São seis irmãos. Marileidy Paulino é a segunda mais nova. Não havia tradição desportiva na família. Mas Marileidy Paulino destacou-se para esta sexta-feira, 9 de agosto, correr para o ouro nos 400 metros femininos.

Tornou-se, aos 27 anos, a primeira mulher da República Dominicana a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.

Cresceu a experimentar diversas modalidades na cidade onde nasceu Don Gregorio, uma hora de distância da capital Santo Domingo. Aos 18 anos jogava andebol. E foi vista. A sua capacidade atlética valeu-lhe uma chamada à Federação de Atletismo. Recebeu um convite para se juntar à Força Aérea dominicana para se juntar à equipa de atletismo. Um desporto que, verdadeiramente, só dedicou o seu tempo em 2015. Menos de 10 anos depois é ouro olímpico, depois de ter sido também campeã do mundo.

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Começou, a sua “carreira” de atleta, como velocista nos 100 e 200 metros, mas em 2020 mudou para os 400 metros, conta a sua biografia no site oficial dos Jogos. E agora quatro anos depois é o seu nome que fica no registo de melhor marca olímpica, muito perto de baixar a marca dos 48 segundos. Ainda não foi desta. Ficou nos 48,17 segundos, a quarta melhor a nível mundial de todos os tempos nesta distância. O seu recorde pessoal, antes de começar a correr na pista roxa, a cor que a organização dos Jogos escolheu para esta edição no Stade de France, era de 48,76 segundos.

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O recorde olímpico resistia desde 1996 quando, em Atlanta, foi fixado pela francesa (de Guadalupe) Marie-José Pérec (nos 48,25). “Para mim significa algo grande. Vim para um objetivo e graças a Deus conseguiu-o”, declarou, na conferência de imprensa após o ouro”, agradecendo às suas parceiras no pódio.

Nos Jogos de Paris, Salwa Eid Naser, do Bahrain, ficou com a prata — apesar da polémica uma vez que recebeu uma suspensão de dois anos por ter falhado testes de controlo de doping (o que a levou a falhar os Jogos de Tóquio), tendo a atleta lembrado na conferência de imprensa que foi testadas muitas vezes depois e “estou feliz por estar aqui e ter uma medalha” — e a polaca Natalia Kaczmarek segurou a medalha de bronze. Mas foi Marileidy Paulino que tocou o sino, a assinalar a conquista do ouro — o toque do sino foi uma inovação da organização de Paris. Em Tóquio tinha conseguido prata (na prova individual e em estafetas). E foi nesse ano, em 2021, que começou a estudar educação física na Universidade Autónoma de Santo Domingo.

Numa história idêntica a tantos atletas, começou a correr descalça. Depois passou a correr com meias e com ténis emprestados, até “conseguir ter dinheiro para comprar um par”, descreveu nessa biografia dos Jogos.

Agora espera ser uma inspiração. “Espero que abra a porta à juventude que vem desde baixo, como eu”, declarou a atleta, na conferência de imprensa após o pódio. É também a pensar nas crianças mais necessitadas que Paulina quer poder ajudá-las. A mãe de Marileidy criou-a sozinha. Anatalia teve de trabalhar “duro” para criar seis filhos. “Sei o que é viver sem pai e vi crianças órfãs a passar por tudo e, por isso, na minha mente e no meu coração, está a ideia de criar uma fundação” para ajudar essas crianças.