“Não era desta forma que tinha idealizado terminar a Vuelta… Infelizmente, contratempos e percalços fazem parte do percurso e temos de os saber enfrentar e ultrapassar. Pela minha saúde e dos meus companheiros de equipa/pelotão, só me resta recuperar desta infeção viral e focar nos próximos objetivos. Obrigado à UAE Team Emirates por sempre cuidar de mim da melhor forma e a todos vós pelo grande apoio! Certamente voltarei mais forte.”

De forma quase esperada, a manhã deste domingo começou com o anúncio do abandono de João Almeida da Volta a Espanha. Depois da etapa de Cazorla, onde revelou dificuldades desde início, o português caiu a pique na classificação geral e não tinha sequer condições físicas para aguentar mais uma tirada até ao descanso por todos os problemas causados pela Covid-19. Para a Vuelta, abria-se uma janela de oportunidade para vários corredores que procuravam um lugar no pódio no final da primeira semana; para a UAE Team Emirates, depois o rude golpe, o futuro passaria só por tentar ganhar algumas etapas. Afinal, havia um plano B.

Numa etapa atípica em que o pelotão voltou a andar demasiado adormecido para aquilo que era necessário, sobretudo no que toca à Red Bull-Bora de Primoz Roglic, houve um grupo que foi aumentando de número até aos 26 corredores em fuga logo na primeira de três subidas de primeira categoria do dia. Não era um grupo qualquer ou não estivessem por ali alguns daqueles corredores que mais queriam galgar posições em busca de um “momento Ben O’Connor” como o que colocou o australiano na liderança em Yunquera com seis minutos e meio de vantagem em relação aos favoritos. Ninguém ligou muito. Depois, tiveram de “ligar”.

Adam Yates aproveitou o trabalho fantástico feito por Marc Soler e Jay Vine para disparar para a vitória com quase 60 quilómetros de fuga sozinho e a sofrer com cãibras até em zonas teoricamente mais fáceis para rolar (e o calor também não ajudava nada). O britânico, promovido a chefe de fila com a saída de cena de Almeida, chegou mesmo a ter 6.50 minutos de vantagem em relação ao pelotão onde rodavam O’Connor e Roglic. Só aí haveria um toque de alarme para o que se estava a passar, não só com Yates mas também com Richard Carapaz, que entretanto saltara também do grupo para procurar a sua sorte. Ainda assim, e apesar dessa minimização de danos perante o cenário montado, a primeira semana acabou com tudo em aberto.

Adam Yates terminou com um avanço de 1.35 minutos em relação a Carapaz e 3.50 minutos de um grupo onde entraram Ben O’Connor, Primoz Roglic ou Enric Mas, que só não conseguiu mais porque a certa altura da descida, quando arriscava para ganhar segundos à concorrência, viu a correia saltar colocando em perigo o espanhol numa curva (teve apenas tempo para evitar uma queda feia, perdendo vários segundos e o ritmo com que estava a enfrentar esse troço). Quer isto dizer que a UAE Team Emirates volta a ter um candidato à vitória? Isso pode ser complicado de arriscar. No entanto, existe uma certeza: sem pressão após o infortúnio de João Almeida, a equipa reabriu as suas hipóteses em termos de geral e de triunfos em mais etapas.

Ben O’Connor, da Decathlon AG2R, entra no dia de descanso, que irá permitir viagens de avião até à Galiza, com um avanço de 3.53 minutos, sendo que Carapaz subiu 15 posições e encontra-se agora em terceiro da geral a 4.32 do australiano. Seguem-se Enric Mas (Movistar, 4.35), Mikel Landa (Soudal Quick-Step, 5.18), Florian Lipowitz (Red Bull-Bora, 5.29), Adam Yates (UAE Team Emirates, 5.30 com uma ascensão de 20 lugares nesta etapa de domingo), Felix Gall (Decathlon AG2R, 5.30), Carlos Rodríguez (Ineos Grenadiers, 6.00) e David Gaudu (Groupama FDJ,6.32). Ou seja, e quase “do nada”, Yates sucedeu a Almeida ficando a menos de um minuto do pódio e 1.37 minutos de Roglic, sendo que O’Connor será o alvo de todos.

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