Um artigo divulgado esta terça-feira estima que seria necessário plantar anualmente em Portugal mais de 1,3 milhões de árvores para capturar os gases libertados na atmosfera pelos inaladores pressurizados, usados no tratamento de doenças respiratórias como a asma.

O artigo, com coassinatura do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, é divulgado na Acta Médica Portuguesa, publicação da Ordem dos Médicos, e refere que “com o aumento do volume de vendas dos inaladores pressurizados tradicionais”, que utilizam gases fluorados com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento global, “aumenta também o seu impacto ambiental“.

Segundo o artigo, que tem como referência dados de 2022, a pegada carbónica dos inaladores pressurizados tradicionais prescritos em Portugal foi estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde no país e a aproximadamente 95% do total de emissões dos inaladores.

“O impacto carbónico destes dispositivos equivale à pegada de 150 viagens transatlânticas entre Londres e Nova Iorque, e seria necessário plantar anualmente mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera”, salienta o texto.

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Por definição, a pegada carbónica corresponde ao volume total de gases com efeito estufa gerado pelas atividades económicas e quotidianas, sendo expressa em toneladas de CO2 emitidas para a atmosfera.

No artigo, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente e várias sociedades médicas listam uma série de recomendações para reduzir o impacto ambiental dos inaladores em Portugal, incluindo a prescrição de inaladores de pó seco, a aplicação de estratégias de incentivo à devolução de dispositivos usados nas farmácias e ao seu reaproveitamento e a introdução nas plataformas de prescrição de um mecanismo de alerta sobre a pegada ecológica de cada inalador, com um sistema de cores.

A lista de recomendações engloba também a promoção da literacia ecológica de doentes e público em geral, a divulgação de boas práticas de sustentabilidade ambiental na saúde e a aplicação de critérios de emissões líquidas de gases com efeito de estufa tendencialmente nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas.

Um inquérito realizado para este artigo a 348 médicos revelou que mais de 70% não têm em conta os aspetos ambientais no ato da prescrição de inaladores, embora metade assuma conhecer a pegada ambiental dos dispositivos.

O texto sublinha, a este propósito, que “os profissionais de saúde têm o dever ético de participar ativamente na luta contra as alterações climáticas e a degradação ambiental, e pela redução da pegada ecológica do setor da saúde, não só como cuidadores, mas também como ‘defensores’ dos doentes”.

O artigo teve o contributo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e da associação de doentes Respira.

Criado em 2022, o Conselho Português para a Saúde e Ambiente é uma organização não-governamental que visa, nomeadamente, “defender a necessidade do setor da saúde de reduzir a sua pegada ecológica”.