Mais de sete anos depois da sua fuga, Puigdemont voltou a Espanha, onde uma vez mais voltou a fugir às autoridades. Já se conheciam alguns detalhes do dia em que tudo aconteceu, mas até agora havia uma questão por responder: afinal, quem conduziu o carro em que o ex-presidente da Catalunha fugiu? Trata-se de uma antiga tenista paralímpica — reformada desde 2011 — que vive a poucos metros do local de fuga.

Enquanto Carles Puigdemont discursava junto ao Arco do Triunfo em Barcelona, do lado direito do palco, na zona de saída do parque de estacionamento, estava a antiga atleta Bárbara Vidal, escreve o El Español. Estava sentada no lugar do condutor de um Honda branco, à espera do independentista e pronta para arrancar. No banco ao seu lado, fechada, estava a cadeira de rodas em que se desloca diariamente.

Quando o antigo presidente da Catalunha terminou o seu discurso de seis minutos gritou “Viva Catalunha livre” e fugiu. Foi levado até ao Honda branco, sentando-se nos bancos traseiros. O jornal espanhol escreve que Bárbara Vidal vive perto da zona onde tudo aconteceu, a cerca de 200 metros do Parlamento, pelo que, provavelmente, teria lugar de estacionamento para residentes no parque. Segundo um agente à paisana que terá seguido o carro (até ao momento que lhe perdeu o rasto), o Honda branco terá passado a menos de 50 metros da casa da antiga atleta, escreve o El Español.

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A ex-tenista de 48 anos tem ligações ao movimento independentista da Catalunha. Em abril de 2022, escreve o El Mundo, chegou à Assembleia de Representantes do Consell de la República, organização que Puigdemont fundou após a sua fuga para a Bélgica, em outubro de 2017, para promover a independência da Catalunha.

Bárbara Vidal ficou numa cadeira de rodas aos 23 anos, após sofrer um acidente em Andorra. “Era dezembro e estávamos a descer de esqui na estrada para Canillo, em Andorra. A última coisa de que me lembro é de uma manobra de ultrapassagem, quando um carro surgiu à nossa frente. Desviámo-nos”, revelou ao El Periódico, em 2015. A espanhola acabou por recuperar a mobilidade na perna esquerda, após fazer fisioterapia. Já enquanto atleta paralímpica, ganhou vários torneios internacionais a solo e em dupla, foi campeã de Espanha uma vez, fez parte da seleção espanhola em sete edições da Taça do Mundo e participou nos Jogos Paralímpicos de 2004 em Atenas, elenca o El Mundo.

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Do agente de férias ao agente denunciado pelo superior

A par da identidade da condutora do Honda branco, os jornais espanhóis identificaram também os três agentes da Mossos d’Esquadra envolvidos na fuga de Puidgemont.

Um deles, Xavi Manso, também tem passado ligado aos paralímpicos, após em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona, ter sigo guia de um deficiente visual na maratona. Xavi Manso surge agora em fotografias agarrado ao braço do independentista, com óculos de sol, boné azul e mochila amarela. O agente foi detido quinta-feira e ficou em liberdade condicional no dia seguinte, escreve o El Mundo.

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Xavi Manso, à direita EUROPA PRESS VIA GETTY IMAGES

Segundo Quim Torra, presidente da Generalitat da Catalunha entre 2018 e 2020, citado pelo jornal espanhol, Xavi Manso era um dos seus guarda-costas e estava de férias aquando da fuga de Puidgemont. Na rede social X expressou o seu desacordo com a decisão de suspender o agente dos Mossos d’Esquadra, ficando sem salário, e solicitou a sua “reintegração imediata”, num comunicado dirigido ao ministro do Interior em funções, Joan Ignasi Elena.

Um segundo agente que terá ajudado à fuga do independentista foi denunciado pelo seu superior. O El Mundo teve acesso ao depoimento do sargento da Mossos d’Esquadra, a quem foram apresentadas várias imagens do dia da fuga, obtidas através das redes sociais e dos meios de comunicação. O sargento identificou então um dos agentes que acompanhou Puidgemont: o seu subordinado David Goicoechea, que usava “um boné de basebol com um símbolo branco na frente e óculos escuros”.

O sargento disse que esse agente costumava levar os mesmo óculos de sol para o trabalho e afirmou ainda que, nessa semana, Goicoechea trabalhou quase todos os dias, à exceção de quinta-feira, quando tirou folga sem dar qualquer explicação. Após o testemunho do sargento, David Goicoechea foi detido e acusado de “crime contra a administração publica”, recusando-se a prestar qualquer declaração às autoridades, detalha o El Mundo.

Por último, foi ainda identificado um outro agente detido em virtude da fuga de Puidgemont. A sua detenção não é novidade, mas sabe-se agora que se trata de Jordi Rodrigo, que está agora também em liberdade condicional. O agente era o proprietário do Honda branco usado para a fuga, tendo emprestado o seu veículo à tenista.