Figuras do cinema, antigos colegas de cena, mas também personagens de outros quadrantes da nação. Todos se unem nas palavras que evocam Alain Delon, o astro que morreu este domingo, pacificamente, aos 88 anos, segundo anunciaram os seus três filhos. “Acabou-se o baile. Tancredi foi dançar com as estrelas…”, reagiu a atriz italiana Claudia Cardinale, que com ele contracenou na longa de culto “O Leopardo”, de Luchino Visconti (1963), resgatando a personagem desempenhada no grande ecrã por Delon. “A tristeza é muito intensa. Associo-me à dor de seus filhos, seus entes queridos, seus fãs…. (…) Per sempre tua (Sempre tua), Angelica”,” despediu-se.

Poucas horas depois, era a vez de Brigitte Bardot, outro ícone, agora no feminino, assumir-se “devastada” com o desaparecimento de “um amigo precioso e um homem de grande coração”.

“Hoje, temos o coração pesado ao saber da morte de Alain Delon, um homem excecional, um artista inesquecível e um grande amante dos animais. Alain era muito mais do que um ícone cinematográfico. Seu compromisso marcou nossos corações. Patrono do nosso primeiro Natal dos Animais, apoiou a nossa Fundação com rara generosidade. Alain também era amigo íntimo de nossa presidente Brigitte Bardot, que está devastada com a sua morte. A amizade deles, baseada no amor compartilhado pelos animais e no compromisso compartilhado com seu bem-estar, era preciosa e sincera.”, manifestou-se a atriz através da sua fundação.

Pelo próprio punho, numa nota manuscrita, apesar também ela dos seus 89 anos, e das conhecidas debilidades físicas, acrescentou ainda algumas palavras. “Ele representou o melhor do ‘cinema de prestígio’ na França. Um embaixador da elegância, talento, beleza“, escreve “BB” sobre seu amigo. “Perdi um amigo, um alter ego, um cúmplice. Compartilhamos os mesmos valores, as mesmas deceções, o mesmo amor pelos animais.”

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“Estou profundamente triste com a partida de Alain Delon, embora já a temêssemos há algum tempo. Nunca estamos preparados para a partida de alguém que sempre admirámos e amámos. Alain é o ídolo da minha juventude. Tive a oportunidade de produzir este famoso dueto, Paroles, Paroles com sua amiga Dalida. Um sucesso que deu a volta ao mundo. Dalida e Alain começaram as suas carreiras juntos em 1956, eram vizinhos e sua amizade nunca quebrou”, recordou Orlando, irmão de Dalida e antigo produtor/manager, recordando esse dueto mítico de 1973 que juntou a cantora e Alain Delon aos microfones.

Autor e realizador, também Philippe Labro foi dos primeiros a despedir-se do amigo através do X (antigo Twitter).

Símbolo da nação, apesar da figura polarizadora, coube ao Presidente Emmanuel Macron saudar um “monumento francês” que “fez sonhar o mundo inteiro”.

Já o primeiro-ministro Gabriel Attal, elogiou a “estrela popular” que “transcende todas gerações”.

Rachida Dati, a ainda ministra da Cultura do governo francês (em gestão desde as eleições de julho), também recordou Delon através de uma mensagem em que recordou as “várias vidas” de um ator que representou “todos os papéis”, do polícia ao bandido, e que se tornou “um dos maiores atores do cinema mundial”.

“Deixa a França órfã da sua mais bela encarnação na tela”, escreveu Dati, que lembrou que Delon preferiu a França a Hollywood e “manteve-se sempre fiel ao cinema de autor”.

“A sua imensa carreira e elegância incomparável ficarão gravadas na memória. Alain Delon incorporou a grandeza de uma arte, ele era a alma de uma época.”, sublinhou também no X Jordan Bardella, líder da União Nacional de Marine Le Pen, que também e manifestou na mesma rede social. “A lenda foi-se. Alain Delon deixa-nos órfãos da era de ouro do cinema francês que ele incorporou tão bem. É uma pequena parte da França que amamos que morre com ele”. Era público e confesso o alinhamento à direita do ator, que se referia a Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional, como “como meu grande amigo”.

Morreu Alain Delon. Ator francês tinha 88 anos

O ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy resumiu: “Foi o mais francês dos nossos atores e, ao mesmo tempo, o mais internacional.” O ator espanhol Antonio Banderas publicou três fotografias de Alain Delon e escreveu na rede social X: “Adeus #ALAINDELON R.I.P”.

Já cantora francesa Carla Bruni escreveu no Instagram: “Adeus Alain Delon… Não esqueceremos todo o talento, toda a graça e toda a beleza que trouxeste a este mundo. Não esqueceremos o carisma, a voz, a silhueta, o rosto e a melancolia, essa profunda e estranha tristeza. É raro encontrar tanta graça e tanta tristeza misturadas no mesmo ser humano”.

Antonio Barbera, diretor do Festival de Cinema de Veneza, escreveu em comunicado: “Alain Delon conseguiu o que a maioria dos seus colegas falhou: ser considerado o homem mais bonito do mundo e ao mesmo tempo um ator extraordinário. Se hoje ele deixa os seus restos mortais, é para subir ao Olimpo do Imortais, dos que lembraremos para sempre”. Também o ex-presidente do Festival de Cinema de Cannes, Gilles Jacob, prestou a sua homenagem. “Um leão majestoso, um ator com olhar de aço, uma beleza insolente, um samurai inesquecível que combina sobriedade, controle, uma presença ao mesmo tempo gentil e carnívora, lucidez, uma carreira triunfante, amores tão lindos”, escreveu.

Paul Belmondo, filho de outra lenda e contemporâneo de Delon, evocou o dia em que Alain admitiu ter saudades de Jean-Paul, um outrora rival tornado amigo, que partiu em 2021. “Alain, hoje é você quem fará muita falta. Descanse em paz.”

A televisão pública francesa também prestou homenagem a Alain Delon, nomeadamente através da alteração da grelha do canal generalista France 2, o principal canal público do país e o segundo canal mais visto de França. A partir das 21h, a France 2 vai transmitir Le Samouraï (1967), do realizador Jean-Pierre Melville. Às 22h55, a France 2 transmite A Piscina (1969), de Jacques Deray.

O Le Figaro dá conta de como em Douchy, o último local de residência de Alain Delon, os fãs do ator começam a reunir-se para prestar-lhe uma última homenagem, depositando flores em frente aos portões da propriedade.