É um caso que está a abalar a política italiana e que, por conta dos contornos, se transformou num escândalo. O ministro da Cultura de Itália, Gennaro Sangiuliano, apresentou, esta sexta-feira, a sua demissão, após ter oferecido o cargo de “assessora de grandes eventos” à sua amante, a influencer e empresária Maria Rosaria Boccia.
A polémica começou quando, em agosto, Maria Rosario Boccia publicou nas redes sociais que foi contratada para o Ministério da Cultura enquanto assessora, agradecendo pessoalmente a Gennaro Sangiuliano pela confiança. Por essa altura, já havia rumores de que o ministro tinha uma relação extraconjugal com a influencer, mas o caso ganhou grande mediatismo após a publicação.
Inicialmente, Gennaro Sangiuliano negou que tivesse havido um relacionamento com a influencer, embora a oposição insistisse na demissão do ministro. Esta quarta-feira, ainda assim, admitiu, numa entrevista no telejornal da TG1, a relação extraconjugal e pediu perdão à mulher, Federica Corsini, e também à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que recusou inicialmente que o governante se demitisse.
“A primeira pessoa a quem quero pedir desculpa, porque ela é excecional, é à minha mulher. Depois quero pedir desculpa a Giorgia Meloni, que confiou em mim, e pelo embaraço que lhe causei e ao governo”, lamentou Gennaro Sangiuliano durante a entrevista, em que chegou a emocionar-se.
Apesar de ter oferecido o cargo de assessora à amante, o ministro da Cultura italiano ressalvou que era não remunerado e que “não pagou um euro” à influencer. Adicionalmente, respondendo aos receios da oposição, Gennaro Sangiuliano assinalou que Maria Rosaria Boccia não obteve acesso a nenhuma informação confidencial do Governo.
O governante deu ainda mais detalhes na entrevista sobre como conheceu Maria Rosaria Boccia. Indicou que o primeiro contacto que teve com a influencer foi em maio, durante a campanha para as eleições europeias do Irmãos de Itália, o partido de Giorgia Meloni. Gennaro Sangiuliano disse que inicialmente se tornaram amigos, mas que depois desenvolveram uma “relação sentimental”. O ministro realçou, não obstante, que terminou o affair durante o verão.
Após a entrevista, multiplicaram-se os pedidos de demissão ao ministro. Esta sexta-feira, Gennaro Sangiuliano apresentou a carta de demissão a Giorgia Meloni, numa decisão que adjetivou como “irrevogável”. Na missiva, o governante deixa dura críticas ao “ódio” que recebeu do “sistema político mediático” e agradeceu à primeira-ministra por o ter “defendido” e pelo “carinho”.
Porém, Gennaro Sangiuliano referiu que — pela salvaguarda das instituições — teve de se “demitir”, após dias “recheados de ódio” nas redes sociais e nos meios de comunicação social. “Preciso de tranquilidade, de estar perto da esposa que eu amo”, frisou, avisando que vai “agir em todas as instâncias legais” contra as notícias falsas que foram divulgadas sobre a relação extraconjugal.
“A minha honra está em jogo e considero importante poder agir para demonstrar a minha absoluta transparência sem envolver o Governo”, justificou o agora ex-governante, sublinhando, tal como tinha dito na entrevista, que não gastou “um único euro do Ministério em atividades impróprias”.