“Demasiada qualidade para tão poucas vagas olímpicas”. Foi assim que José Poeira, o selecionador nacional de ciclismo de estrada, descreveu as escolhas que fez na antecâmara dos Jogos Olímpicos. Deixou de fora João Almeida, António Morgado e Rúben Guerreiro, optando por Nélson Oliveira e Rui Costa, sendo que o primeiro alcançou um diploma olímpico no contrarrelógio. Na pista, Gabriel Mendes poderia dizer exatamente o mesmo.

Se era fácil para o selecionador nacional de pista escolher o nome para o omnium, já que Iuri Leitão era campeão do mundo em título e o claro especialista português para atacar um bom resultado na modalidade, no madison era mais complexo tomar decisões. Rui e Ivo Oliveira, os irmãos gémeos de Vila Nova de Gaia, têm sido constantemente dois dos grandes representantes do ciclismo de pista nacional e a principal dupla portuguesa na vertente do ciclismo de pista que entrou em competição este sábado — mas o azar bateu à porta de um deles.

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Ivo Oliveira caiu na Boucles de la Mayenne, no final de maio e ao serviço da UAE Emirates que o irmão também representa, e teve de ser operado à mão direita. Só voltou à competição um mês depois, na altura em que José Poeira tinha de tomar decisões definitivas, e o selecionador nacional acabou por optar por juntar Rui Oliveira a Iuri Leitão no madison, separando os gémeos pela primeira vez.

“Há quatro anos, conseguimos a estreia na vertente feminina. Agora estaremos também presentes no setor masculino. E conseguir um resultado semelhante ao de há quatro anos, um diploma olímpico, seria muito bom”, explicou Gabriel Mendes no final de junho, quando anunciou a convocatória final, numa ambição que se revelou demasiado curta para o que acabou por acontecer em Paris.

A partir desse momento, tornou-se claro que Rui Oliveira iria correr por dois nos Jogos Olímpicos. Na semana passada, em declarações à Agência Lusa, o ciclista explicou que “obviamente” iria tentar homenagear o irmão e lembrá-lo nesta que seria também a sua estreia olímpica. “Obviamente que, ele não estando cá, vou fazer o melhor possível para que ele esteja orgulhoso”, começou por dizer.

“O ciclismo de pista tinha dez ou 11 anos em Portugal quando eu e o meu irmão começámos a ir aos campeonatos da Europa e do mundo e a ganhar as primeiras medalhas. Falhámos a qualificação para Tóquio por um lugar, foi frustrante. Passados três anos, apurámos nas duas disciplina, omnium e madison. Sinto-me triste por não ter cá todos os atletas que fizeram parte da qualificação, principalmente o meu irmão”, acrescentou, sendo que Ivo Oliveira estava este sábado no velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines a apoiar o irmão e o colega de profissão.

Na mesma entrevista, Rui Oliveira foi naturalmente questionado sobre os objetivos que levava para Paris. “Um diploma”, atirou, ou “num dia bom, tentar algo melhor”. Uma semana depois, ao lado de Iuri Leitão e juntando-se a Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nélson Évora e Pedro Pablo Pichardo, é campeão olímpico.