É dez mil anos anterior ao que até agora se considerava o calendário mais antigo do mundo e acredita-se que foi feito como forma de registar um evento astronómico que desencadeou uma mudança crucial no rumo do planeta. A história da humanidade pode contar-se a partir daqui: fragmentos de um cometa atingiram a Terra há cerca de entre dez a treze mil anos e originaram uma pequena era do gelo. O resto foi um conjunto de alterações que potenciou o nascimento da civilização.
Carvings at an ancient monument may be the world’s oldest solar calendar, researchers from @SchoolOfEng_UoE suggest.
The markings – found at a 12,000 year-old archaeological site in Turkey – could have been created as a memorial to a comet strike.https://t.co/ZCfRbR5tQB pic.twitter.com/8LZYuL40N9
— The University of Edinburgh (@EdinburghUni) August 7, 2024
Um conjunto de investigadores da Universidade de Edimburgo descobriu no santuário de Göbekli Tepe, na Turquia, aquele que é agora considerado o calendário mais antigo do mundo. Com cerca de doze mil anos e localizado num pilar do primeiro templo da história, esta descoberta pode ajudar a desvendar parte da história da humanidade. E até a reescrevê-la.
Trata-se de um calendário solar de 365 dias, composto por 12 meses lunares e mais 11 dias adicionais, gravado numa das colunas do templo, segundo os investigadores de Edimburgo. Cada dia do ano está representado com um V, sendo que as estações solares e lunares também estão representadas. O solstício de verão aparece como um dia especial. Apresenta-se o V, mas envolto no pescoço de um animal semelhante a um pássaro. Sentir-se-ia livre como um pássaro no começo do verão, de acordo com o povo responsável pela autoria do calendário, na leitura dos investigadores.
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O que se sabe é que os autores da obra eram conhecedores precisos dos movimentos da Terra e da Lua, assim como das constelações. Este conhecimento, segundo a revista académica Time and Mind, foi crucial para registar a passagem do tempo e das quatro estações num calendário.
Martin Sweatman, líder e investigador do estudo levado a cabo no santuário turco, falou das descobertas:
Parece que os habitantes de Göbekli Tepe eram observadores atentos do céu, o que é esperado, dado que seu mundo foi devastado por um impacto de cometa. Esse evento pode ter iniciado a civilização ao introduzir uma nova religião e ao motivar desenvolvimentos na agricultura para enfrentar o clima frio”
Bold new research by Dr. Martin Sweatman attempts to decode carvings on Göbekli Tepe to an unprecedented degree–with loaded results. https://t.co/GhYppjCUNT
— Artnet (@artnet) August 8, 2024
Não se sabe ao certo para que foi erguido o templo de Göbekli Tepe, mas investigadores sugerem que foi construído mais de cinco mil anos antes de Stonehenge ou das pirâmides do Egipto para a realização de rituais fúnebres. Levantado entre os anos de 9600 e 8200 anos antes de Cristo e recheado de mistério, o lugar situa-se na zona das montanhas turcas de Anatolia e é alvo de investigações arqueológicas enigmáticas que fascinam os cientistas devido à complexidade geométrica da construção.
O que este calendário parece comprovar é um evento de que muitos cientistas falavam mas que nunca tinha sido ainda confirmado. O embate com a terra de um cometa há cerca de 10 a 13 mil anos, que causou uma pequena idade do gelo, que terá durado cerca de mil e 220 anos, e acabou também com os animais de grande porte. Conhecida como Dryas Reciente, terá mudado o planeta e sido o ponto de partida para o início da civilização. A confirmarem-se os dados do calendário do templo turco, o cometa não só embateu com a Terra, como causou esse impacto, e ainda obrigou a que a civilização se readaptasse depois ao clima frio que se prolongou por mais de um milénio.