História. Paixão. São estas as duas palavras que marcam a edição de 2024 da Volta a Espanha em bicicleta. São as duas palavras que unem dois países irmãos que se juntam pela segunda vez para promover a festa do ciclismo que é muito mais do que isso. Quase três décadas depois, a Vuelta volta a partir de Portugal, por onde estará até à próxima segunda-feira.

A história que ganha um novo capítulo por estes dias teve início em 1997, ano em que, pela primeira vez, a Vuelta rumou ao estrangeiro para assinalar o início de mais uma edição. Quis o destino que a primeira partida pertencesse a Portugal. Num evento que serviu de antecâmara para a Expo que decorreu em Lisboa no ano seguinte, os ciclistas partiram da capital e, ao longo de três dias, percorreram a zona centro e sul do país. 22 etapas depois, o suíço Alex Zülle foi coroado vencedor em Madrid.

O cenário volta a ser semelhante 27 anos depois. A terceira Grande Volta do calendário regressa a Portugal, numa organização conjunta entre os dois países da Península Ibérica que serve ainda de exemplo para o Campeonato do Mundo de 2030, que vai decorrer em Portugal, Espanha, Marrocos, Argentina, Paraguai e Uruguai. Lisboa acolhe a partida, mas desta vez a prova não ruma a sul, permanecendo na região centro — Oeiras, Cascais, Ourém, Lousã e Castelo Branco recebem as partidas e chegadas. Ao cabo de 21 etapas e 3.304 quilómetros, a Vuelta terminará em Madrid.

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Depois de Lisboa-1997, Assen-2009, Nimes-2017 e Utrecht-2022, a corrida espanhola partirá pela quinta vez do estrangeiro. Já engalanada para receber os 176 ciclistas, a capital portuguesa recebeu, esta quinta-feira, a apresentação oficial das equipas, que decorreu numa das zonas mais bonitas e turísticas da cidade, em Belém, junto à Torre. E a história voltou a estar presente.

Numa tarde repleta de calor na capital portuguesa, a festa começou-se a fazer ainda antes das 19h. Com alguns turistas e curiosos a juntarem-se ao palco instalado à frente da Torre de Belém, junto ao jardim, a DJ espanhola Neus Gonzalez subiu ao palco, distribuiu merchandising e animou os presentes com muita música espanhola e… brasileira — nesta festa portuguesa, pouco ou nada se escutou música portuguesa.

Ainda assim, a cultura e a história do país estiveram presentes, com o início da festa a ser feito com uma recriação histórica das Unidades de Ciclistas do Exército Português, com as bicicletas utilizadas durante a I Guerra Mundial a subirem ao palco. Falamos de bicicletas que foram feitas como unidades de infantaria e utilizadas como meio de transporte e combate, permitindo que os soldados tivessem mobilidade e poder de fogo.

Já com o sol a pôr-se no horizonte, começou a festa propriamente dita. Antes, destaque para as chegadas dos autocarros das equipas e para calorosa receção para João Almeida (UAE Team Emirates), Rui Costa (EF Education-EasyPost) e Nelson Oliveira (Movistar). Os atletas foram apresentados um a um e chegaram ao palco — e fizeram o caminho inverso — depois de passarem pelo meio da afición e, como não podia deixar de ser, o foco esteve no trio português, que foi muito saudado para tirar fotografias e distribuir autógrafos. Pelo meio, a banda espanhola Miss Caffeina subiu ao palco, ou não estivéssemos numa festa à moda do país vizinho.

Rui Costa foi o primeiro português a pisar o palco, levando rapidamente uma grande ovação da multidão. “É um enorme gosto, orgulho e um sentimento de felicidade estar em Portugal, junto dos portugueses, que têm sido impecáveis ao longo da minha carreira. A equipa está focada em ajudar o líder [Richard Carapaz] e, se surgir oportunidade, seria interessante lutar por uma etapa. Depois da queda no Algarve, tudo foi modificado. Tive que enquadrar todas as corridas e poder estar aqui é uma alegria enorme e um esforço saudável da minha parte. As pernas estão ok e quero dar o melhor por todos vocês”, partilhou o vencedor da 15.ª etapa do ano passado.

Seguiu-se Nelson Oliveira, que não precisou de dizer muito para rapidamente ser interrompido pelos gritos dos presentes, que pediram a vitória na primeira etapa. “É muito bom estar junto ao povo português, que está sempre no meu coração. Vai ser bom começar com uma contrarrelógio. Vou dar o meu melhor, como sempre. É muito importante mostrarmos o nosso país. Temos muito bons ciclistas”, sublinhou o ciclista de 35 anos, que venceu uma etapa da Vuelta em 2015.

Por fim, João Almeida, e, claro está, uma ovação ainda maior, ou não estivéssemos a falar de um dos favoritos a vencer esta edição. “Vou certamente dar o meu melhor. Temos uma equipa muito forte e várias ambições. Esperemos que tudo corra bem até Madrid. Estou muito emocionado, vai ser um apoio incrível. Espero desfrutar deste momento”, realçou o nono classificado da última Vuelta.