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A Região Autónoma da Madeira precisa de mais um meio aéreo permanente de combate a incêndios ou, em alternativa, de receber reforços nos “momentos oportunos”, consideram dois especialistas em operações de socorro.

É hoje uma conclusão óbvia, que ninguém contesta, que é necessário dotar o território da Região Autónoma da Madeira, em particular nos meses de maior incidência do risco florestal, de um reforço de um meio aéreo”, afirma Duarte Caldeira, presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil.

Em declarações à Lusa a propósito do incêndio que deflagrou na Madeira na quarta-feira nas serras da Ribeira Brava, propagando-se no dia seguinte ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol, o antigo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses realça que, no caso em concreto, esse meio deveria ser um helicóptero, pela mobilidade que permite.

Contactado sobre o mesmo assunto, o atual presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, reconhece a importância de reforçar os meios no terreno, mas em “equilíbrio” com a eficácia e a gestão dos recursos disponíveis.

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“É evidente que poderíamos sempre colocar mais meios, mas a questão que depois tem que ser conjugada é […] a capacidade que há para podermos, em todas as circunstâncias, tirar o maior proveito possível dos meios estacionados”, sublinha António Nunes, assinalando que “os meios são sempre um bem escasso”.

“Não posso estar a dizer, neste momento, que tecnicamente é aconselhável ter dois, três, quatro meios aéreos, porque, eventualmente, se tivessem três meios aéreos, estávamos a discutir o quarto meio aéreo”, observa, notando que não tem “os dados todos” para avaliar.

Além disso, “esses mais meios podem também ser meios que possam ser transportados nos momentos oportunos”, contrapõe o presidente da Liga dos Bombeiros, aconselhando prudência.

“Essa avaliação técnica tem que ser feita com algum cuidado, não no momento em que estamos a falar de um incêndio em concreto”, salienta.

A ativação do meio aéreo disponível na Madeira — que integra o dispositivo do Plano Operacional de Combate a Incêndios Florestal da Madeira desde 2018 — gerou polémica durante muitos anos e Duarte Caldeira admite que existem “diversas dimensões de natureza técnica que têm que ser equacionadas”.

Por exemplo, “a rentabilização do helicóptero, em muitas circunstâncias, não é possível concretizar”, dada a orografia do território, em particular das zonas afetadas pelo incêndio que lavra agora na ilha da Madeira.

Ao mesmo tempo, “quando há muito fumo ou quando existem condições de visibilidade que põem em causa ou que comprometem a segurança da operação da aeronave, obviamente que ela não pode operar”, ressalva.

A utilização de meios aéreos na Madeira tem sido motivo de discussão, mas Duarte Caldeira recorda que um estudo realizado em 2017 pela Autoridade Nacional de Proteção Civil constatou “que havia efetivamente condições para operar meios aéreos no combate a incêndios florestais no território”.

Isso leva-o a concluir que, no caso da Madeira, “é indiscutível e está identificado há muito tempo que um helicóptero, só por si, é insuficiente para o combate a um incêndio florestal com as características daquele que há sete dias está a ocorrer”.

Claro que ter mais meios aéreos não é suficiente, “é preciso também prevenir a necessidade de infraestruturas, nomeadamente planos de água ou, no caso dos helicópteros, pontos de água, pontos de abastecimento, de modo a que o meio aéreo a utilizar tenha condições de reabastecimento em tempo útil”.

Além disso, recorda, os meios aéreos são importantes, “mas que fique claro que os incêndios são extintos em terra”.

Na sequência dos incêndios que assolaram a zona do Funchal em agosto de 2016, causando três mortos e 157 milhões de euros em prejuízos, o Governo Regional da Madeira aprovou, em 2017, a utilização de meios aéreos no combate a incêndios em áreas florestais e urbanas na região entre 15 de junho e 15 de outubro de cada ano, pelo preço de 1,2 milhões de euros, suportado pelo orçamento regional.

Esta terça-feira, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, disse que o Governo “vai avaliar” o pedido de reforço permanente de meios aéreos para o combate aos incêndios na Madeira, mas realçou que ainda é prematuro fazer essa análise.

Margarida Blasco recusou comentar a indecisão do Governo Regional madeirense em requisitar a ajuda do executivo central, frisando que o contingente pedido “foi concedido de imediato”, seguindo para a região 78 elementos no fim de semana, aos quais se juntaram, na segunda-feira, mais operacionais provenientes dos Açores.

As ilhas da Madeira e do Porto Santo estão sob aviso amarelo até às 24h00 de quarta-feira devido ao tempo quente, indicou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

O incêndio rural na Madeira deflagrou na quarta-feira nas serras da Ribeira Brava, propagando-se no dia seguinte ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol.

Nestes sete dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.

O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais. Uma bombeira recebeu assistência hospitalar por exaustão, não havendo mais feridos.

Projeções do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, citadas pelo Governo Regional, apontam para sete mil hectares ardidos.

A Polícia Judiciária está a investigar as causas, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, diz tratar-se de fogo posto.