulho pela conquista — “Sou o campeão olímpico, é algo que eu nunca vi ou sonhei em toda a minha vida — é um momento incrível”.

Na mesma conferência, Tebogo foi questionado sobre a sua ambição em quebrar recordes e tornar-se “a cara do atletismo”, e não hesitou em lançar farpas ao vencedor dos 100 metros — “Não posso ser a cara do atletismo porque não sou uma pessoa arrogante ou barulhenta como o Noah Lyles”. Os dois sprinters tinham estado frente a frente na meia-final dos 200 metros umas horas antes da grande final, onde o botsuanês atribuiu a primeira derrota ao norte-americano na distância desde os jogos de Tóquio em 2021.

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A vitória foi dedicada à sua mãe, que morreu uns meses antes do começo dos Jogos Olímpicos, tendo prestado homenagem à mesma ao escrever a sua data de nascimento nas sapatilhas com que venceu a derradeira prova. Quando a corrida terminou, Tebogo tirou as sapatilhas e pendurou-as à volta do pescoço, levando consigo a memória de sua mãe por todos os momentos de celebração que se sucederam.

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O atleta utilizou uns ténis específicos em homenagem à mãe

Mesmo antes de passar a meta, Letsile Tebogo batia efusivamente no “Botswana” impresso no seu uniforme, reforçando o orgulho e o caminho que percorreu numa nação não reconhecida pela modalidade.

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Quando cruzou a meta, bateu no peito para lembrar o próprio país

Vindo de um continente famoso por produzir os melhores corredores de média e longa distância, Tebogo tem surgido nos últimos anos como uma jovem promessa nos sprints. A sua jornada até à glória eterna tem sido extremamente atribulada, crescendo num país sem grande cultura desportiva, com recursos muito escassos. No espaço de alguns anos, passou de treinar sem sapatos porque a família não tinha dinheiro, para bater o recorde mundial de Sub-20 na corrida de 100m do campeonato do mundo de atletismo do escalão júnior.

A primeira medalha olímpica do Botswana surgiu apenas em 2012, onde Nijel Armos conquistou a prata nos 800 metros. Desde então, apenas o bronze na estafeta masculina 4×400 em Tóquio e, finalmente, o ouro de Letsile Tebogo, que fica eternizado na história olímpica do seu país e de todo o seu continente.