A Câmara de Lisboa vai lançar ainda esta semana uma aplicação que permitirá aos cidadãos obterem informação sobre o risco sísmico dos edifícios que habitam, disse esta segunda-feira à Lusa a coordenadora do programa municipal ReSist.

Em declarações à Lusa, no final de uma intervenção na conferência europeia sobre mecânica dos solos e engenharia geotécnica, que decorre esta segunda-feira em Lisboa, a geóloga Cláudia Pinto explicou que a aplicação – LxReSist – vai elencar as prováveis vulnerabilidades sísmicas de um determinado edifício, tendo em conta a sua idade, e que ações podem ser adotadas para prevenir esse risco.

A coordenadora referiu que a aplicação, destinada ao cidadão comum, está “praticamente pronta” e que o episódio sísmico ocorrido esta madrugada vai acelerar a sua apresentação pública.

Cláudia Pinto adiantou que ainda esta segunda-feira irá participar em reuniões na autarquia com o objetivo de desencadear essa divulgação.

A propósito do abalo de 5.3 na escala de Richter sentido esta madrugada, a geóloga reiterou a importância de ter um comportamento proativo, em vez de reativo, e recordou que todos podem fazer algo para prevenir o risco sísmico.

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Cláudia Pinto apontou duas ações simples: ter um kit de emergência (composto por uma mochila com água essencialmente) e verificar a segurança dos móveis.

“As pessoas têm que manter a calma e têm que saber que podem fazer algo antes de o sismo acontecer”, aconselha.

Temos as autoridades preparadíssimas, temos serviços municipais, planos de emergência, os nossos agentes de primeira resposta estão bastante preparados para aquilo que é o evento [sísmico]”, garante, reconhecendo, simultaneamente, que a resposta será tanto melhor quanto todos “nos prepararmos antes”.

“Quantos de nós têm um kit de emergência? Isto é algo que é facílimo de fazer, é uma mochila com água”, realça.

Um sismo como o registado esta segunda-feira não afetou as estruturas, mas bastava a magnitude ter sido um pouco mais elevada e podia ter derrubado móveis, por exemplo.

Esses móveis estão “devidamente fixados na parede?”, perguntou a responsável.

“A chave é, mais do que […] ter o mapa, ter a carta […], o que é que eu posso fazer para melhorar e para isso eu não preciso de estar à espera de nenhum mapa, nem preciso que ninguém me diga que estou num quarteirão vulnerável, há coisas que eu posso fazer por mim e posso fazer para melhorar o edifício”, destacou.

O comportamento reativo “é um bocado cultural” entre os portugueses, constata a geóloga, apelando a uma mudança: “Ter um comportamento proativo e saber antes com quem é que eu me posso informar, como é que eu posso avaliar o estado do meu edifício, antes de acontecer e isso é algo que está ao alcance de todos.”

Em conversa com a Lusa em dezembro de 2022, Cláudia Pinto referiu que a CML iria disponibilizar, “muito em breve”, uma “ficha de resiliência” com informação à população sobre os edifícios.

Esta segunda-feira, a responsável referiu que essa ficha “não está ainda disponível”, acrescentando que a autarquia está “a tentar disponibilizar” essa ferramenta “mais dirigida a projetistas” o quanto antes.

“Estamos ainda a trabalhar […], estamos a ter alguma dificuldade com a integração da informação de subsolo, mas é um problema mais informático do que propriamente técnico”, justificou.

Concluído está o estudo de avaliação sobre a resistência sísmica do edificado de Lisboa pedido ao Instituto Superior Técnico, na base do qual o presidente da CML, Carlos Moedas, mencionou esta segunda-feira que “só 10%” dos edifícios [municipais] precisam de reforço” antissísmico.

O estudo avaliou 50 edifícios municipais habitacionais e depois aplicou uma matriz que permitiu replicar as características registadas em 1.500 edifícios (dos cerca de 4.500 detidos pela autarquia).

“Conseguimos ter uma ideia de qual era o comportamento dos edifícios municipais”, sublinhou, adiantando que estão agora a pensar como disponibilizar a informação do estudo.

“Confesso que estava à espera que pudéssemos ter alguns edifícios em pior situação”, reconheceu, sublinhando que os 10% de edifícios municipais “em risco de colapso” no caso de sismo foram construídos até 1958 e não tinham qualquer regulamentação antissísmica.

Estes dados iniciais vão permitir agora desencadear “uma análise mais detalhada” e, em função dessa, “uma vistoria com equipas técnicas”.

Um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter com o epicentro localizado 58 quilómetros a oeste de Sines, no distrito de Setúbal, foi registado às 05h11 desta segunda-feira , sem causar danos pessoais ou materiais.

O sismo teve uma intensidade máxima de IV/V na escala de Mercalli, classificada como moderada a forte, sendo seguido de pelo menos quatro réplicas, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

O abalo foi sentido em várias zonas de Portugal e com maior intensidade nas regiões de Setúbal e Lisboa.