A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, deixou críticas a Pedro Nuno Santos perante a possibilidade de o PS poder viabilizar o Orçamento de Estado para o próximo ano. No discurso da rentrée política, Mortágua também visou o Governo, criticando o que diz ser o fracasso do executivo de Luís Montenegro nas áreas da saúde e da habitação.

No encerramento do Fórum Socialismo, em Braga, Mortágua lembrou que o secretário-geral do PS dizia, antes das eleições, que “seria muito difícil ter PS e PSD comprometidos com a mesma governação” e que “face à maioria de direita”, não seria o “PS a suportar um governo da AD”. Por isso, lembrou a líder do Bloco, Pedro Nuno Santos sublinhava que “era praticamente impossível viabilizar o Orçamento”.

Agora, perante a possibilidade de os socialistas viabilizarem o Orçamento de Estado para 2025, Mariana Mortágua deixou um aviso ao líder do PS: “Espero não ver o PS a cair em semelhante truque para uma viabilização de um orçamento, que era praticamente impossível. Quem viabiliza o Orçamento da direita, suporta o Governo da direita. Quem suporta o Governo da direita, não faz oposição à direita. Quem não faz oposição à direita, não representa uma alternativa política a esse Governo”, realçou.

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Governo defende “privilégios” na saúde e habitação, diz Mortágua

Para Mariana Mortágua, os primeiros cinco meses de Governo da Aliança Democrática são caracterizadas por “fracassos” em duas áreas: a saúde e a habitação. “Falharam porque trabalham para os mesmos interesses que ganham com a crise da saúde e da habitação. Ao abandono e à falta de coragem que o PS teve para resolver esses problemas, o PSD está a acrescentar agora uma dose de revanchismo e de incompetência, de defesa despudorada do maior privilégio de quem ganha com o que é essencial à vida de todos“, acusou a coordenadora bloquista, perante os presentes na escola secundária Alberto Sampaio.

No que diz respeito à habitação, Mariana Mortágua sublinhou o crescimento continuado da capacidade hoteleira no país. “Só nos primeiros dez meses de 2024, foram licenciados em Lisboa e Porto mais 3400 camas de hotel. E o povo, que trabalha para construir o país de que os milionários e os turistas tanto gostam?”, questionou, destacando o que diz ser o contraste entre a resposta do poder político ao aumento do turismo em Portugal e no estrangeiro.

“Em todo o lado há cidades e países que tentam limitar o turismo para terem mais habituação. Em Portugal, Rui Moreira, Carlos Moedas, Miguel Albuquerque e Luís Montenegro em todo o país formam uma coligação que fala a uma só voz: mais turismo, mais especulação, mais luxo. O direito à habitação vale muito mais do que os outros de meia dúzia de especuladores”, defendeu Mariana Mortágua.

SNS. Plano é pagar ao privado para “fazer pior”, diz coordenadora do Bloco

Já na área da saúde, a coordenadora do Bloco de Esquerda acusou o Governo de não ter resolvido os problemas do SNS e de privilegiar os grupos privados. “É plano atrás de plano. Primeiro teríamos soluções em 60 dias. Mas abrimos os jornais e o que temos são urgências fechadas, crianças a nascer em ambulâncias e ninguém sabe com o que conta quando tem um problema de saúde e precisa de recorrer ao SNS”, lamentou. “O problema não é a incompetência. Os ministros e o Governo do PSD não são incompetentes. O plano é esgotar as capacidades do SNS para privatizar as suas valências, pagando ao privado mais para fazer pior do que o SNS fazia melhor. Os olhos dos grupos privados da saúde não veem utentes, só veem oportunidades de negócio”, salientou Mariana Mortágua.

A coordenadora do Bloco de Esquerda instou o Governo a aumentar de forma significativa os vencimentos dos profissionais de saúde do SNS. “Há uma proposta muito simples: 20% de aumento para todos os salários do SNS e 40% de aumento para todos os profissionais que aceitarem ficar em regime de exclusividade. Sem truques e condições. Está aqui uma proposta”, disse.

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Mariana Mortágua criticou ainda o IRS Jovem, classificando o regime proposto pelo Governo como “a reforma fiscal mais injusta e regressiva desde que Maria Luís Albuquerque fazia parte do Governo e Luís Montenegro era o líder da maioria parlamentar”. “A quem serve? A futebolistas de sucesso, a nómadas digitais que se querem instalar em Portugal, meia dúzia de sortidos e dúzia e meia de herdeiros. Quem não vai beneficiar é a maioria dos jovens que vive em Portugal, que ganha mil euros por mês“, realçou, referindo-se ainda a outra bandeira do Governo, a descida do IRC.

“A mesma injustiça que temos no IRS jovem é a que temos no IRC. O imposto sobre os lucros que é pago pelas maiores empresas (que usam os recursos nacionais, que vão às faculdades públicas buscar as pessoas formadas com os impostos que nós pagamos). É dessas empresas que estamos a falar. O que o Governo diz é que vai baixar 30% dos impostos destas empresas, 2500 milhões de euros”, criticou, classificando a proposta como “uma reforma fiscal de privilégio para uma pequena elite em Portugal”.

“Este é um Governo dos ricos, um Governo saudosista da troika”, diz Mortágua sobre escolha de Maria Luís Albuquerque

“É a ideia de que enriquecer os mais ricos faz bem ao crescimento económico. É mentira, a única coisa que cresce são as fortunas de quem é mais rico. O país não cresce, não cria emprego”, defendeu, acusando o executivo do PSD e CDS de ter como objetivo “concentrar riqueza, para servir os donos disto tudo”.

Mariana Mortágua aproveitou ainda para criticar a escolha de Maria Luís Albuquerque para comissária europeia. “A escolha de Maria Luís Albuquerque o que diz é que este é um Governo dos ricos, um Governo saudosista da troika, que vai reciclar os protagonistas desses tempos”.

Sobre o conflito entre Israel e o Hamas, a coordenadora do Bloco de Esquerda diz que o que está a acontecer na Faixa de Gaza é um “genocídio” perpetrado por Israel e acusou o Governo de ter ficado em silêncio perante  o incidente que envolveu um carro onde seguia uma equipa de reportagem da RTP, na Cisjordânia. “A cobardia do Governo português, escondido atrás dos EUA, um governo que se cala perante o facto de um carro da televisão pública portuguesa ter sido alvejado pelo exército israelita”, sublinhou, acrescentando que “o extermínio e a desumanização do povo da Palestina é uma limpeza étnica”.