O nível do caudal da água do rio Amazonas desceu de forma drástica devido à falta de chuva, prejudicando severamente a navegação dos barcos que transportam cereais para exportação e, consequentemente, as comunidades.
Vários rios do Brasil viram o seu caudal reduzido. O Serviço Geológico do Brasil alertou para o facto de o rio Solimões — que está na cabeceira da bacia do Amazonas – estar a enfrentar a maior seca da história com uma cota de 94 cm cúbicos em Tabatinga. Além disso, este rio verificou uma redução de 16 centímetros cúbicos em 24 horas, avança a Reuters.
Já no ano passado o rio Negro — um dos principais afluentes do rio Amazonas — registou o menor caudal de águas em 121 anos segundo dados de monitorização hidrológica divulgados pelo Serviço Geológico do Brasil.
Afluente do rio Amazonas atingiu menor caudal de água em 121 anos
De acordo com o 35.º Boletim Hidrológico da bacia do rio Amazonas, no período analisado entre 30 de julho e 28 de agosto de 2024, o rio Amazonas apresentou as maiores descidas diárias, na ordem de 18 cm cúbicos em Itacoatiara e 14 cm cúbicos em Parintins, onde os níveis estão abaixo normal para a época.
A redução do caudal do rio Solimões em Tabatinga preocupa os empresários de Manaus pois é aí que se situa o porto que permite aos passageiros viajar de barco para a cidade. Também o rio Negro é motivo de preocupação porque no período de um ano reduziu três metros na sua profundidade, passando de 24 para 21 metros.
Preocupadas as empresas da região pediram obras de drenagem, avança a Reuters. No rio Madeira estas obras já começaram, uma vez que, apenas embarcações de baixo calado conseguiam passar, declara o Departamento de Infraestrutura de Transportes do governo do Brasil (DNIT), informa a mesma fonte.
A drenagem desempenha um papel crucial na limpeza e remoção de sedimentos do fundo das águas, preservando a navegabilidade e a integridade dos ecossistemas aquáticos, reforça o DNIT.
Além do condicionamento da navegação de barcos que transportam cereais para exportação, o baixo nível do caudal da água do rio Amazonas também está a prejudicar as comunidades da região que não podem viajar para comprar alimentos. O ecossistema aquático está igualmente a ser prejudicado com a morte dos peixes devido à seca dos rios, limitando a pesca.
Ao G1, a vendedora de peixe, Tayane Paz, relembrou as dificuldades enfrentadas no ano passado. Tayane contou que foi complicado conseguir água potável e fazer compras, principalmente, nos dias de chuva em que a região da Marina do Davi, onde trabalha, ficava toda enlameada.
Este ano, para se preparar, a vendedora decidiu sair da zona rural e mudar-se para a área urbana de Manaus antes do agravamento da seca. Apesar disso, a vendedora confessou ainda não saber como a seca vai impactar a sua fonte de rendimento, já que a Marina do Davi, um dos pontos mais afetados pela seca de 2023, continua a ser o seu local de trabalho.
No ano passado, a seca severa registada no Amazonas teve forte influência do El Niño. Este é um fenómeno climático que já existe há milhões de anos, mas que ultimamente se tem manifestado mais devido ao aquecimento global, lê-se no G1.
A mesma fonte partilha a expectativa de Flávio Altieri, analista em Ciência e Tecnologia do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazónia (Censipam), que acredita que o fenómeno deve entrar em cena no mês de setembro, podendo ser um fator determinante para amenizar a seca verificada este ano.