Acompanhe aqui o liveblog sobre o conflito no Médio Oriente

A morte de seis reféns, encontrados pelas forças militares israelitas na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, está a incendiar os ânimos em Israel, com a contestação ao governo israelita — e sobretudo ao primeiro-ministro Netanyahu — a subir de tom devido à falta de um acordo que permita o regresso dos reféns a casa. Este domingo, Telavive está a ser palco da maior manifestação dos últimos 11 meses e já se registaram confrontos com a polícia. A partir desta segunda-feira, está convocada uma greve geral por tempo indeterminado.

Entre os seis reféns encontrados sem vida (quatro homens e duas mulheres, com idades entre os 23 e os 40 anos) estão o israelo-norte-americano Hersh Goldberg-Polin, de 23 anos, Ori Danino, de 25 anos, Eden Yerushalmi, de 24, Almog Sarusi, de 27, Alexander Lobanov, de 33 — todos raptados no festival de música Supernova — e Carmel Gat, de 40 anos, raptado na comunidade de Be’eri.

A notícia de que os seis reféns tinham sido todos mortos “com vários tiros disparados à queima-roupa” apenas 48 a 72 horas antes, segundo uma autópsia divulgada pelo Ministério da Saúde, inflamou os israelitas, que acreditam que um acordo de cessar-fogo teria evitado as mortes. Cerca de 300 mil pessoas saíram este domingo à noite às ruas de Telavive para se manifestarem contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Nos arredores da cidade, os manifestantes bloquearam autoestradas, chegando mesmo a criar barricadas com pneus a arder.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Depressa várias centenas de manifestantes ultrapassaram as barreiras de segurança e envolveram-se em confrontos com as forças de segurança. A polícia respondeu com canhões de água e granadas de choque. Há registo de pelo menos 29 detidos.

“Venho aqui quase todas as semanas e posso dizer que esta manifestação é pelo menos dez vezes maior do que os protestos que fazemos todos os sábados”, disse Roni Ben Aharon, que se manifesta pelo menos uma vez por semana desde o dia 4 de janeiro.  Elisa, uma mulher idosa de origem argentina, tem a mesma impressão, depois de ter participado nos protestos semanais durante quase um ano: “Isto é um terramoto, nunca vi tanta gente na rua”, explica emocionada. Elisa também vê que a presença de jovens é uma mudança em relação às manifestações semanais na “Praça dos Reféns”, em Telavive.

Entre os manifestantes encontram-se grupos de adolescentes, estudantes universitários e até grupos de escuteiros com cartazes dirigidos a Netanyahu com mensagens como “Tu és o líder, tu és o culpado”, embora muitos deles, menores de idade, prefiram não falar aos meios de comunicação social, refere a agência EFE. “É definitivamente por causa da falta de acordo, é por isso que eles foram mortos”, lamenta Elisa.

Também na cidade portuária de Haifa, no norte do país, milhares de pessoas bloquearam as entradas, agitando a bandeira nacional.

“Quem assassina reféns não quer um acordo”, responde primeiro-ministro

Os protestos em todo o país ao longo dia tiveram epicentro em Telavive, e chegaram a cidades como Jerusalém e Haifa. Os manifestantes veem nas seis mortes uma oportunidade para pressionar o governo a chegar a um acordo de cessar-fogo com o Hamas. Mas Netanyahu rejeita responsabilidades e aponta o dedo ao grupo terrorista palestiniano. “Quem assassina reféns não quer um acordo”, afirmou, acusando o Hamas de ter posto em causa os esforços de cessar-fogo em curso.

Um funcionário israelita, que falou sob a condição de anonimato, adiantou entretanto que três dos reféns – Goldberg-Polin, Yerushalmi e Gat – deveriam ter sido libertados na primeira fase de uma proposta de cessar-fogo, discutida em julho — o que acabou por não acontecer devido às sucessivas falhanços das negociações.

Já na noite de sábado, quando as Forças de Defesa de Israel revelaram que tinha encontrado corpos em Gaza, os familiares dos reféns culparam Netanyahu pelo desfecho e prometeram que o país iria “tremer”. “Netanyahu abandonou os reféns. Agora, é um facto”, acusaram as famílias. “A partir de amanhã [domingo], o país vai tremer. Apelamos ao público para que se prepare. O país irá parar”, avisaram.

Os protestos prometem continuar durante toda a semana, uma vez que a maior organização sindical de Israel, a Histadrut, anunciou uma greve geral a partir de segunda-feira, que incluirá o Aeroporto Internacional de Telavive.

“Tomei a decisão de parar a economia”, diz líder do maior sindicato israelita

“Esta tarde, tomei a decisão de parar a economia israelita. O país está a caminho da ruína política. Isto tem de parar. Amanhã de manhã, ninguém em Israel irá trabalhar … incluindo portos, fábricas e escritórios. Estou aqui para lutar para que ninguém fique para trás! Não faz sentido que nossos filhos morram em túneis por causa de considerações políticas“, disse Arnon Bar-David, o presidente da Histadrut, citado pelo Haaretz.

As negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas continuam sem um horizonte claro e muitos manifestantes consideram como o maior impedimento para conseguir o regresso dos prisioneiros as exigências do primeiro-ministro – controlar o corredor de Filadélfia, que separa Gaza do Egito, e o corredor de Netzarim, que agora separa o norte e o sul de Gaza.

Michal e Ofri, ambos na casa dos 30 anos, consideram que a devolução dos prisioneiros deve ser a prioridade, em relação à “vitória total” em Gaza – que Netanyahu defende há meses.