Horas depois de se pronunciar contra a perseguição política contra os venezuelanos no X, María Oropeza foi ela própria alvo da “Operação Truz Truz”. Bateram-lhe à porta, a advogada e apoiante dos opositores de Nicolás Maduro não se voluntariaram a abrir mas a detenção acabou mesmo por se concretizar.

Ficou tudo gravado e o vídeo e está disponível online. Oropeza iniciou um direto nas redes sociais quando a polícia venezuelana chegou à porta da casa onde estava, na cidade de Guanare, estado da Portuguesa, onde foi a mandatária da campanha da Plataforma Unitária Democrática, liderado por María Corina Machado e o candidato Edmundo González Urrutia.

“Eu sou María Oropeza, sou advogada da República e gostaria que, por favor, me digam e mostrem se têm um mandado de prisão. Têm de me mostrar, isto é propriedade privada”, disse aos agentes. Por esta altura, os polícias ainda não tinham entrado na casa, mas já se mostravam indisponíveis para falar ou mostrar qualquer documento.

Os apelos não resultaram e, poucos minutos, depois a entrada na residência foi forçada com recurso a um pé de cabra. A seguir, a transmissão de vídeo ficou sem imagem e os sons que se ouvem são dos agentes a repetir que a advogada não deveria resistir à detenção.

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María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, partilhou um excerto da transmissão em direto para apelar aos moradores da cidade de Guanare que se dirigissem à rua onde Oropeza estava a ser detida, mas já não havia nada a fazer. Desde a madrugada de quarta-feira, não há informações sobre o paradeiro da advogada.

A mensagem que Oropeza gravou horas antes de ser detida e a luta que dura há vários anos

“A ‘Operação Truz Truz’ é uma perseguição política contra os venezuelanos que defendem a verdade. E a verdade é que Edmundo González é o Presidente eleito da Venezuela, eleito por uma imensa maioria no dia 28 de julho”, escreveu María Oropeza na sua página no X. Este é o penúltimo conteúdo que publicou, poucas horas antes de desaparecer.

Na sua última publicação, apresenta dados do que assegura ser a perseguição à oposição. “Desde 2014, até agora pelo menos 256 pessoas foram mortas em protestos e, só nos últimos 8 dias, houve mais de 1100 detenções arbitrárias“, escreveu.

Oropeza é coordenadora do partido Vente, de María Corina Machado, e documenta as violações dos direitos humanos na Venezuela, recorrendo a organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) — uma das primeiras entidades a reconhecer e vitória de Gonzaléz em detrimento de Nicolás Maduro.

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Segundo o jornal venezuelano El Tiempo, nos dias que se seguiram às eleições presidenciais de 28 de julho, Oropeza documentou detenções consideradas arbitrárias no seu estado.

Flor Oropeza, mãe de María, também utilizou as redes sociais para denunciar a detenção arbitrária e o desaparecimento forçado da sua filha, 48 horas depois daquilo que classifica como um “rapto público, notório e comunicado por agentes da polícia e dos serviços secretos do regime”.

Estou angustiada por não saber dela”, afirma num vídeo com cerca de um minuto em que apela à libertação da filha ou pelo menos ao acesso a informações sobre o seu paradeiro. “Preciso que me digam qual o estado dela e onde está”, suplicou.

O caso de Edni López e das centenas de pessoas presas em em aeroportos

O desaparecimento da advogada não é o único a ser relatado pela oposição nos últimos tempos. Dias antes, a professora e ativista Edni López foi vista pela última vez no aeroporto de Caracas. Depois disso, segundo a sua mãe, foi presa e está incontactável.

“A defensora dos direitos humanos e trabalhadora humanitária Edni López desapareceu no aeroporto de Caracas a 4 de agosto. Exigimos que as autoridades a libertem imediatamente e que, entretanto, tenha acesso aos seus advogados e a tratamento médico”, apelou no X a Amnistia Internacional.

A última comunicação conhecida da ativista é uma mensagem que enviou ao namorado do Aeroporto Internacional de Maiquetía. “O oficial de imigração tirou-me o passaporte porque expirou. Por amor de Deus, não seja eu tramada por causa de um erro de sistema”, escreveu a professora universitária de Ciência Política numa mensagem partilhada com a Associated Press, antes de se lhe perder o rasto.

As detençções de López e de Oropeza não são caso único. Desde as eleições presidenciais de 28 de julho, ainda de acordo com a AP, as forças de segurança prenderam mais de 2.000 pessoas por se manifestarem contra Nicolás Maduro.

Entre os detidos contam-se jornalistas, ativistas, líderes políticos, membros da equipa de campanha de Corina Machado e advogados que tentam defender os manifestantes e lutar contra as detenções sem fundamento. Outro método de repressão que estará a ser aplicado pelas autoridades venezuelanas, como aconteceu com Edni López, é o de anular ou colocar em causa os passaportes de venezuelanos que tentam deixar o país por se sentirem ameaçados.